Loira do banheiro?

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Já fazia quase um mês que Otabek havia começado seus estudos como primeiranista no Internato e desde então muitas coisas aconteceram. Dentro do tempo decorrido não havia interagido muito com ninguém, a não ser por seus veteranos, Isabella e Jean, que constantemente chamavam Otabek para sentar junto de si no restaurante. Por outro lado, os boatos de que o moreno era o único aluno que não tinha sido perturbado pelo fantasma do 305 voaram pela escola, junto da grande questão: seria ele muito corajoso, a ponto de ignorar a assombração? Ou teria ele expulsado o espírito do quarto assim que chegara? Ninguém sabia ao certo a resposta para a enquete, o que deixava um espaço aberto para diversas especulações sobre o mais novo mistério daquela escola. Tinha quem acreditasse que Otabek era desde um exorcista, um caça-fantasmas ou até mesmo um bruxo! Mal sabiam todos que o novato na verdade era apenas sonâmbulo, a ponto de ver todas as bizarrices e ignora-las, trata-las como nada mais que sonhos.

— Eu tive outro sonho estranho. – a voz do moreno ressoou calma e baixa, em contraste com o restaurante barulhento, tomando a atenção de JJ e Isabella para si. Desde a sua primeira noite no 305 havia se tornado um hábito para o cazaque compartilhar com os veteranos o que sonhava, após as longas noites de sono.

— O que aconteceu dessa vez? – foi Isabella quem teve a coragem de perguntar, olhando desconfiada para o calouro enquanto tomava um gole de seu latte macchiato recém entregue pelo garçom, mordendo uma das pontas do croissaint de massa folheada em seguida.

— Eu não sei explicar muito bem, mas tinha um rapaz loiro sentado na beirada da minha cama, me olhando com cara de quem estava muito irritado. O rosto dele tava bem machucado e tinha sangue por todo lado no quarto também, inclusive nas minhas mãos. Daí de repente ele veio pra cima de mim segurando uma faca, com a expressão mais zangada que já vi, mas eu só me lembro de ter rido. – comentou Otabek, o rosto sem expressar nenhuma mudança de humor.

— O QUE? O FANTASMA VEM PRA CIMA DE VOCÊ COM UMA FACA E VOCÊ RI? – JJ levantou a voz, não antes de ter se engasgado com seu chá de mirtilo, espantado com o relato, mas logo dando um sorriso amarelo ao notar que havia chamado muita atenção, atraindo olhares pouco amigáveis de estudantes das mesas vizinhas.

Mas Otabek apenas deu de ombros, pegando uma faca sem ponta e mostrando-a pro casal, não antes de passar geleia de morango em sua torrada multigrãos, dizendo por fim:

— Era um loiro descabelado, cheio de sangue no corpo, me ameaçando com uma faca de passar manteiga no pão igual a essa. Pra mim teve o mesmo efeito de imaginar a Samara entalada numa televisão pequena ou lembrar do assassino da colher*.

Aquilo foi a gota d'água pro casal, antes assustado, começar a rir sem conseguir parar, em uma verdadeira crise de risos. Não sabiam ao certo o que era mais engraçado, a história em si ou a cara imutável de Otabek contando os fatos supostamente cômicos. Não havia expressão nenhuma, só aquela mesma face entediada do cazaque, o que dificultava a simples ideia de imagina-lo se acabando de rir durante o suposto "sonho". Sonho esse que só o moreno considerava sonho, mesmo com seus veteranos lhe dizendo que a assombração era real.

Destoando totalmente do trio, havia ainda, sentado junto a mesa, um fantasma extremamente irritado com o que acabara de acontecer. Seu humor já não era dos melhores e estava pior ainda naquele dia, já que sentia-se extremamente desapontado com Otabek, que nunca se assustava com suas tentativas de susto. Irritava-o ainda mais saber que o moreno tratava suas aparições como meros sonhos. Como ele ousava tratar Yuri Plisetsky como apenas um fruto de sua imaginação?! Ele era real, existia de verdade!

Sem aguentar mais aquilo, se levantou de sua cadeira sem nem mesmo arrasta-la, andando pelo restaurante até a saída, indo em direção ao seu quarto. Desde a primeira noite de Otabek no 305, havia se tornado rotina pro Plisetsky acompanha-lo no café da manhã e ouvi-lo contar para JJ e Isabella sobre si. Na maior parte das vezes acabava tendo um chilique que o impulsionava a planejar a próxima tentativa de susto, mas naquele dia se sentia extremamente desmotivado, isso porque suas ideias estavam escassas demais.

O Fantasma do Quarto 305Onde histórias criam vida. Descubra agora