Nas catacumbas da minha alma, eu enterro meus sentimentos, deixando-os presos, para que não me afetem novamente.
É difícil ser alguém tão sensível e instável, não saber lidar consigo mesmo é difícil, ainda mais quando não há ninguém que poderia te ajudar, bom, um dia houve alguém, mas essa pessoa me deixou também.
Difícil né? Bom, não é nem um pouco legal se sentir substituível, ainda mais quando você presencia ser substituído; obviamente por pessoas que são melhores que você, ser deixado de lado por pessoas que um dia te prometeram te fazer único.
Mas, acontece não é mesmo?
-Ei, o que você está fazendo? - Meus devaneios melancólicos são interrompidos por alguém alto e de cabelos curtos.
-Oh! Eu? Nada de mais, apenas pensando... E você em? O que está fazendo aqui? - Pergunto me virando para o pequeno brutamontes que estava ao meu lado.
-Ahh, eu já te disse que odeio as aulas do senhor tenho doutorado em astrofísica. - O grandalhão se joga ao meu lado e inconscientemente fecho meu caderno de anotações o prendendo em meus braços.
-Já te disse que você precisa prestar mais atenção nas aulas dele - digo voltando a olhar para frente.
-Ahhh, mas ele é tããão chato, não vejo a hora do ano acabar e me ver livre dele! - Ele diz em um longo suspiro cansado.
-Você sabe que ele pode ser seu professor de novo ano que vem né?
-Não estrague meu sonho Estrelinha. - Diz, por fim, fechando os olhos.
-Ou, grandalhão! - Digo tentando chamar sua atenção recebendo um resmungo como resposta. - Pode ir levantando daí você tem aula, nada ficar dormindo.
-Ahhh Estrelinha, você é tããão estraga prazeres. - Ele se levanta e eu faço o mesmo, apertando em meus braços meu caderno de anotações. - Você também tem aula agora, o que está fazendo aqui fora?
-Acho que alguém me descobriu. - Digo soltando um riso anasalado.
—★—
Caminhando sozinho, preso em meus pensamentos observo a rua sem qualquer movimento. Apesar de ser por volta das uma da tarde a pequena viela em que me enfiei estava escura e sombria; o caminho de volta para casa era sempre estranho e assustador, mas por uma opção minha.
Aquela viela escura e pacata me trazia pequenos minutos de paz, em que eu podia respirar e apreciar os raros momentos sozinhos que eu tinha, raros momentos em que nenhum barulho tirava minha concentração.
Eu até poderia ir pelo caminho que normalmente outros estudantes vão, mas eu preferia ter os meus 10 minutos de paz que eu tinha antes de voltar para casa.
Normalmente os meus 10 minutos de caminhada por aquela escura viela me davam ainda mais pensamentos melancólicos, mas, dessa vez, meus devaneios se dedicavam aquele brutamontes que dedicava tanto do seu tempo me enchendo-me de suas ideias estúpidas.
O tempo passou tão rápido que eu já me encontrava em frente ao amontoado de tijolos no qual eu passava a maior parte do meu tempo. Antes de abrir de fato aquele prensado de madeira dei um longo suspiro tentando parecer o mais normal o possível.
-Cheguei. - Falei avisando à provável pessoa que transitava pela cozinha preparando o almoço.
-Oi meu amor. - Minha mãe veio em minha direção secando as mãos em um pano de prato. - Como foi na escola?
-Foi tudo bem. - Disse retirando os sapatos para entrar em casa, desde que voltamos da Tailândia minha mãe insiste em ainda mantermos essa tradição. - Não foi para o trabalho hoje?
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Obscuros Da Alma
Romance"[...] O gosto era extremamente forte e horrível, mas, para Heitor, o gosto de viver era pior [...]" Heitor já não tinha mais esperanças em sua vida, nem mesmo o seu querido Brutamontes poderia o ajudar. Ele se via sozinho em uma imensidão de probl...