Mais um dia se iniciava na casa da família Paz, e aquele era particularmente especial. Naquele dia, Pietro e Ágata completavam seu 17º aniversário, e receberiam diversos amigos em casa. Os dois tinham passado os dias anteriores em polvorosa, indo em lojas comprar coisas para a festa, e levantaram com o sol nascendo para começar a arrumar tudo.
Paola observava os dois com um sorriso distraído no rosto, pensando no quanto era grata pelos filhos que tinha. Ser mãe solo de três não era fácil, ainda mais tendo um caçula neurodiverso, e às vezes temia negligenciar os mais velhos. Mas havia sido abençoada com dois anjos (um pouco arteiros) e os filhos nunca a cobraram ou acusaram de nada. Se esforçaram para se comportar bem e ser compreensivos, e a ajudaram muito com Paulinho.
Quando Aquiles foi embora, Paola achou que seria o fim, que não conseguiria se levantar de novo. Mas os filhos, com sete anos na época, estiveram ao seu lado no meio da tempestade, e juntos, os quatro, conseguiram se reerguer, e hoje tinham uma vida feliz.
A situação financeira não era das melhores, considerando todo os custos que os tratamentos e terapias do caçula geravam, mas ela se desdobrava em mil para não precisar negar nada a nenhum deles, especialmente os mais velhos. E então, com a ajuda dos avós paternos e dos padrinhos, os gêmeos iriam comemorar mais um aniversário cercados pelos diversos amigos.
─ Madrinha? – Milena apareceu na porta da cozinha, puxando Eric pela mão – Chamamos na entrada, mas acho que você não ouviu.
─ Estou distraída, querida. – Paola se adiantou até os dois adolescentes, beijando os seus rostos – Eric, meu bem, quer ficar sem os óculos agora? Não tem ninguém aqui ainda e eu sei que os óculos te incomodam.
─ Eu acho melhor não, tia. Já me disseram que a aparência dos meus olhos não é muito agradável, então prefiro poupar vocês disso.
─ E o Foguete?
─ O deixamos preso na entrada, para não assustar o Paulinho. – Milena indicou o jardim da frente, onde o cão-guia de Eric estava deitado à sombra – E como o meu priminho está hoje?
─ Está tendo um bom dia, até agora. Ficou no quarto, com o teclado, enquanto os meninos arrumam a casa. Sua avó falou que vai ficar lá com ele na hora da festa, se o barulho ficar muito alto para ele.
─ E os aniversariantes?
─ Arrumando os fundos. Podem ir lá com eles se quiserem.
Os dois amigos saíram para o quintal, e Paola tornou a se apoiar na pia, suspirando. Viu que Eric havia deixado a sua bengala na mesa e a pegou, sentindo os olhos marejarem. Outra vítima inocente do descaso do destino, outra criança que não merecia tudo o que lhe aconteceu. Nem ele, nem os seus filhos, nem os seus sobrinhos, nem Ella...
Ouviu mais vozes no quintal e viu que Marcos havia se juntado aos demais na arrumação. Não demorou para sentir alguém abraçar sua cintura e sorriu ao sentir o beijo de Maurício em seu pescoço.
─ Estou sentindo a sua aura pesada, Maurício... O que o Marcos aprontou agora?
─ O Marcos nada. O menino é encapetado, mas sabe se virar. O problema é a Milena, andando para cima e para baixo com o Eric. Eu não quero minha filha tão grudada com um cara, mesmo que seja um cara cego.
─ Amor, isso foi muito errado, sabia?
─ Tio Mau vai para o inferno se continuar assim. – ouviram a voz de Ella se aproximando.
─ Ninguém mais toca a campainha da minha casa?
─ Em minha defesa, eu toquei. Mas vocês são muito barulhentos para escutar. – Ella beijou o rosto de ambos – E tio... Fica tranquilo quanto a Mili e o Eric. Nosso projeto de Matt Murdock é muito correto para se utilizar de sua deficiência para se dar bem com as meninas. E olha que ele já teve oportunidades.
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Ciranda do Destino
Roman d'amourHá quem acredite que o destino de uma pessoa está escrito desde o dia em que ela nasce. Outros, acreditam que o destino é construído dia a dia, a cada escolha feita. Os primeiros se resignam a aceitar tudo o que acontece em suas vidas, enquanto os s...