Adeus

Saudades

Durante todos esses anos meu próposito era você.
Agora que não te tenho mais, me pergunto: o que é viver?
Me dizem que amor próprio é o que devo ter.
Mas sinto apenas que todo meu amor eu gastei em você.
Agora me encontro neste estado, onde tudo parece tão vazio e vago;
O viver tem sido simplório e não me encontro em mim mesmo;
A comida não tem gosto e o prazer não se encontra aqui dentro...
Sinto fome, mas fome de vivência, fome do verde das folhas, fome do calor do sol e do frio da lua, fome de um toque humano em meu corpo robótico, que se move e trabalha, porém sem propósito.
Eu poderia listar facilmente tudo que sinto falta (dos dias alegres e sexuais), mas não quero lembrar mais de sua falta, nem das coisas que não sinto falta (dos dias tristes e sem contato),  exceto sua falta.
Em meio a toda minha dor e meu pesar, eu continuo imaginando e ponderando: O que é me amar?
É poder olhar pra mim mesmo e me achar belo, quando só você achava?
É aceitar a minha escuridão e meus pensamentos sombrios, quando só você aceitava?
Ainda não entendo o amor próprio, talvez seja porque dentro de mim ainda tenha tanto você ou talvez porque
meu viver sempre dependeu de você.
Talvez eu consiga passar por tudo isso.
É.
Acho que consigo sim.
Talvez exista outra pessoa que ria das minhas piadas idiotas.
Talvez exista alguém que entenda toda imensidão que passa por mim e ajude a me expandir.
Talvez alguém me encontre e me descubra, me faça fortaleza e lar, me redecore e me permita ver o mundo, ao invés de continuar apenas a te ver em tudo.
Dói.
Mas como diz aquele conto budista: "Tudo passa, apenas você mesmo permanece".
Então uma hora a dor vai passar, você vai passar, a saudade vai passar e a falta também.
E então vai sobrar apenas eu.
Sozinho.
Mas ainda eu.
E depois de tudo eu ainda vou me lembrar de você. Dos momentos bons, dos momentos ruins.
Mas nesse dia será sem falta, sem o desejo de volta, sem a sensação de necessidade e a chama de retorno.
Nesse dia eu serei só, mas preenchido de mim mesmo.
Serei só, mas rodeado de amigos.
Só, mas ainda assim feliz.