Aquiles passou a vida jurando que seria melhor que seus pais. Uma pessoa melhor, e um pai melhor. O homem que lhe deu a vida, ele não havia conhecido. O dito cujo sumiu semanas antes de o filho chegar ao mundo e nunca mais deu as caras. A mãe, outra desmiolada, pegou a sua trouxa e botou o pé na estrada antes de o garoto completar um ano. Mas não podia reclamar, havia sido realmente abençoado e afortunado. O irmão da sua mãe, Walter, e a esposa, Kátia, o adotaram e criaram junto da filha única, Manuela. Aquiles teve uma boa vida, com certeza melhor do que teria com os pais biológicos, mas sempre foi perseguido pelo fantasma dos mesmos.
Por sorte, encontrou alguém com as mesmas ideias que ele.
Paola era filha de um representante comercial e de uma fotojornalista. Dois apaixonados pela estrada, com dois trabalhos que exigiam muito tempo na mesma, e quase nenhum tempo com a filha. Criada por uma avó idosa e ranzinza, cercada de presentes e mimos, mas sem o principal: carinho e atenção.
Se conheceram com 11 anos, jogando basquete no centro comunitário da cidade em que viviam. De cara ficaram amigos, e não demorou para que se apaixonassem. Mas eram muito crianças para pensar em se comprometer. Fizeram um acordo, aos 13 anos, de que iriam esperar Paola completar 17 anos. Se quando isso acontecesse, ainda estivessem apaixonados, então ficariam juntos.
Começaram a namorar no dia que ela apagou as velinhas, e dois anos depois já estavam dando entrada em um apartamento, que ficaria pronto ao fim da faculdade de ambos. Ele foi estudar Análise e Segurança de Sistemas, ela cursou fotografia e abriu um estúdio voltado para famílias. Subiram ao altar com 24 anos, e aos 25 celebravam o resultado positivo no exame de gravidez.
Foram presentados com gêmeos, Pietro e Ágata. Descobriram que a paternidade era algo desafiador, mas incrivelmente recompensador. E com os corações cheios de alegria e amor, novamente se questionaram sobre o que haveria se passado na cabeça dos seus próprios pais de tê-los abandonado da forma que o fizeram.
E mesmo com a loucura dos gêmeos, resolveram ter mais um, e quando Pietro e Ágata completaram cinco anos se tornaram irmãos mais velhos de Paulinho. Aquela era a cereja daquele bolo lindo que Aquiles e Paola batalharam tanto para construir, e nem mesmo quando o garotinho foi diagnosticado no espectro autista, aos dois anos, eles se deixaram abalar.
Aquela era a melhor fase de suas vidas, após tanto sofrerem e se remoerem, e agora tinham uma família feliz e cheia de amor, e com certeza eram melhores do que seus pais tinham sido.
Pelo menos era o que todos, incluindo Paola, pensavam. Até o dia em que ela chegou do mercado com os filhos e Aquiles havia ido embora de casa.
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Ciranda do Destino
RomanceHá quem acredite que o destino de uma pessoa está escrito desde o dia em que ela nasce. Outros, acreditam que o destino é construído dia a dia, a cada escolha feita. Os primeiros se resignam a aceitar tudo o que acontece em suas vidas, enquanto os s...