CAPÍTULO 4

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IV — FANTASMA

"Faço qualquer coisa que você quiser"

VICTOR

Apolo ri forçado, tentando, de alguma forma, condizer com o momento diante de todos. Sei que ele não se recuperou dos acontecimentos recentes, e acho que eu também não. Faz apenas dois meses que o inferno acabou, e ainda assim, nunca minha vida pareceu tão turbulenta, descontrolada, como pai e como homem.

É difícil me olhar no espelho e saber que não pude evitar toda aquela desgraça que aconteceu entre o meu filho, a namorada e a mãe dela. Que não vi Érica, a vizinha, seduzi-lo e induzi-lo a fazer tudo o que fez. De repente, vi o meu reflexo jovem espelhado em Apolo, da época em que eu não media esforços para conseguir o que queria, quando aprontei bastante ao lado de sua mãe e sua tia desaparecida, Laura e Lorrana respectivamente.

Hoje estamos aqui, eu e Laura, lado a lado, batendo palmas para o nosso garoto que agora faz 17 anos. Às vezes trocamos olhares, a lembrança dela vindo atrás de mim vestida de noiva sempre retorna à mente, outra grande loucura, que também me faz recordar de Leda, a minha namorada. Onde ela está? Será que ainda é minha mesmo? Que porra toda foi aquela? Que segredos ela escondia com a Gui? Por que Gui morreu? São tantas perguntas.

Pisco, voltando a realidade, saio de meus devaneios, e olho para a loira mais uma vez. Depois do fora que lhe dei, nunca mais tocamos no assunto, somos maduros o suficiente para não deixar predominar um clima constrangedor entre a gente, só que nem sempre isso é possível. Ela sabe da merda que fez por não acreditar em mim no passado, sabe que estou com o orgulho e o coração feridos, e eu agora sei que ela ainda me ama. Entretanto, não posso afirmar isso tão verdadeiro quanto antes, pois ficamos dois anos separados, é tempo demais para um sentimento sobreviver, ainda que tão forte quanto o nosso.

As noites não têm sido fáceis, sonho com a Laura, mas também com a leda, penso em uma e na outra. Foi aquele maldito beijo com a loira que me deixou balançado. A perdoei, é fato, mas ao meu ver as coisas não são tão fáceis assim, não dá para pegar tudo o que aconteceu, jogar na caixinha do esquecimento e simplesmente me entregar. E tem a Leda, eu gosto dela, estou preocupado, há mais de 60 dias não sei de nenhuma notícia sua além daquelas que passaram nos jornais.

Sei que a ruiva não é uma assassina, que tudo é mentira e que tem a ver com aquele cara misterioso com quem a flagrei conversando junto com a Gui. Continuo aguardando por soluções da polícia, mas até hoje nada!

É tragédia de todo lado, sinto-me encurralado, sem lugar para fugir. Contudo, o que mais me dói é notar Apolo regredindo e voltando a ser aquele garoto fechado e cabisbaixo de antes. Foi tão longo o processo do seu amadurecimento, fazê-lo se amar e se enxergar, e agora voltamos à estaca zero.

Sei que ele ainda ama Tatiana, mas esse romance é impossível, não há condições de dar prosseguimento sabendo que ele também se envolveu com a mãe dela. Quem diria que é possível alguém pegar mãe e filha sem saber dessa relação de parentesco? Tudo culpa daquela vadia psicopata, que neste momento deve estar queimando no inferno.

Laura acha que o nosso filho está tristonho assim devido ao suposto assalto. Ela como mãe sente que há algo mais, contudo jamais saberá de toda a verdade, é um segredo meu e do Apolo. Sinto que ela também não superou descobrir que a nossa separação foi armada por sua própria mãe, tanto que não convidou a velha para o aniversário, porém isso seria impossível de qualquer forma. Apolo ainda não sabe dessa treta.

Ao fim da canção, ele apaga as velas e todos o abraçamos, um de cada vez. Após sermos servidos pela Val, comemos em um silêncio sinistro. Não há felicidade aqui, cada um está quebrado de alguma forma.

E R I C K, Rebelde e Intenso - Disponível na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora