Prólogo

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Hope Denvil Point Of View

Baltimore, EUA. February 17,
2018, 14h57 pm, GMT-5.

Suspiro mais uma vez, controlando minha respiração acelerada.

— Eu...  – minha voz sai entrecortada, enquanto minha garganta ficava ainda mais seca.

— Você não precisa falar, ok? Nós entendemos que é difícil se abrir, principalmente no primeiro dia.  – o homem esguio sorriu reconfortante, fazendo-me assentir.

— Eu preciso falar, necessito gritar toda essa angústia que se apossa de mim a cada dia que eu me privo do meu vício.  – sinto que as lágrimas não tardariam a se manifestar.

— Tenha calma, querida! Conheça seus limites e tente não ultrapassá-los enquanto não tiver a certeza que suportará toda a avalanche de sentimentos que irá cair sobre você.  – desta vez, uma mulher falou.

— Você pode começar quando quiser e terá todo o tempo que desejar. Ninguém aqui irá interrompê-la.  – o homem voltou a falar.

— Pensei que o tempo de cada um fosse limitado.  – balbucio, coçando a nuca.

— E realmente trabalhamos dessa forma. Entretanto, combinamos que os novatos não teriam seu tempo cronometrado de início. Dessa forma, seria mais fácil para eles. – afirma.

— Eu agradeço.  – murmuro, abrindo um pequeno sorriso.

— Quando estiver preparada, pode começar.  – balanço a cabeça.

Meus olhos vasculham todo o ambiente, focando nos rostos de cada pessoa presente ali.

Eu não precisava sentir vergonha ou medo, todos ali eram exatamente como eu. Tão quebrados quanto eu.

— Não sei bem quando isso começou, não consigo lembrar direito em que momento eu me perdi.  – respiro fundo, — Todos temos problemas, eu sei. E todos lidamos com eles de formas diferentes. E é claro que todos que estão aqui encontraram a mesma válvula de escape. Talvez não fosse o único jeito de resolver as coisas, com certeza não é o mais certo, mas é o mais fácil.  – fecho os olhos e suspiro.

— Vocês concordam que é o mais fácil, certo?  – espero uma resposta, mas não obtenho, — Claro que é o mais fácil, mesmo que não concordem vocês sabem que é.

— Sendo o mais fácil, é o que mais nos consome.  – pauso, — Nós embarcamos em um barco prestes a naufragar quando cedemos à bebida. Ela é nossa válvula de escape, nosso refugio em meio a tempestade. E eu tenho consciência que ficar sóbrio é tão doloroso, porque é nesse momento que somos invadidos pela sensação de incapacidade. Afinal, nós somos incapazes... Incapazes de seguir uma vida cheia de problemas sem a ajuda da bebida. E, caramba, o álcool é tão bom, tão extasiante. Nos sentimentos insuficientes quando estamos sóbrios, porque nos falta algo. Nos rendemos ao álcool porque somos covardes demais para lidar com os problemas, porque é mais fácil ceder ao álcool do que lidar com os problemas. Mas o que não sabemos, é que futuramente o álcool também se tornará um problema. Um dos mais fodidos problemas, mas pouco nos importa, não é mesmo? Afinal, somos egoístas demais e queremos apenas o prazer, suprir nossa necessidade carnal. Aquele tipo de necessidade que nos invade e que dura apenas um momento. E é tão bom, mas quando acaba nos sentimentos vazio e... Álcool de novo.

— Mas, o que há de mal em beber? Não há nada, até isso te consumir e te tirar tudo o que tem aos poucos. Primeiro, o pouco dinheiro que lhe resta. Depois você se afunda em dívidas, perde a família, os amigos, o conforto de uma cama. Você perde sua essência, perde tudo. E, quando chega ao extremo, você perde a vida. E é aí que você percebe que aquele problema que tinha no início era só a ponta do iceberg, e que ao buscar uma forma de escapar daquilo, o álcool só te fez colidir com aquele maldito iceberg. Então o seu barco afunda e não te resta nada, além da culpa e do arrependimento.

— Eu sempre me questiono: se eu tivesse encarado de frente o problema inicial eu estaria em uma reunião de alcoólicos anônimos fazendo uma analogia sôfrega para as pessoas que estavam tentando quebrar o iceberg em que estavam presos? Então eu chego a conclusão que não. Se eu não tivesse sido covarde, assim como vocês, nenhum de nós estaríamos aqui nesse momento. Nenhum de vocês estariam sendo obrigados a ouvir as palavras dolorosas de uma garota quebrada. Nenhum de nós estaríamos tentando recuperar a vida depois de sobrar apenas fragmentos. Então eu pergunto a vocês: valeu a pena?  – naquele momento todos estavam em silêncio, apenas digerindo tudo o que eu havia falado. — Sinceramente, eu não acho que tenha valido.

— Vocês estão cansados da minha enrolação, não é? – respiro fundo, — Meu nome é Hope Denvil e eu vou lhes contar como fui de uma estudante de medicina para um membro de um grupo de apoio para alcoólicos.

Essa trama trata-se de uma história de superação baseada em minhas próprias perspectivas sobre a vida fodida de pessoas quebradas. Todos os personagens desta história são de minha propriedade intelectual. Plágio é crime! Eu, Bruna Duarte, não apóio nenhuma prática ocorrida nessa trama. Tudo aqui é fictício, fruto da minha imaginação.

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2019 ⏰

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