Amor á primeira vista

5 2 0
                                    


Se você se encantou pelo subtítulo, sinto muito decepciona-lo. Se eu acredito em amor a primeira vista? Claro que acredito mas, com outras pessoas ou, pelo menos, nos filmes que já vi. Seria hipocrisia, da minha parte, afirmar que encontrei o amor da  minha vida na primeira olhada ou no primeiro gesto. Até que seria legal se isso tivesse acontecido comigo mas, infelizmente, levei 7 anos para saber que já tinha encontrado o grande amor da minha vida. Realmente, aquele sorriso de lado encantador, aquela forma tímida que Ela colocava o cabelo atrás da orelha enquanto me dizia o quão doido e maluco eu sou, ou aquele jeito insuportável de encarar os problemas com um sorriso e um "vai ficar tudo bem", nada disso foi bastante para perceber o quão eu tinha sorte de tê-la em minha vida.

Os anos foram passando como se não existisse barreira entre o presente e o futuro. Fomos nos distanciando cada vez mais. De alguma forma, o destino ou coisa semelhante nos distanciou. Talvez ele estava esperando que tivéssemos maturidade suficiente para encararmos algo tão forte. O problema é que essa maturidade fugia de mim, assim como eu fugia do mundo.

Nunca fui de reclamar da vida mas também nunca fui fã dela. Venho de uma família humilde. Dificuldades faziam parte do meu cotidiano, apesar de querer esconder de todos as minhas limitações e angustias. Desde de cedo tive que pegar responsabilidades que não pertenciam a mim.

Minha família sempre foi problemática, sou filho de mãe solteira, meu "pai" foi embora e não estou me vitimizando. É, com certeza não estou. Não quero que tenham pena de mim, não quero ser visto como um coitado. Apesar de estar escrevendo isso ouvindo a música Say You Won't Let Go, com ventilador ligado, um copo de leite quente numa cadeira em um quarto repleto de poeira , roupas pelo chão, com o cabelo grande, barba mal feita e uma insuportável mania de querer me enganar.

Viso um belo futuro, confortável em minha casa com um cachorrinho e um guri para chamar de meu filho, apesar de sempre estar pensando no passado, tropeçando naquelas árduas linhas do passado. Por falar em passado, vamos voltar no passado. Depois de muito tempo, revi aquela Menina. Nossa, como Ela estava absurdamente mais linda do que nunca. Fiquei sem reação. Lá estava eu, aluno do 1º ano do ensino médio na fila da merenda. Nessa de ficar sem reação, fui deixando para depois, por mais que o destino ou uma força maior fizesse com que nos víssemos nos corredores. E nessa de deixar para depois, mais um ano se passou.

No ano seguinte, descobri que iria estudar na mesma sala que Ela. E, como um bom garoto do ensino médio, não pude deixar de puxar assunto com Ela. Fizemos amizade, afinal, tinhamos muitos amigos em comum, os mais nerds, loucos e amáveis que alguém poderia ter.

O ultimo ano do ensino média havia chegado e o clima pesado de "o que vai ser do futuro?" estava no ar. Foi ai que decidi aproveitar aquele ano, o máximo possível. Surgiu uma oportunidade de fazer um cursinho pré-vestibular em uma cidade vizinha. Esse curso era nos finais de semana. Me inscrevi para participar da seleção para esse cursinho e fui aprovado. Sabe quem também conseguiu passar? hahaha, aquela Menina que tanto esbarrei. Ela e outros colegas da minha classe.

Nesse período, eu não morava na cidade. Morava na zona rural. 14Km da cidade, para ser mais específico. E, não, não tinha transporte para a zona rural nos finais de semana, pelo menos, não de graça. Ficava na casa de minha madrinha, que sempre foi como uma mãe para mim. Ficava na casa dela na sexta e voltava para casa na segunda.

Esse cursinho foi um dos melhores momentos da minha vida. Cansativo, mas valia cada viagem. Íamos no ônibus disponibilizado pela prefeitura. Fiquei mais próximo que nunca daquela Moça. E, quando entravamos no ônibus, de alguma forma, Ela sempre queria sentar do meu lado. Até um dia que Ela não sentou e sentir uma grande necessidade de estar com Ela, ver a forma que Ela sorria e organizava seus materiais.

