Mary Jane
Não lembrava muito bem como tinha chegado em casa, mas olhando pela janela do meu quarto avistei a moto no lugar dela. Cristo! Eu poderia ter morrido.
A dor de cabeça que eu estava sentindo era de outro mundo. Tomei um banho frio e lavei o cabelo. Quando desci, senti um cheiro de comida que fez meu estômago embrulhar. Giovanni estava assistindo, e o papà estava preparando o café da manhã.
Parecia que as coisas estavam normais.—Bom dia, ragazza! —Papà disse, ele parecia animado.
—Bom dia, papà. —Sentei-me no balcão, observando-o terminar de preparar a comida.
—Sabe do que eu senti muita falta? —Foi uma pergunta retórica. —De preparar comida para vocês. Se tem uma coisa que eu gosto, é cozinhar. Se eu não fosse um homem de negócios, eu seria chefe de cozinha. —Não consegui conter a risada.
—Não lembrava desse seu humor, papà. —Eu disse.
—Claro que não... —Giovanni resmungou sozinho.
—Parece que vocês não se acertaram. —Papà colocou tudo na mesa e se sentou, eu me juntei a ele e fiquei olhando para o meu irmão. —Giovanni, vem para a mesa comer. —Antes que ele negasse, supliquei. —Por favor...
Ele revirou os olhos e sentou conosco, papà fez a oração e começamos a comer. Giovanni comeu calado, mas só dele ter sentado a mesa eu já estava agradecida.
—O que vocês irão fazer hoje? —Papà perguntou tirando as coisas da mesa, Giovanni levantou e saiu de casa.
—Chegou mercadoria nova, vou dar uma parte do que vendi lá, e pegar mais para levar ao bar. —Eu disse ajudando-o.
—Mary Jane, você guarda tudo no bar? —Ele perguntou um pouco preocupado.
—Sim, mas eu tenho tudo sob controle. —Me gabei.
—Eu sei que é errado, mas porra, eu tenho tanto orgulho de você, mia ragazza. —Ele disse me dando um beijo na testa.
—Papà você pretende voltar aos negócios? Ou vai deixar com Giovanni? —Finalmente perguntei.
Ele suspirou e passou a mão na cabeça.
—Isso tem tirado meu sono. —Ele confessou. —Giovanni tem levado tudo muito bem, sei que ele também tem amor a isso, quero reconquistar meu bambino, mas tirar o posto dele seria como começar uma guerra. Mas eu também esperei anos para voltar ao meu lugar, entende? Sinto saudades de correr riscos.
—Eu vou ver no que posso ajudar papà. Agora eu preciso ir .—Peguei as chaves da moto. —Não quer ver sua bambina trabalhando? —Ele sorriu e largou o pano no balcão.
Deixei que ele pilotasse a moto e nos guiasse para o galpão.
Quando chegamos, todos receberam meu pai muito contentes.—O chefe voltou ao serviço! —Luigi gritou e todos comemoram.
—O chefe nunca foi embora, Luigi! —Giovanni disse com fogo nos olhos. —Ou vocês estavam sozinhos esse tempo todo, porra? —Ele gritou enfurecido, e eu arregalei meus olhos. Ele saiu pisando forte e bateu a porta causando um barulho estrondoso no galpão.
—Está tudo bem galera, podem voltar ao trabalho. Alguém pode me mostrar as mercadorias? —Meu pai mudou de assunto.
—Alguém já separou as minhas mercadorias? —Perguntei.
—Está tudo aqui Mary Jane. —De Luca mostrou.
—Coloca no caminhão das bebidas, já já partimos. —Eu disse e sair do galpão em busca de Giovanni. Encontrei-o nos fundos acendendo um cigarro de maconha. —Giovanni, eu já entendi.
—Me deixa em paz, Mary Jane. —Ele disse irritado.
—Você está com ciúmes! —Brinquei.
—Claro que estou. —Ele disse com sarcasmo.
—Giovanni, papà não está aqui para te tirar tudo, ele está para te ajudar. Você precisa entender que ele está nisso desde a sua idade, aquelas pessoas amam ele, tem ele como um pai também. Mas isso não significa que eles não te amam, você é incrível, e foi tudo para nós durante todos esses anos.
—Eu não ligo se ele vai voltar ao seu posto de chefe e me deixar de lado, Mary Jane. —Ele cuspiu. —Eu só não aceito que depois de quinze anos ele volte, encontre tudo em seu devido lugar e queira levar o crédito por isso, ou queira dar um de bonzinho, que é o que ele está fazendo.
—Ele não está fazendo isso Giovanni...
—Você tinha cinco anos, Mary Jane! —Ele gritou na minha cara pela primeira vez em vinte anos. —Você não lembra quem era Salvatore Ricci, você não lembra que a mamãe morreu por culpa dele!
—Do que você está falando? —Perguntei incrédula.
—Viu só? Você não lembra de absolutamente nada, Mary Jane. Então não me cobre amor e respeito com aquele homem! —Ele jogou fora o cigarro e saiu.
Do que Giovanni estava falando?
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Filhos da Máfia
RomanceDelicada, frágil e ingênua, são os únicos adjetivos que não fazem sentido ao se referir a Mary Jane. Uma italiana, nascida e criada no meio da máfia, o pai tentou levá-la por outros caminhos, mas não teve como evitar, estava no sangue da família Ric...