Só tinha de ser com você.

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    - E aí, nega, gostou da festa? – o sotaque baiano se sobressaiu no meio daquela mistura de vozes.
    Gabi assente, sorrindo: - Foi ótima.
    A novidade da relação entre as duas não havia afetado a casa, uma vez que continuava sendo um segredo entre elas. O beijo. O abraço. A declaração. O medo. Tudo aquilo era como escritas num diário, apenas uma pessoa deveria ter acesso: a dona. E as donas daquele diário eram elas. Gabi, em especial, segurava o diário com tanta força como se a insegurança toda fosse afetar tudo o que elas "escreveram". Ela não queria deixar ninguém ter acesso. Só o fato de pensar no público e em como eles vão reagir a deixava em pânico. E se o beijo prejudicasse Carol? A designer gráfico não podia evitar o pensamento.
    Carolina, entretanto, agia normalmente. Falando alto e andando pela casa. Mas, também, a empresária era uma ariana de respeito. Jamais se importaria com a opinião dos outros. Não em algo tão genuíno pra ela. O abraço e o beijo importavam, mas Gabi importava bem mais. Naquele momento, importava mais até que os palpites de alguns familiares e amigos.
    - Você nem bebeu muito. – a mais nova emendou a resposta depois de alguns minutos em silêncio.
    - Depois daquela festa que dei pt, né, nega... – falava enquanto fazia café. – Fiquei traumatizada.
    - Tá certa.
    E quando Gabriela acharia que Carol não estava certa?
    - Carolzinha tava linda ontem. – a mais velha da casa se pronuncia ao chegar no ambiente.
    Gabi esboça um sorriso: - Sempre tá, né?
    Peixinho deu aquele sorriso aberto já conhecido por todos os participantes e parte do público. Ah, se ela soubesse o quanto aquilo mexia com Gabriela. É, Gilberto Gil sempre esteve certo, toda menina baiana tem encantos que Deus dá. E Carolina, em especial, tinha tantos encantos que Gabriela não poderia deixar de ficar a admirando.
    O dia ia passando rapidamente. Com as entrevistas falsas de Tereza e Rodrigo, o tempo passava rápido. Era um monstro divertido que revelou vários segredos dos concorrentes. Carol falou sobre amor e como esse sentimento tem que estar ligado sempre à paz e liberdade. Gabi discorreu sobre se aceitar como si mesmo. Aceitar a própria sexualidade, os próprios medos. Carolina só balançava a cabeça à cada fala que saia da boca da designer gráfico. Ela precisava daquelas palavras mais do achava. Gabriela também precisava escutar o que a empresária havia dito sobre amor mais cedo, mas a mesma estava deitada no quarto diamante conversando com Rizia.
    A hora que antecipava o Tiago falando com os brothers era sempre igual: os participantes tomando banho, se arrumando, passando maquiagem ou gel. E Carolina já tinha terminado de se vestir. Assim como Gabi que tinha saído da casa pra fumar um cigarro, o que já havia feito duas vezes antes de se sentar na parte da piscina.
    - A cheiro ama vestido assim. – Gabi fala ao ver Carol chegando com um vestido mais justo e tamancos.
    A dona de um brechó emite apenas um som nasal e se aconchega ao lado de Isabella em uma das espreguiçadeiras em frente a piscina. A água da piscina deveria estar quente perto do bande frio que Carolina recebeu com o comentário de Gabi. Mas peixe estava acostumado a viver na água. Peixinho só achou que a temperatura estaria mais amena após a festa. Pelo visto não.
    A cantora era quem recebia o gelo agora. Carolina tinha olhos (e voz) apenas à Isabella. Conversava com a miss como se estivessem só as duas na área da piscina. Mas Gabi não entendia porquê daquilo, afinal não fez nada – em sua cabeça. Levantou-se, então, indo em direção à Rodrigo que conversava com Alan, Danrley e Rizia na mesa da cozinha.
    - Que foi? – Rodrigo percebeu o clima pesado que Gabi trouxe apenas com sua expressão facial.
