Capítulo Único

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O barulho levemente estridente das chaves se chocando com a mesa de vidro se fez presente na sala do pequeno apartamento, anunciando a chegada de Hansol.

O americano que se encontrava exausto após mais uma dura jornada de trabalho, passou reto pelo namorado ignorando sua presença, o que fez o rapaz se chatear e inflar suas bochechas já robustas. Mesmo assim, Seungkwan decidiu relevar e redirecionar a atenção para seu trabalho da faculdade. Afinal, Hansol só estava cansado, era totalmente compreensível.

Minutos depois, o loiro retornou para o local secando os cabelos com uma toalha, que repousou em seus ombros assim que terminado o serviço. Sentou descuidado no sofá e inclinou-se sobre a mesa pegando algumas contas acumuladas ali e comparando os valores.

Ainda sem trocar uma palavra com Seungkwan, que estava ali, esperando ao menos um cumprimento.

Sem desistir, o coreano ofereceu para o companheiro uma xícara com café, que ele preparara há instantes. Este apenas sorriu de maneira forçada e voltou os olhos para os papéis.

Já incomodado com o silêncio enlouquecedor do local e toda a situação, Seungkwan decidiu puxar assunto com o outro.

— O que aconteceu, Hansol? — disse firme, na intenção de esconder sua chateação por ter sido praticamente ignorado.

O loiro levantou os olhos e pela primeira vez naquele dia olhou diretamente para o namorado, antes de desviar o olhar e murmurar um simples "Nada".

— Hansol. — chamou mais uma vez — Olhe para mim e me diga o que aconteceu.

O americano passou as mãos pelos cabelos e voltou a olhar para Seungkwan.

— Não é importante, hyung. Não precisa se preocupar com isso.

— Você vive trancado na própria cabeça o tempo todo, não olha pra mim, não fala comigo, fica perambulando pela casa de madrugada e quando está acordado fica parecendo uma estátua nesse sofá. Você não é assim e com certeza não mudaria por algo sem importância. Me conte de uma vez.  

— Certo... — respirou profundamente antes de prosseguir — Kwan, você está realmente satisfeito aqui? — perguntou diretamente e viu uma interrogação estampada no rosto do moço — Você está feliz morando comigo, aqui, nesse apartamento nada confortável? — esclareceu e o outro riu.

— Mas que história é essa agora, Hansol? Eu tenho esse sofá, a nossa cama e você. Isso me parece bem confortável.

— Você entendeu, Seungkwan. Você vivia muito bem na casa dos seus pais, nada te faltava, você tinha todo o conforto possível. Mas então você veio e a sua realidade mudou.  Eu não tenho muito dinheiro, não o suficiente pra nos manter sem alguns apertos, não pra te dar o que você merece.

— Hansolie, não pense assim, por favor.

— As contas ficam acumulando nessa mesa e eu só penso em você. É assustador, Kwan. Eu odeio pensar que você está passando por isso por culpa minha. — voltou a passar as mãos pelos cabelos, agora, puxando levemente — Eu sabia que não era a hora certa de contar para eles, sabia que não iam gostar e fariam isso.

— Pelo amor de Deus, Hansol...

— Eu sei que você não está vivendo bem aqui, sei que a culpa de tudo isso é minha e dói pra caralho saber que tem um cara interessado em você que pode te dar o mundo e muito mais que isso. Mingyu é rico, alto, forte, bonito...

— Hansol, cala a porra da boca, agora. — Seungkwan o cortou rudemente fazendo o americano parar boquiaberto — Eu pensei que me conhecesse melhor, amor. — diz em tom suave. — Pensei que soubesse que eu jamais te trataria assim. Eu não preciso de uma casa grande ou um carro caro, eu só quero seu amor e é por isso que eu estou aqui.

Seungkwan sabia o quão culpado o namorado se sentia por ele ter sido expulso de casa, mesmo sabendo que foi por algo que não se podia evitar. Boo nasceu assim e de qualquer forma isso viria à tona, Hansol não tinha culpa.

— Você sabe que o ocorrido com meus pais não tem a ver com você e que você não me prejudicou. Na verdade, você fez da sua casa a nossa, e eu agradeço infinitamente. Aqui eu posso ser como eu realmente sou, ficar com você e viver sem todas aquelas cobranças. Aqui é um paraíso. E sinceramente, não sei por que você sempre pensa que eu estou infeliz com o nosso paraíso.

Na verdade, era difícil para Hansol pensar que as coisas faltavam para o seu amado, que sempre teve tudo. Ele nunca foi de estudar. Não sabia o que cursar no ensino superior, então trabalhava onde aceitavam funcionários com a pouca experiência que constava em seu currículo e tentava vender suas letras, para ganhar mais um pouco. Fazia questão de deixar todo o trabalho para si, assim Seungkwan teria bastante tempo para se dedicar à faculdade de publicidade.

— Eu realmente pensei que você me conhecesse melhor. Você sempre pensa que eu espero árvores que crescem dinheiro, reinos ou as coisas mais caras possíveis...

Mesmo que o namorado se preocupasse com o seu desempenho na faculdade, Seungkwan sempre fazia uns bicos para ajudar em casa. E foi em um desses trabalhos que conheceu Mingyu. O mais velho se encantou automaticamente pelo sorriso e a gentileza de Boo, que o atendia. Flertou descaradamente com o mesmo, que educadamente recusou e voltou a exercer sua função. Depois dali, o modelo voltou várias vezes ao local, ofereceu o mundo inteiro para o outro, mas Seungkwan apenas negava. Como seu companheiro era seu melhor amigo, não hesitou em contar a situação para o namorado. Só não esperava que Hansol ficaria tão inseguro com aquilo.

— Pior ainda! Você pensou que eu seria capaz de te trocar pelo Mingyu? Eu não vou te trocar por um cara rico, não importa o que passemos. Para ser bem sincero, assim você até me ofende... — disse um pouco emburrado, com um pequeno bico desenhado nos lábios.

O americano não pôde evitar que um sorriso enorme aparecesse em seu rosto. Seungkwan era a coisa mais adorável que tivera a honra de contemplar, os cabelos vermelhos faziam uma combinação perfeita com a face corada e as bochechas rechonchudas, que faziam Hansol querer dar todos os beijos do mundo ali. Se sentia o homem mais sortudo do universo, por ter ao seu lado alguém que lhe passava tanta segurança e amor em momentos tão difíceis.

Seungkwan engatinhou vagarosamente pelo sofá até chegar em Hansol, empurrar o corpo alheio levemente fazendo ele se inclinar e deitar em seu peito.

— Eu não vou te deixar, seu idiota. Eu sei que vai melhorar. — murmurou por fim e recebeu um selar demorado na testa. 

Gonna Get Better (Verkwan) Onde histórias criam vida. Descubra agora