Capítulo Oito

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O som alto me invadiu assim que entrei naquele lugar, me incomodando de certa forma. Mas era nítido que isso não influenciava em nada as demais pessoas, pois a maioria dançava, conversava ou simplesmente bebia no bar. E isso me fez pensar em qual grupo eu me encaixaria no meio de tudo aquilo.

Enquanto era carregada por uma Ana entusiasmada, encarei a boate atônita por sua luxuosidade. A pista de dança que estava tomada de gente que se remexia sem pudor, possuía luzes coloridas que se moviam conforme a música. A medida em que certos pontos, era possível ver uma pequena fumaça de gelo seco se espalhando pelo salão. O ambiente todo tinha uma pintura escura, mas ao mesmo tempo suntuosa e isso acabou me deixando mais admirada do que poderia admitir.

Assim que Ana largou minha mão, começou a dançar com sensualidade. Sem se importar com quem a olhasse, como se só ela existisse ali. Tentei imitar seus passos, mas não conseguia me soltar com naturalidade. Percebendo isso, a ruiva pegou em minhas mãos e me balançou procurando me motivar.

— Se solta, garota! – gritou em meu ouvido.

Fechei os olhos e deixei que a música com uma mistura eletrônica entrasse em minha mente e aos poucos os versos foram me dominando, mesmo que não entendesse nada do era cantado. Quando dei por mim, meu corpo estava se remexendo. A sensação era de liberdade e aos poucos entendi do porquê de ela gostar tanto de casas noturnas. E isso fez com que parasse para pensar no porque de nunca ter acompanhado ela antes. A resposta veio através de um nome: Felipe. Ele sempre deixou claro o quanto detestava esse tipo de lugar e automaticamente acabei detestando junto. Ok, pode ser ridículo estar lembrando disso agora e até mesmo culpá-lo por meus anos de reclusão, mas ele foi meu primeiro namorado. Só tinha dezessete anos quando me apaixonei por ele, na época éramos só amigos, até que as coisas começaram a mudar. Dois anos depois estávamos nos envolvendo e todos sabem que nessa idade a gente acaba se deixando levar, ainda mais pelo relacionamento – não que eu esteja generalizando, mas pelo menos comigo foi assim. Logo, seus gostos eram meus gostos e tudo que ele dizia, eu gritava um amém. Era automático e Felipe nunca me obrigou a nada de fato, mas pensar um pouco nessa relação me fez perceber o quanto era influenciável. E pior, que talvez todos os meus gostos não sejam de fato os meus e essa sensação de não ter poder sobre si mesma me deixava confusa. Por isso, me limitei a mandar esses pensamentos para longe e focar naquele momento.

Tempos depois, Ana chamou minha atenção e tirou da bolsa dois cartões pretos com o nome da boate em dourado, o passe livre para a área vip. Me perguntei como que ela conseguia essas coisas, mas me limitei a dar de ombros e segui-la pelo lugar. Subimos uma escada que nos levou ao andar de cima, onde um outro guarda fazia a vistoria de quem podia ou não passar por ali. Assim que chegamos, minha amiga levantou os cartões com entusiasmo e um sorriso debochado nos lábios. Um tanto desconfiado, o homem analisou a veracidade do documento, mas como não havia nada errado, permitiu que adentrássemos. A música ali dentro não era tão alta, o que permitia uma boa conversa – e flerte. Tinha um pequeno espaço para dança, como um camarote para ver o DJ e as demais pessoas lá embaixo. Além de algumas mesas espalhadas onde a maioria se encontrava.

Fomos até o bar e sentamos em um dos bancos altos, como não sabia o que escolher, deixei que Ana fizesse o pedido.

— Duas lagoas azuis, por favor – ao dizer isso, o garçom assentiu. — Você vai adorar essa, Ju.

— Sabe, esse lugar até que é interessante.

— Interessante vai ficar quando a gente encontrar alguém por aí – me deu uma cutucada no braço, enquanto eu ria. — Aliás, avistou algum gatinho?

— Qual é, Ana? A gente recém chegou aqui.

— E?

— E... E eu não vi ninguém e nem sei se estou preparada pra me envolver seja lá como.

Não sou obrigadaOnde histórias criam vida. Descubra agora