Mexeu Comigo

7

Uns dias passaram e eu não ouvi mais de Henrique. Bom, parece que ficou sim estranho. E mais estranho ainda eu não conseguia tirar aquele beijo da cabeça. Argh. Porque teve que ser tão bom? Eu tô muito carente.

Suspirei alto na recepção e meus pais vieram na hora.

"Wow. Esse foi um longo suspiro." Mami riu. Eu sorri de volta.

"É a vida." Dei de ombros.

"Tá tudo bem?" Meu pai perguntou.

"Sim, sim. Só carente." Eu era bem honesta com meus pais. Eles fizeram biquinho.

"Já sei do que você precisa." Assim que meu pai disse isso já sei o que eles ia fazer. Então eles vieram, cada um de um lado, me abraçando e me dando beijinho na bochecha. Eu comecei a rir e nos três nos divertimos com aquele momento, até que vimos Yosef parado na nossa frente fazendo careta.

"Esquisitos." Ele declarou. Minha mãe e meu pai foram na direção dele e fizeram a mesma coisa. Ele protestou muito e saiu do meio deles, limpando o rosto.

"Trid, eu to indo pra praia com o Arthur e o irmão dele, você quer ir?" Ele perguntou.
Meus pais olharam um pro outro o que eu achei estranho.

"Ué, se ele vai levar vocês porque você tá me chamando?"

"O Henrique pediu pra te chamar." Yosef me mostrou o celular dele. Era uma mensagem de Arthur que falava isso. Meus pais riram baixinho e eu fingi que não escutei.

"Mas porque ele não me mandou mensagem?" Perguntei. Meu irmão simplesmente deu de ombros.

"Vai ou não? Se você não for eles têm que passar aqui, se você for nós vamos direto." Ele já tava impaciente.

"Tá, senhor nervoso. Eu vou." Disse e fui pegar minhas coisas. Se eu demorasse mais um pouco Yosef ia pirar. Me apressei.

*****

Seguimos andando pela praia e achamos os dois em frente a uma barraca, exatamente onde eles falaram que estariam.
Todos nos cumprimentamos e como sempre os meninos correram pra água e Henrique e eu ficamos sentados nas cangas.

"Que bom que você quis vir." Ele coçou a cabeça. Olhei pra ele.

"Porque você não me mandou mensagem?" Fui direta.

"Ah!" Ele bateu na testa. "Me desculpa por isso, Trid..." Trid?
"...eu deixei meu celular naquele Uber aquele dia e nunca mais consegui achar." Explicou. Eu fiz cara de surpresa.
"Pois é." Ele continuou. "Aí eu to usando um antigo que só manda mensagem de texto MESMO. Nada de WhatsApp. E eu não tinha seu número." Ele tirou do bolso um celular de flip.

Eu ri dele e peguei o celular pra anotar meu número.

"Sinto muito. Mas pronto. Agora a gente pode voltar a se falar." Sorri pra ele que sorriu pra mim de volta. "Eu achei que você tava me dando um gelo, sinceramente... pelo que aconteceu na festa."

"Sobre isso... me desculpa mesmo. Eu tava meio alterado já e toda aquela dança deve ter me dado uma coisa doida na cabeça." Ele falava olhando pro chão.

"Eu já disse que tudo bem." Falei firme e ele olhou pra mim, e dessa vez eu que olhei pro chão. "Não é como se eu não tivesse te beijado de volta." Falei e me arrependi. Ele riu.

Ficamos calados um tempo, simplesmente olhando pra praia.
Aí eu senti o olhar dele sobre meu rosto. Mordi os lábios e continuei olhando pra frente. Meu estômago estava revirando.

"O dia tá tão bonito né?!" Olhei pra ele e vi ele se aproximando de mim. Sério. Eu deixei novamente. Ele chegou muuuito perto, olhando constantemente pra minha boca, mas dessa vez eu parei.

"Você quer me beijar?" Joguei no ventilador. Ele recuou totalmente. Não esperava por essa pergunta por que a resposta era bastante óbvia.

"Que?" Ele ficou desconcertado. Eu só queria que ele confessasse.

"Vocês se inclinou e veio pra perto. Você quer me beijar de novo?" Perguntei. Tinha algo rolando aqui, mas eu não sabia direito o que era.

"Não..." ele falou hesitando.

"Não? Ah, então tá." Dei de ombros e olhei pra frente. Ele olhava pra mim, mas dessa vez perplexo.
"Quer entrar na água?" Perguntei.

"Não..." ele respondeu. Eu levantei e tirei minha roupa ficando de maiô.

"Você não quer nada, né." Disse antes de sair e ouvi ele protestando, mas corri pra água.

Ao mergulhar fiquei me perguntando que merda eu estava fazendo. Eu queria que ele me beijasse? Eu queria aquilo?
Mas a menina que ele é apaixonado? E eu não sou apaixonada por ele.
Mas e se isso fosse só... uma coisa... sem nome? Só uns beijos. O que que tem né? Nada... né?
Mergulhei novamente e sai do mar. Acenei pros meninos brincando de futebol na areia e sentei perto de Henrique novamente.
Ele parecia sério.

"Que foi?"

"Nada, Astrid." Respondeu seco. E eu ri. Ele olhou pra mim incrédulo.

"Por que você simplesmente não confessa?" Hoje estava bem direta.

"Confessa o que?"

"Que você quis me beijar." Falei olhando pra ele, já estava começando a ficar puta com aquele sinismo. Ele olhou pra mim e ia abrir a boca, mas eu falei antes. "Não é como se você fosse trair a Lavínia nem nada."

"Uau." Ele foi pego de surpresa. "Você tá numa vibe honesta, ein?!" Ele estava bravo, mas eu não tava nem aí mais. Por que ele simplesmente não falava o que queria?

"Eu queria." Eu falei baixinho olhando pro mar.

"O que?" Ele escutou e eu resolvi ser REALMENTE honesta.

"Que você me beijasse." E ele pareceu surpreso. "E ainda quero." Dei de ombros.

"Eu não... eu não sei..."

"A gente pode fazer assim..." fui tentando encontrar palavras pra não parecer que eu estava desesperada, porque realmente não estava.
"...tipo... isso ser uma coisa de férias... sem compromisso... só... amigos que se beijam..." ia gesticulando..

"Não sei se é uma boa ideia... eu..." Ele estava nervoso.

"Olha só." Eu interrompi de novo. "Isso é uma proposta. Você aceita ou não." Disse e ele estava MUITO nervoso. Eu revirei os olhos. Havia esquecido como ele era mais... romântico... nessas coisas. Pra ele devia estar sendo muito difícil.

Eu levantei, me sequei, coloquei minha roupa e chamei Yosef com as mãos.
Agachei novamente perto dele e ele se assustou, o que me fez sorrir um pouco.

"Pensa nisso, tá?! Você tá solteiro e triste e eu tô solteira e carente. Ninguém na cidade. Lavínia nem vai saber disso e quando ela voltar vocês podem voltar a ser a casal Disney que você acha que vocês são." Falei demais. Ele fez uma careta.

Yosef chegou e eu me despedi de Arthur. Fomos pra casa.

No caminho fiquei pensando da onde tirei coragem pra falar tudo aquilo? Eu tava doida. Só pode.
Arregalei os olhos e desejei que Henrique falasse não, mas no fundo, com esperança que ele falasse sim. Ia ser no mínimo interessante. Mas que eu estava assustada, eu estava.

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