×× capítulo único ××

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Tarde da madrugada.

Tarde da madrugada e ainda acordado, acordado como sempre, e, como sempre pensando em sua morte e no porquê de ainda não ter desistido.

Dazai, em meio as suas crises resumidas em lágrimas, gritos e sangue escorrendo de diversos cortes em seu corpo, decide que não poderia continuar assim sem ao menos tentar falar com seu colega, seu amigo, e talvez, seu ex-amante? Amante, assim como um dia já foram parceiros de trabalho.

Ao pegar seu celular, como sempre, nenhuma notificação, nenhuma mensagem de algum conhecido, ninguém preocupado, afinal, ele era taxado só como um "maníaco suicída", mas ele não se surpreendia com isso, de qualquer maneira, não era por isso que ele estava procurando.

"Eu não sei se deveria fazer isso, não sei se deveria incomodá-lo com meus sentimentos que não são de importância a ninguém" - pensou Dazai, em voz alta.

Desistindo de pensar tanto nisso, assim como em pouco tempo ele desistiria de tudo, decidiu ligar para Chuuya de uma vez por todas.

- ...Alô? Dazai? - dizia Chuuya, confuso ao atender o telefone, e se questionando do porquê de receber uma ligação tão tarde.

- Chuuya? Ah, quanto tempo, não? Desculpa por sumir, desculpa por não te contatar mais. - disse Dazai, com um tom de voz baixo e um tanto quanto triste.

- O que? Por que? Por que se desculpar por isso agora? Você sabe que eu, como um membro da máfia, já estou acostumado a ser abandonado por quem eu dou importância.

Dazai não disse nada, somente sentiu uma dor ainda maior em seu peito e uma culpa mais pesada em suas costas, a dor de apesar de tudo, ter traído Chuuya e a máfia, a culpa de ter abandonado seu companheiro sem dar satisfação nenhuma.

- Mas me diga, o que aconteceu para você de repente decidir me ligar? Você está bem? Realmente, já faz um tempo que não nos falamos. - falou o ruivo, aparentemente mais preocupado.

- Hahahaha... Você sabe, né? Sempre soube, que eu nunca estive bem... Essa realmente foi uma pergunta um tanto quando hilária de se fazer, mas lhe agradeço pela sua preocupação.

- ... Não me ligue tão tarde para deboches, e eu ainda não recebi uma resp-

Chuuya foi interrompido com um profundo e alto suspiro de Dazai.

- Não Chuuya, eu não estou bem, e eu te liguei porque quero que você saiba que eu não aguento mais, não aguento mais nada nem ninguém, eu não quero seguir em frente e eu não vou, as minha tentativas falhas de morrer serão recompensadas nessa madrugada, e por isso estou te ligando, eu quero que você saiba o quanto eu te amo e o quanto eu já te amei.

Chuuya ouviu todas essas palavras, do outro lado do telefone, em meio a lágrimas, chorava tanto quanto Dazai chorou naquela noite, só não se descabelava de desespero pois tinha que se manter alí e tentar de alguma forma, impedir o dazai de continuar com o que ele iria fazer, mesmo estando do outro lado da linha.

- Dazai, não me surpreende que você me fale esse tipo de coisa, não me surpreende que você ache que esteja no seu limite, mas eu sei que você pode continuar, eu sei que você ainda pode ser forte, você já aguentou muita coisa na vida não foi? Agora você é um homem feito, e sabe que pode seguir em frente contando comigo em literalmente todos os momentos de sua vida! - disse Chuuya, com uma voz de choro, e as vezes dando leves soluços. Ele não estava acostumado a ouvir o seu ex-companheiro desabar de tal maneira.

- Sim Chuuya, eu sei disso, eu sei de tudo isso, mas pra mim realmente já deu, eu não tenho mais motivação alguma. Eu só queria dizer que sou grato por tudo que você já fez por mim, e por todos os nossos momentos juntos. - dizia o moreno, ao mesmo tempo que arrastava uma cadeira e uma corda para o seu quarto.

Por um momento, o silêncio prevaleceu nos dois lados do telefone.

- DA-

A voz de Chuuya foi cortada assim que ele estava prestes a gritar alguma coisa. Dazai desligou o telefone, ele não precisava de consolos, e o que ele tinha que fazer, já havia sido feito.

Naquela madrugada gelada, Chuuya, mais do que nunca, correu, correu como se fosse por sua própia vida, correu como se o mundo estivesse prestes a acabar, talvez para ele, realmente estivesse.

Ao chegar na casa de Dazai, a porta estava trancada, janelas fechadas e luzes apagadas, apertou a campainha como um louco, sem respostas, sua única opção foi arrombar a porta, e ele obviamente não pensaria duas vezes antes de fazer isso.

Ao entrar, viu que não havia ninguém na sala, ninguém na cozinha e ninguém no banheiro, ele sabia, desde o momento em que a ligação acabou, sabia o que encontraria no quarto, sabia que ficaria aterrorizado, sabia que a partir daquele momento, sua vida nunca mais seria a mesma, e por isso, deixou para entrar naquele cômodo por último.

Entrando no quarto, via uma cadeira caída no chão, coisas quebradas, sangue e navalhas, o quarto estava um caos, e o pior de tudo, um corpo, o corpo já sem vida de Dazai, estirado e preso por uma corda no teto, o corpo, que por algum motivo, mesmo depois de tudo, sorria, talvez por depois de tanto tempo conseguir o que mais desejava, por mais tenebroso que fosse? Talvez fosse isso.

Chuuya, depois de ficar paralizado por muito tempo, caiu, caiu gritando, chorando, e se debatendo, muito mais do que algum dia já havia feito, muito mais do que qualquer dia faria.

- Eu te amava... - foram as últimas palavras que Chuuya direcionou ao Dazai.

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𝕋𝕒𝕣𝕕𝕖 𝕕𝕒 𝕞𝕒𝕕𝕣𝕦𝕘𝕒𝕕𝕒Onde histórias criam vida. Descubra agora