As nuvens cinzentas vieram sem aviso nenhum, deixando a tarde escura. O cheiro de terra molhada inundou a casa, mas não tive nem tempo de aproveitar o momento, gotas enormes marretavam o telhado, e o vento as jogavam contra as janelas impiedosamente.
Corri pela casa tentando fechar as janelas o máximo que as fechaduras velhas me permitiam. Fechei as da cozinha primeiro porque o som das panelas batendo ficou ensurdecedor, quando voltei a sala de estar, ouvi um tamborilar no andar de cima. Era óbvio, casas velhas tem goteiras. Peguei todos os potes e panelas que pude, e subi pulando lances da escada. Fechei as janelas que molhavam o banheiro e o velho quarto da minha irmã, coloquei uma panela bem no meio do corredor e uma no meu antigo quarto. Desci tentando não tropeçar e cair, arrastei as caixas de livros e roupas que não havia desmontado ainda para um canto, Silvia viria ajudar a me ajeitar na velha nova casa amanhã cedo. Uma goteira se formara no centro da sala, pingando direto do candelabro, parei para verificar de onde ela vinha, quando um trovão fez com que a casa tremesse, e num flash a casa toda ficou toda escura, apenas com a luz que vinha do resto de luz solar nas janelas sem cortinas.
Achei que podia respirar aliviado, quando um barulho alto veio do quintal de trás, algo como a asa de um pássaro enorme se batia do lado de fora. Saí pela única porta da varanda que ainda funcionava e percebi que o velho toldo havia se soltado das ferragens e agora se debatia enlouquecidamente contra si mesma. Em uma casa longe de prédios e arranha céus, o vento vinha diretamente da mata atrás de nós e castigava a casa. As cadeiras de vime e suas almofadas estavam encharcadas, mesmo assim peguei tudo o que podia estragar e joguei na lavanderia. Já estava completamente molhado, mas precisava fechar aquela geringonça. Arremessei o toldo na direção da casa e forcei as ferragens, que não queriam se mover. Com um xingamento, dei de ombros, agora que o toldo não estava mais se debatendo feito um peixe fora d'água, podia voltar para dentro.
Entrei para a cozinha novamente e me virei para a porta, a chuva continuava a cair, mas sem tanto estardalhaço. Tirei os cabelos do rosto e os joguei para trás, olhei para o gramado, contemplando a nostalgia que aquela cena trazia. Ao longe as árvores pareciam menores que eu conseguia me lembrar, mas ainda tão densas. Foi quando algo grande, vindo de minhas memórias mais remotas, uma parte de minha infância já esquecida, mas guardada com tanto carinho, se escondeu atrás de uma árvore e saiu em direção ao coração do bosque, movendo as arvores do caminho.
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História sem título e sem capa ainda
FantasyUma história sobre monstros e amigos imaginários