XI

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- Quando vi você, me apaixonei – cantarolei o trecho da música "A Primeira Vista" enquanto fitava aquele bebê grande deitadinho de frente para mim, Catarina usava pijamas e estava de bruços com o bumbum para o alto. Naquela manhã fria e preguiçosa, eu prolongava nosso tempo naquela cama onde Ju a deixou depois de amamenta-la. Minha mulher saiu cedo naquele dia sendo que no anterior, chegara quase uma da manhã após uma desgastante noturna. Como meus horários estavam mais certos, conseguíamos nos revezar para cuidar de nossa filha. Passei mais uma vez a mão pelo cabelo liso e alourado e ela fechou os olhinhos com o aconchego enquanto chupava sua chupeta.

- Mamã. – pediu agora segurando meu dedo.

- Ela foi trabalhar, amor – puxei a coberta de Juliana, seu cheiro estava impregnado

– Mais tarde ela volta para a gente.

- Fred. – agora pediu por sua pelúcia.

- Porque não levantamos, pegamos o Fred e preparamos um café da manhã? Depois a Cat vai tomar um banho com o papai.

- Quelo Fred e "gango". – ela sentou se supetão, o cabelo bagunçado a deixava engraçada.

- Você quer comer morango? - ela assentiu e a peguei – Papai vai te dar. - Com ela junto a mim, fiz minha higiene matinal e tentei arrumar meu cabelo que estava uma zona. Por causa do personagem, eu só poderia corta-lo com a permissão da emissora, então continuaria assim por um bom tempo. Coloquei Catarina no chão enquanto checava algumas mensagens, tinha da minha mãe me contando sobre sua viagem, um bombardeio de informações no grupo da novela e de minha mulher avisando que sairia antes das três. Sorri com a ideia que passou por minha mente.

- O que acha de buscarmos a mamãe hoje, filha? – ela me olhou e deu alguns pulinhos desengonçados.

- Lá mamã. Quero vê lá.

- Nós iremos! – guardei o aparelho no bolso – Agora pega o Fred para a gente descer. - Ela correu para dentro do quartinho e não demorou muito para voltar andando de lado, além de sua pelúcia, ela também trouxe uma pequena lua. Seus bracinhos pequenos não aguentavam e parecia que ia cair a qualquer momento. Lembro muito bem o dia que recebemos aqueles presentes, a forma que minha mulher, namorada na época, me olhou surpresa e desacreditada. Naquele dia, pensei que ela fazia isso por não querer filhos tão cedo, mas nossa menininha já crescia em seu ventre e causava medo em sua mãe. Me recordo também dos nossos comentários assim que chegamos em casa, eu tentava brincar com a situação do pijama que foi dado junto as luas, mas ela parecia ansiosa. Fez questão de guardar cuidadosamente e hoje aquela pequena luminária enfeitava o quarto de nossa menina. Descemos, e quando pisei na sala, percebi o quão frio estava lá fora, a porta da varanda provavelmente aberta por Juliana possibilitava um ar gelado adentrar e corri para fechar, não queria que nossa bebê pegasse um resfriado ou algo semelhante. Catarina comia seus morangos picados enquanto eu preparava meu suco verde daquela manhã. Separei um copo para mim e meia mamadeira para ela, que a mãe não sonhasse com isso ou então, eu estava lascado.

- Prova, filha – entreguei e ela me olhou com desconfiança.

- Mamá? – perguntou.

- É tipo a vitamina de morango que a mamãe faz, só que verde. Olha que bonito. - Ela olhou mais uma vez para a mamadeira e para mim antes de levar o bico a sua boca, duas sugadas depois e ela afastava o acessório, fiquei quieto, ela me olhou mais uma vez e sugou novamente como se tivesse acostumada ha tempos com aquele líquido.

- Você gostou? – perguntei feito bobo e ela assentiu levando a outra mãozinha para a mamadeira – Preciso tirar foto. – ergui meu celular e bati a fotografia mandando para minha mulher e sogra. Elas ficariam bobas e talvez eu não levasse uma bronca. Passamos o resto da manhã deitados no sofá, tentei gravar algumas falas, mas Catarina sempre precisava de mim para algo, fosse arrumar o braço da boneca ou aguentar ela brincando de cavalinho em cima de minha barriga. Fiz uma massa para nosso almoço e vi minha pequena lambuzar toda a boquinha de molho enquanto conversávamos em nosso próprio idioma. Após um banho em conjunto, penteei seu cabelo e fui para seu guarda roupa ver o que podia vestir para sair naquele frio. Antes de subirmos, percebi que tinha começado a chover, isso piorava ainda mais as coisas. Passei o olho por tantas peças pequenas e coloridas, eu amava aquele mix de cores que usávamos em nossa filha, jamais a condenaríamos ao rosa ou cores "femininas". Ela era criança e usaria aquilo que fosse apropriado a sua idade. Um pouco ao canto, junto aos casacos mais grossos e roupinhas de frio, um tecido fofo com listras estava bem dobrado dentro de um saquinho. Puxei o mesmo relembrando novamente, era aquele presente que veio junto à lua que Catarina brincava naquele momento. E que nunca foi usado.

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