Nunca fui um amigo falso. Chegava a ser até chato por falar a verdade para quem me cercava, talvez seja por este motivo que fiz amizades tão incríveis e verdadeiras. Não gostava de deixar um amigo na mão. Por isso, sempre conversava com todos. Infelizmente, ou felizmente, eu conversava com todos. O problema é que sempre me importei mais com os outro que comigo mesmo. E por isso fiquei sem chão quando meu amigo disse que estava gostando justamente daquele menina. Poxa, de tantas meninas, tinha que ser justamente aquela? aquela que sempre esteve ali mas, por fraqueza e estupidez da minha parte, nunca a valorizei como deveria.

Mais um tempo de passou e continuei calado, na minha, sem manifestar nenhuma reação ou emoção. Até que um dia, na sala de aula, ela deixou bem claro para ele que não queria nada com ele. Todos ficaram olhando, principalmente eu, sem saber se pulava de alegria ou abaixava a cabeça por meu "amigo'. Nesse mesmo dia, quando cheguei em casa, mãe tinha passado mal. E mãe sempre foi o meu maior motivo para lutar. foi um dia exaustivo e inesperado mas terminou bem.

No dia seguinte, numa sexta-feira, quando cheguei na sala de aula, meu amigo veio falar comigo com um tom de raiva dizendo "pode ficar com ela". De alguma forma, ele viu um sentimento que e tanto tentava esconder, até mesmo de mim. E logo em seguida Ela entrou na sala. E mais uma vez eu a observava como se fosse a ultima vez que eu iria ver aquele sorriso branco.

Fui para  casa e minha madrinha convencido que a amava. Que amava aqueles olhos, aquele sorriso, aquele perfume. Que eu amava tudo dela, até os seus defeitos. Era mais um motivo para ser feliz, ou pelo menos tentar. No cursinho, na hora do almoça, pedi para conversar com ela mas ela pediu para esperar um pouco e esperei. Mas enquanto eu a esperava, pensei na covardia que seria, com o meu amigo, falar sobre o que sentia e, mais uma vez, me calei. Pode parecer loucura. Mas eu sou louco mesmo.

Ela sempre foi mais decidida que eu. Com um jeitinho birrento e lindo de ser, ela veio me pressionar para dizer o que queria falar com ela. Tentei disfarçar mas Ela sempre foi mais esperta que eu. E eu sempre fui mais teimoso que ela. Ela deixou pra lá mas senti que Ela sabia do que se tratava. E eu ficava P da vida por não ter coragem de me entregar a esse sentimento.

Resolvi tomar coragem e mandei uma cartinha para ela, pedindo ela em namoro. Ela estava na primeira carteira e eu estava na quarta. Mandei a cartinha pelas meninas que estavam entre nós e, carta vai, carta vem, Ela disse que iria pensar. Fiquei muito feliz por saber que poderia ter Ela em minha vida. Fui para casa com um sorriso da ponta da orelha á outra.

Quando cheguei na sala, no dia seguinte, sentei perto dela e lá vinha o tal colega que gostava dela e que tinha levado um fora. Ele pediu para conversar com Ela á sós. E eu com minha cara dura disse que podia falar na minha frente porque Ela não me esconderia nada. Ele insistiu e me apresentei como namorado dela, sem Ela ter dito o "sim'. Ele perguntou a Ela se era verdade e Ela confirmou com a cabeça. Ele saiu com raiva, enquanto eu olhava para ela com cara de bobão apaixonado.

Até as nuvens me faziam lembrar dela, o cheirinho da chuva, o barulho do papel amassando, um ônibus qualquer da prefeitura. Não tinha nada melhor que fechar os olhos e imaginar o momento que ficávamos abraçados enquanto sentia o seu perfume na bochecha, mas tinha que ser na bochecha porque era o lugar em que Ela não passava esses perfumes industrializados, ali estava o aroma mais claro e verdadeiro do que eu mais amava.

Estávamos juntos e não havia nada no mundo que me fizesse chorar. Eu sei que é meio clichê mas eu á amava muito e ainda amo. Encontrei o amor da vinha vida em milhares de fragmentos de "amor á primeira vista".

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Feb 04, 2019 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Nuvens do OutonoWhere stories live. Discover now