Cinzas de Anjo

Capítulo 23-Mon ami

  Tentamos ir até o local pelo qual entramos e ao chegar lá percebemos que não conseguiríamos subir de volta, já que não havia escada alguma.Para completar Marco mal conseguia se manter de pé de tão fraco que estava.

-E agora?-perguntei irritada

-De que nos adiantaria sermos anjos e não podermos usar nossas asas?-Dimitri perguntou, com um sorriso travesso

  Os três anjos libertaram suas asas e, como sempre, fiquei hipnotizada com elas.Lindas, grandes, volumosas, brilhantes e hipnotizadoras.

  Dimitri me pegou no colo e voou comigo até a saída estreita.A passagem era pequena demais para nós dois, então Dimitri me botou para fora cuidadosamente e desceu novamente.Tentei olhar para baixo e ver o que acontecia, mas estava tudo escuro e nenhum dos celestes iluminava o local.

  Logo depois Joseph saiu e o ajudei a passar pelo local, segurando sua mão, em seguida foi a vez de Marco e tivemos que ajudá-lo,senão cairia devido sua grande limitação.

  Depois os anjos saíram sozinhos e tivemos que pensar em como sair daquele lugar.

-Não podemos sair pela porta da frente-Dimitri falou

-E quem tem plano melhor?-perguntei-Temos que sair daqui,quando fizermos isso vai ser fácil sair dessa camada-e me lembrei de uma coisa e olhei para Joseph -Falando nisso, como faremos para sair desse lugar?

  Ninguém disse nada e então percebi que ninguém fazia idéia de como sair do inferno.

-Porra!-esbravejei-Vocês resolvem vir até aqui e não pensam em como sair? Caralho!

  Todos pareciam irritados e amedrontados.Resolvi que ficar com raiva de nada adiantaria.Passei a mão pelos cabelos bagunçados e tentei pensar em alguma coisa, mas não consegui. Só conseguia achar que a melhor opção era acharmos a saída daquele lugar e quando estivéssemos fora dos domínios de Felipe, então poderíamos resolver o resto.

  Todos concordaram comigo e andamos, cuidadosamente, pelo corredor.

  Ao chegar na sala vimos que não havia ninguém e fomos até a porta.Eu sabia que estava tudo fácil demais,estranhei,mas tentei me manter calma e sair dalí.

-Ora,ora,ora-ouvi a voz de Felipe atrás de nós-Eu sabia que tentariam fugir, mas vocês sempre me surpreendem.

  Ficamos todos em silêncio, enquanto ele pegava uma bebida calmamente.

-Agora,por favor,voltem aos seus cômodos e me poupem o estresse.

  Todos ficaram parados,mas dei as costas para ele e tentei abrir a porta.Ao fazer isso senti uma dor aguda no meu peito que me fez cair de joelhos e gemer de dor.

-Eu mandei vocês voltarem-ele falou

-Para!-pude ouvir Joseph gritar-Deixa ela em paz,porra!

  A dor se espalhava por meu corpo e, do nada, passou.

  Me senti cansada e apoiei as mãos no chão, com a cabeça baixa.Joseph se ajoelhou e tentou me ajudar.

-Andy-ele sussurrou-Você está bem?

  Não consegui responder, pois ainda me sentia cansada.

-Fala comigo. Por favor, fala comigo.

  Levantei a cabeça lentamente e olhei para ele.Sem dizer uma palavra me levantei lentamente e virei,olhando, de modo sombrio, para Joseph.

  Fios do meu cabelo caiam na parte direita de meu rosto, pude sentir meus lábios rachados, minhas mãos tremiam, meus pés estavam sujos, minha respiração ofegante e meu vestido levemente rasgado.

  Apesar de minha aparência me senti mais corajosa do que nunca.Eu não sabia de onde aquela coragem havia vindo, mas tinha que aproveitar o momento de ira e valentia.

-Dimitri-falei,sem tirar os olhos de Felipe-Preciso de uma espada.

  Felipe também não tirava os olhos de mim.Ele tinha um sorriso maldoso no rosto e,ao bebericar seu drink,continuou me encarando.

-Gosto da sua ousadia. Vamos ver quanto tempo ela irá durar-ele falou,após engolir o líquido

  Dimitri havia me entregado uma espada enorme e pesada,mas não me importei com seu peso.A segurei firme e fui até Felipe lentamente.Pude ouvir Joseph tentando me impedir, mas o ignorei.

-Você sabe que não seremos apenas nós dois, não é?-Felipe disse e na mesma hora vários demônios apareceram no cômodo.

  Todos nós lutamos para nos defender.Pude ouvir os anjos e Joseph atrás de mim, tentando salvar suas vidas.

  Por um segundo pensei como Marco estava se virando, devido sua condição, mas não tive tempo de olhá-lo,já que tive que me defender de três demônios que me atacavam com fúria.

  Desferi alguns golpes em seus pescoços e, logo após, em seus peitos.A cada segundo eu chegava mais perto de Felipe, que estava imóvel, como se nada estivesse acontecendo.

  Assim que fiquei cara a cara com ele ouvi a voz de Natanael e Joseph gritando e, instintivamente,olhei para trás.

  Pude ver Dimitri no chão e corri até ele.Me ajoelhei ao seu lado e vi um grande ferimento em seu peito.Ele sangrava descontroladamente e tentava falar algo.

-Shhh-minhas lágrimas caiam desenfreadamente-Calma,vai dar tudo certo.Vamos sair daqui juntos.Todos nós.

  Ele continuava tentando falar, mas devia estar com dor. Joseph, Natanael e Bianca também se ajoelharam perto de seu corpo machucado.

-Me...desculpem-ele falou com dificuldade

-Não!-eu chorava copiosamente-Por favor, não-deitei minha cabeça em seu peito e senti o sangue me sujando, mas não me importei-Por favor, Dimitri, por favor-sussurrei

-Joseph-ele conseguiu falar e estendeu a mão, Joseph a pegou e segurou firme-Me desculpe, mas eu nunca a amei.Não como você ama.

-Esquece isso, cara-olhei para Joseph e ele chorava assim como todos na sala-Fica calmo, vamos te tirar daqui.

- Vous devez vous rappeler. Rappelez-vous, il. S'il vous plaît-Dimitri falou algo em francês e não entendi nada,mas continuava chorando

  Natanael também chorava,mas tentava disfarçar.Dimitri ficava cada vez mais pálido.

  Ele tentou levantar uma mão para acariciar meu rosto ensanguentado e molhado pelas lágrimas.

-Fiquem bem. Me prometa,querida.

-Dimi-sussurrei,olhando para seu rosto

-Por favor, querida.Prometa.

-Prometo.Eu prometo-falei e seu rosto pareceu se acalmar

  Ele virou o rosto e fechou os olhos lentamente.Seu semblante era calmo, mas eu estava desesperada, junto com todos os outros.

  Chorei mais ainda e sussurrei em seu ouvido, mesmo que ele não estivesse mais me ouvindo.

-Eu te amo,mon ami.Nunca,nunca vou te esquecer e vou fazer seu sacrifício valer a pena.

  Atrás de nós ouvi Felipe gargalhando e o olhei.Ele ia me pagar.

  Ia me pagar pela morte de meu amigo.