Segundas Oportunidades | André Silva ✔️

9. Tarde de Compras

15 de dezembro de 2017

Raquel

O meu último dia de aulas de 2017 acabou de chegar ao fim e eu solto um longo suspiro ao sentar-me no carro. Estou completamente exausta e pensar que daqui a três semanas já tenho de estar de volta para os exames ainda me deixa mais cansada. Seja como for, eu sei que sou capaz de aguentar isto e muito mais – estou a fazer algo que gosto e isso é motivação mais do que suficiente.

Como hoje só tive aulas de manhã e o Santiago está na escola, aproveito para ir até ao Shopping Cidade do Porto, na zona da Boavista, para almoçar e fazer algumas compras de Natal. É enquanto estou na fila de espera para ser atendida no Vitaminas que uma voz que me é tão familiar chama pelo meu nome.

- Raquel! – ele chama mais uma vez, agora mesmo ao meu lado.

- Olá, Afonso! – cumprimento-o de volta, sorrindo – Tudo bem?

- Está tudo tranquilo. E tu, estás bem? – ele pergunta.

- Sim. Finalmente estou de férias. – solto um suspiro – E tu, já terminaste as aulas?

- Sim. Agora é marrar para os exames. – ele revira os olhos, fazendo-me gargalhar – Tens companhia para o almoço?

- Não, ia comer só qualquer coisa rápida e depois dedicar a minha tarde solitária às compras. – gargalho.

- Por que não almoças comigo? O Zé e o Hugo vieram ter comigo e estamos ali todos sentados numa mesa. Podes almoçar connosco. – o Afonso diz, apontando para a mesa onde estão os seus dois primos.

- Bem, acho que vou aceitar. – sorrio – Vou já ter convosco.

Confesso que nunca fui uma pessoa muito sociável, daquelas que tem imensos amigos. Era uma adolescente tímida e que realmente só tinha proximidade com as pessoas que eu conhecia bem. Era preciso um longo caminho para que alguém conseguisse entrar no meu círculo de confiança. À medida que fui amadurecendo, e especialmente desde que fui mãe, isso mudou um bocadinho em mim. Passei a ser mais dada, mais aberta às pessoas. Mas, o momento em que eu mais notei esta mudança no meu comportamento, foi quando conheci o André. Agora que penso bem, tudo o que eu sabia sobre ele é que era jogador de futebol do Porto e filho da enfermeira Anabela e, ainda assim, deixei-o entrar na minha vida com a maior das facilidades. Depois dele, veio toda a sua família, que entrou na minha vida com igual facilidade. Há qualquer de especial naquela família.

Ultimamente, eu e o Afonso temo-nos cruzado algumas vezes e temos criado uma boa amizade. Sinto que posso confiar nele e sei que ele é sempre honesto quando lhe pergunto sobre como está o André. Sei que ele não vai dizer que ele está bem só para eu não me sentir culpada e isso é uma qualidade que eu aprecio. Ele também me tem ouvido nos dias em que estou mais em baixo e tem sido um bom conselheiro. Apesar de não ser tão próxima dos primos dele, também me aproximei bastante do Zé, que é com quem o Afonso passa mais tempo.

- Olá, rapazes. – cumprimento o Hugo e o Zé, ao chegar junto da mesa onde estão sentados, já com o meu almoço no tabuleiro.

- Como é que está a minha prima favorita? – Zé pergunta no habitual tom bem-disposto, usando a alcunha que ele decidiu que se encaixava em mim. Aprecio o seu gesto carinhoso e, portanto, já nem digo nada.

- Estou bem. A precisar de dormir durante um dia inteiro, mas bem. – eu rio-me – E convosco, está tudo bem?

- Tudo ótimo. – Hugo responde – E como vai o pequeno Santiago?