_ Pedro, corre! Anda!
Nós sempre gostávamos de aventuras, mas daquela vez fomos longe demais.
_ Vem, por aqui!
Apontei para uma escada de concreto que descia abaixo da Praça dos Três Poderes. Entramos de uma vez e trancamos a grossa e embasada porta de vidro. Pedro encostou as costas na parede e deslizou até sentar ao chão. Apoiei as mãos sobre a maquete do Plano Piloto parcialmente destruída e fiquei contente por estarmos inteiros. Minhas pernas quase não obedeciam mais.
_ Será que despistamos ele, Léo?
Silêncio.
_ Acho que sim. Nunca corri tanto na minha vida!
Olhei meu pulso e o indicador da bateria de meu exoesqueleto estava piscando vermelho.
_ Como está sua bateria, Pedro?
Ele nem olhou para o pulso.
_ Zero. Deve ter parado de piscar há uns cinco minutos atrás. A refrigeração também parou.
Silêncio. Pedro levantou os dois braços tentando um alongamento e olhou para mim.
_ Tem água?
Joguei uma garrafa.
_ Tome. É a última.
Ele pegou e acabou em um só gole.
_ O que a gente faz agora, Leonardo?
Toquei na lateral da cabeça com os dois dedos indicadores de minha mão direita.
_ Sem sinal. Ninguém virá resgatar a gente. Vamos ter que esperar um pouco e tentar ir ao Casulo de Emergência 32, a oeste.
_ Caralho Leonardo, isso fica a três quilômetros daqui e dois lances de escadas. Correndo como uma pessoa normal? Contra aquilo? Sem chances.
_ É o que temos para hoje, Pedro. Se souber de algo melhor, me avise.
Silêncio.
_ Você não pode compartilhar sua bateria por um instante? Talvez dê para carregar e chegar até o ponto.
_ A minha acabou de parar de piscar.
_ Droga! Droga!
_ Fala baixo Pedro ou vamos acabar...
A porta de vidro estourou em pequenos cacos e o som da explosão deixou-os levemente surdos por alguns instantes. O vento entrou com tudo mas ninguém estava impedindo a saída.
_ Pedro, ao sul! Venha!
Subiram o lance de escadas com um só pulo. Atrás deles uma criatura enorme, que se não os assustava pelos seus quatro metros de altura e corpo avantajado, seria por sua pele rasgada em carne viva e grossos braços. Abaixo da criatura o chão parcialmente destruído indicava que fora ele que estilhaçou a porta de vidro no subsolo.
Leonardo e Pedro correram tanto quanto puderam olhando fixo o luminoso ponto de emergência à sua frente. Atrás, a criatura era atrasada com rajadas de tiros certeiros na cabeça junto com as bombas de efeito tranquilizante que os dois ordenadamente lançavam, e corriam.
_ Só mais um pouco Pedro! Só mais um...
Leonardo sentiu um empurrão em suas costas. Era Pedro, atrás dele, impedindo que a rápida criatura perfurasse seu peitoral com a garra de osso que sobressaía no antebraço esquerdo. No entanto, era o de Pedro que fora perfurado. O impulso de raiva da criatura não deu chance de nenhuma outra reação.
O empurrão fez Leonardo cair dentro da escotilha de emergência, que logo se fechou e pressurizou.
_ Não. Mas o quê? Não! Pedro!
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Nova Brasília
FantasyConto feito em desafio de um grupo literário que participo. O desafio era escrever um conto tema natal ou ano novo, mas contendo uma das pessoas do grupo como personagem. No meu caso, tirei o participante chamado Pedro.