Rosivaldo, o "Crentomédia"

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Cerca de 10 adultos se reúnem numa sala de aula do prédio da igreja, conversando sobre trivialidades. Rosivaldo chega e, observando-os ali, procura um lugar mais confortável para sentar-se. Novato, queria estar escondido, mas com as cadeiras em formação de círculo, não havia maneira de estar fora da vista dos outros convidados ali.

Acanhado, cumprimenta protocolarmente todos ali e aquieta-se. Antes que qualquer um pudesse puxar papo com ele, a reunião começa:

- Boa noite! Quero dar as boas vindas a todos aqui, meu nome é Agenor e eu sou pecador.

Quase todos os presentes em coro respondem:

- Ele é fiel e justo para nos perdoar!

Em seguida, outro participante se levanta e fala:

- Boa noite! Meu nome é Adriano e eu sou pecador.

Os presentes repetem a frase anterior e os participantes mais antigos vão se revezando dizendo o nome e repetindo a frase "sou pecador".

"Entrei na reunião de 'Pecadores Anônimos'", Rosivaldo pensa consigo mesmo, segurando um pouco seu riso, até ouvir as palavras de Agenor.

- Sejam bem vindos, visitantes da nossa reunião dos Pecadores Anônimos. Sintam-se à vontade para participar de toda a dinâmica do grupo. Peço aos senhores que se apresentem e, se assim entenderem, confessem que são pecadores em busca de redenção.

Um dos visitantes inicia, apresentando-se conforme os outros participantes ali. Rosivaldo aguarda para ser o último dos três. Na sua vez, ele se apresenta:

- Meu nome é Valdo, Rosivaldo e sou agente secre... Opa! reunião errada...

Ele faz menção de levantar e sair enquanto os presentes riem. Depois de tempo suficiente para que todos parassem de rir, Rosivaldo se apresenta conforme o protocolo e acompanha o andamento da reunião.

- Ele escuta coisas ali que o deixam meio assustado. Homens que ele julgava serem íntegros e irrepreensíveis estavam ali, confessando atitudes e pensamentos terríveis. Desde que decidira não apenas frequentar a igreja, mas viver o cristianismo, ele nunca enxergara esses homens como tão parecidos consigo mesmo.

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Rosivaldo teve uma experiência anterior numa outra igreja, mas seu jeito cômico sempre conflitava com a visão de uma vida séria de santidade exigida por Deus. Piadas de qualquer tipo eram desencorajadas pois, na visão deles, espiritualidade era coisa séria com a qual não se podia brincar. Sentado numa lanchonete com o pastor Agenor (sim, o mesmo Agenor da reunião dos Pecadores Anônimos), ele desabafou:

- Aê, Pastor, demorei para encontrar esta igreja... Eu tava traumatizado com isso. Não podia fazer piada com nada em nenhum contexto...

- Eu imagino, Valdo, realmente existem situações que as pessoas cobram mais dos outros do que de si mesmas.

- Eu não entendo, Pastor, porque existe tanta diferença assim entre igrejas que concordam em basicamente tudo o que acreditam, mas conseguem ser tão diferentes entre si...

- Ah, Valdo... Isso é simples de explicar: Se formos avaliar detalhes de doutrinas e crenças, existiria basicamente uma igreja para cada cristão, porque ninguém consegue concordar 100% em tudo. Deus se manifesta para cada um de maneiras diferentes, mas com um único objetivo: trazer-nos para perto de Si. A existência de muitas igrejas decorre muito mais da vaidade humana de não tolerar pessoas que pensam diferente do que efetivamente a vontade de Deus. Não que o fato em si de existirem várias igrejas seja algo errado, mas acredito ser apenas um claro sintoma do quanto nós somos incapazes de compreendê-Lo.

Rosivaldo o "Crentomédia"Where stories live. Discover now