Social Disease

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"You can't start a fire without a spark

But there's something that I guarantee

You can't hide when infection starts"

Recontava as notas de dinheiro pela enésima vez naquele dia. Sua mente, naquele momento, funcionava na mesma velocidade que um caracol, pois não havia dormido nem sequer por um segundo após retornar para sua casa quando o show acabou - por muita sorte não havia topado com seu pai ao discretamente entrar em seu quarto pela janela, porque minutos após deitar-se na cama, a madeira rangente sinalizou os passos descompassados do bêbado andando pela casa.

Assim que os holofotes se apagaram, sua mente passou a trabalhar em repetir os acontecimentos daquelas três horas feito um disco riscado, resistindo ao desejo de entrar no mundo dos sonhos e dar um descanso à um Baekhyun cansado. Escutava o som da guitarra de Sehun ecoar em sua mente cada vez que perdia o foco, e focar era uma das coisas mais difíceis para o jovem naquele momento, porque tudo que queria era abraçar seus cobertores e dormir até o Sol nascer no Oeste.

Mas lá estava ele, contando dinheiro. De novo. Não que precisasse, mas temia cair no sono caso ficasse sem fazer nada no balcão do restaurante, e havia esquecido seus livros em casa por estar com a cabeça em outro planeta. Ao menos não estava tocando Annie's Song - se os acordes calmos estivessem preenchendo o ambiente, já teria tido uma concussão cerebral ao cair de cara na caixa registradora por ter dormido -, mas sim uma de suas músicas favoritas, Another Brick In The Wall.

Uma música que também havia sido tocada na noite anterior.

Conseguia associar qualquer coisa à Sehun, desde o balcão empoeirado até os fumantes compulsivos que frequentemente iam ao restaurante para beber meia dúzia de xícaras de café por dia. O motivo para não ter terminado de contar o dinheiro da caixa registradora, mesmo após inúmeras tentativas, também era o guitarrista, pois sempre que chegava na nota amassada e manchada de laranja, sua mente viajava para o dia em que o vendeu um maço de cigarros. Um final de tarde radiante, em que a luz solar deixava seu cabelo alaranjado mais chamativo ainda, a fumaça do cigarro dançando no ar quando abriu sua boca para responder a pergunta de Baekhyun, a música alta provinda dos fones de seu walkman quando tirou o aparelho das orelhas, os pequenos cortes vermelhos contornando suas unhas roídas.

Sua mente estava assombrada e o fantasma tinha nome e endereço.

Não podia sequer comemorar por seu expediente estar quase acabando - por sorte de Baekhyun, era quinta-feira, um dia em que trabalhava apenas no turno da manhã -, porque sabia que, assim que chegasse em casa, teria que engolir dezenas de livros que já havia lido incontáveis vezes, mas que sua mente ainda falhava em aprender as informações listadas.

Ou assim achava, ao menos.

As portas de vidro tremiam em sintonia com a música alta do carro azul recém estacionado na frente do estabelecimento, e cada batida violenta da bateria fazia a cabeça de Baekhyun palpitar. Tudo parou tão subitamente como quando começou. O rádio parou de bravar suas músicas rebeldes, a dor desistiu de torturar sua cabeça, os vidros pararam de dançar junto das batidas ritmadas.

E Jongin entrou no restaurante, deixando para trás um rastro de fumaça que foi cortado pelas portas se fechando. A jaqueta surrada de couro - tão surrada quanto suas calças apertadas - repousava em seus ombros, intensificando a aura intimidadora que já cercava o mais velho por natureza. Porque Jongin - ou Kai, como era chamado por outros rebeldes da cidade - era o próprio caos.

A tensão tomou conta dos ombros de Baekhyun, como se uma lei grave tivesse sido infringida diante de seus olhos. Jongin se atrever a entrar no restaurante dos Byun podia ser considerado algo tão grave quando assassinar um presidente, porque o mais velho não era bem-vindo lá, e nunca seria.

Diamond Dogs and the Hunger CityOnde histórias criam vida. Descubra agora