    - A Peixinho não é fácil. – só percebeu o que falou ao ver Rizia abrir um sorriso malicioso e Rodrigo soltar um famoso: "Ah, é?"
    - O que ela fez? – Alan quem perguntou.
    - Não. Nada. – ela disse.
    - Se quiser falar, fala. Mas se não, tudo bem. – o mais velho do grupo falou e a cantora concordou com a cabeça mas não proferiu mais nenhuma palavra.
    Então, Rodrigo seguiu falando sobre o que estava falando antes. E Gabi só poderia agradecer por fazer parte de um grupo tão fácil, que não força o outro a falar sobre o que não quer. Estava onde deveria estar. Só faltava uma pessoa naquela mesa para fazê-la se sentir mais confortável.
    - Sinto abalada minha calma. – o mais novo do Baile da Gaiola começa a cantarolar, atraindo os olhares de Rodrigo e Gabi principalmente. – Embriagada minha alma.
    - Efeito da tua sedução. – Gabi continua os versos da música de Cartola. – Cartola! Não sabia que você conhecia.
    O morador da Rocinha contou sobre o pai que o ensinou a gostar dessas músicas antigas: - Minha mãe sempre preferiu uns pagodes mais atuais, sabe? Mas meu pai sempre gostou do Cartola.
    - Eu também. Sempre gostei mais das músicas antigas. Elis, Cartola, Taiguara, Bethânia. – Gabriela disse, se recordando de sua banda e das canções que cantavam.
    - Taiguara? Não conheço não. – Dan falou, tomando um gole do suco de goiabada que os participantes fizeram.
  Carol entrou na casa abraçada a Isa e com Diego atrás de si. Gabi ficou olhando a morena e resolveu responder o jovem:
    - Eu gosto muito de uma música dele chamada Paz do Meu Amor. É assim: – começou a batucar os dedos na mesa e fechou os olhos apenas para abri-los e direciona-los a Carolina que observava a cena de trás do fogão. – Você é isso. Uma nuvem calma. – Gabi sorriu pra Carol. – No céu de minh'alma. É ternura em mim.
    Carolina sentiu o coração bater forte. Sorriu como uma adolescente que havia acabado de descobrir que gostava de alguém. Talvez, em seu âmago, ela já soubesse desse sentimento.
   - Que linda. Não conhecia essa música. – Rodrigo falou.
    - É muito bonita mesma. – a baiana disse, andando até a mesa e passeando os dedos pelos ombros de Gabi.
    A morena realmente não conseguia fazer o papel de desapegada por muito tempo. Sempre gostou de demonstrar sentimentos. De ser intensa. Só tinha medo de ser intensa demais para a cantora.
    - Que bom que você gostou. – sorriram cúmplices.
    Gabriela esperava que Carol tivesse entendido que cantara aquele verso para ela. A empresária era uma nuvem calma para a designer gráfico ali dentro. Era ternura. Era o abraço que acalmava, o beijo que fazia o coração bater, as palavras que acolhiam. Era admiração. É gostar.
    - Você entendeu, né? – sussurrou no ouvido de Carol que tinha se abaixado para envolver os braços no corpo dela. Gabi tinha que perguntar. Não conseguia ver nos gestos. Precisava das palavras.
    Carol riu da falta de percepção da mais alta. Como podiam ser tão opostas e tão parecidas? A baiana só fez assentir e, depois, disse para concretizar o que Gabi não deveria ter dúvidas: - Claro que sim.
    Deu um beijinho na nuca da negra e sentou ao seu lado, repousando a cabeça em seu ombro. Não tinha medo do que o público iria pensar nem do que os participantes falariam. BBB é jogo, mas também é vida e Carolina jamais teria medo de viver intensamente. Aquele gesto da baiana só assegurou a Gabi que elas não precisavam temer pois gostar de alguém não é vergonha. E a cantora sempre soube daquilo: sentimento bom tem que ser mostrado, e não escondido. Precisavam ter coragem. E as duas sabiam ser corajosas como ninguém.
   

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