apartamento 803

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Fixei o último post-it na última caixa de papelão ondulado. Escrevi “cachecóis” com a caneta rosa neon.

Eu amo usar cachecóis, mas ultimamente anda fazendo muito calor, espero que o frio do inverno volte logo.

Sentei-me no chão do meu quarto, próximo de ser o antigo quarto, o qual eu passei minha vida toda. Olhei em volta melancólica. Queria gravar a cor rosada desbotada das paredes e todas as memórias que construí naquele cômodo desde o meu nascimento.

Era sexta-feira e meu último dia naquela casa. Duas semanas antes, meu pai contou a nós num almoço de família que recebeu uma proposta de trabalho em Busan. Eu e a mamãe ficamos muito felizes por ele, era uma oportunidade e tanto. Foi então que caiu a minha ficha. Eu teria que me mudar para Busan. Teria que largar minha casa e meu único amigo, Jung Hoseok, que também é meu vizinho.

Aquilo me deixou angustiada até hoje, o dia da mudança. Minhas coisas já estavam encachotadas, mas eu não tinha coragem de colocá-las no caminhão.

Eu não queria deixar Seul.

Hoje era o dia limite para que minha carta de admissão na faculdade chegasse. Se o carteiro não tocasse a campainha até às cinco da tarde, eu não tinha passado na tradicional e melhor universidade da Coreia, que fica em Seul.

Foi aí que mais problemas vieram. Era minha segunda tentativa de passar para a Universidade da Coreia. A primeira foi no final do terceiro ano do ensino médio. Eu fiz cursinho e me esforcei, mas infelizmente não obtive pontuação suficiente para passar no curso que eu queria: design. Meu pai ficou decepcionado, minha mãe sempre deixou claro que não era para eu desistir. Eu até passei para outras universidades, como a de Busan, esse ano. Mas eu não queria cursar nelas, eu queria a melhor. Queria que meu pai sentisse orgulho de mim. Passei o ano anterior inteiro estudando em cursinhos, eu senti confiança em mim mesma. Hoseok, que faz faculdade de dança lá, me ajudava nas matérias que ele tinha mais afinidade.

Dessa vez eu vou passar.

Mas agora, mesmo que eu passe será difícil convencer meus pais, que não deixam eu andar sozinha, a morar aqui em Seul.

Desci as escadas desanimada. Minha mãe tinha acabado de fazer chá e colocou uma xícara para mim. Sentei-me no sofá, que já estava emplastificado.

– Que desânimo é esse? –perguntou sorridente. – Lembre-se de que o prazo de matrícula para a Universidade de Busan está acabando, assim que chegarmos, você tem que resolver isso.

– Eu sei. – respondi bebericando um pouco do chá. – Mas eu já disse que irei passar para Seul, mãe, acredite em mim.

– Eu acredito. – ela suspirou tremendo os lábios – mas querida, pense um pouco, até hoje a carta...

Ela foi interrompida pelo barulho da campainha.

ESSE MOMENTO É MEU.

Deixei a xícara na mesa de centro de qualquer forma e fui abrir a porta meio desesperada.

Minhas mãos tocaram a maçaneta, trêmulas e suadas. Coloquei o meu melhor sorriso no rosto e abri a porta.

Assim que percebi que a silhueta não era do carteiro e sim da senhora Kim, ri de nervoso.

Minha chance de continuar em Seul tinha morrido, TINHA SIDO PISOTEADA E JOGADA PARA OS TUBARÕES.

– Boa tarde, senhora Kim. – limpei o suor das minhas mãos na barra do vestido soltinho que usava. – Entre! – disse um pouco sem graça.

Afinal, eu gostava muito dela, porém não era ela que eu queria.

– Boa tarde, _____! Cada dia que eu a vejo, você fica mais linda. Queria ter sua juventude. – A senhora, que era só um pouco mais velha que minha mãe, tocou meu rosto com delicadeza.

Fifth Season - imagine seokjinOnde histórias criam vida. Descubra agora