O Ser de Olhos Dourados

1. "O livro dos espíritos"

Acabando de ler um livro.

O mesmo que falava a "verdade" sobre Deus e o mundo dos espíritos.

Aquilo me impressionava! Falava sobre coisas cujo eu nunca havia pensado, mostrando uma realidade bem diferente da que eu fui acostumada na Igreja Apostólica Romana!

Ainda um tanto amedrontada com o capítulo sobre os espíritos e suas classificações - em especial, os maus - e um tanto quanto ansiosa para completar o livro, apaguei a luz e caí em um sono profundo.
Meus olhos se fecharam, minha mente parou de pensar, meu corpo relaxou e - ao contrário das outras vezes - não tive sonhos.

Porém, durante a noite - ou madrugada, não sei dizer- despertei, ainda com o torpor do sono, ouvindo um leve ruído abaixo da minha cama. Não abri os olhos, mas escutava de forma mais alta que o normal o som de unhas se arrastando pela madeira.

Levantei os pés e os deixei cair com um som surdo, e após o impacto vi um reflexo correndo para cima da minha mesa de cabeceira.
Olhei para a figura, ou tentei, e minha imaginação rolava souta.

Aquela estranha criatura tinha os olhos que brilhavam no escuro, em um tom meio citrino.
Me veio a mente que poderia ser um mensageiro dos espíritos me alertando sobre um mal presságio, ou talvez um demônio que queria se divertir com o meu medo!

O ser se moveu, eu dei um grito agudo e me levantei correndo da cama! Acendi a luz e aquela criatura correu para debaixo da cama.
Ainda não tinha visto sua forma, mas meu coração estava acelerado, minha respiração ofegante e minhas pernas iguais gelatina.

Chamei minha mãe, porém ela não apareceu. Chamei de novo em um sussurro e ela apareceu de pijama, o cabelo emaranhado, os olhos lutando para se manterem aberto e com o rosto franzido em preocupação.

Estava muito assustada para comentar e só apontei para de baixo da cama com uma voz falhada e arranhada dizendo:

-Mon... mons... MONSTRO!!?

Minha mãe olhou sob a cama e deu uma risadinha que me pareceu de deboche.
Poxa! Ela estava fazendo pouco caso dos meus medos? Eu quase urinando de medo e ela se rindo?!

Lancei-a um olhar irritado/amedrontado, ela enfiou a mão por baixo da cama, me deixando um pouco assustada com sua coragem, e puxou o... monstro?

Aquele ser de estranhos olhos amarelos não era nada mais nada menos do que uma gata negra de olhos verdes!
Minha mãe riu de mim e disse-me que ela deveria ter se atraído pelo cheiro de carne e leite que tinha no fogão, o retrovisor estava aberto e poderia ter sido por lá que a gata deveria ter passado.

Mamãe foi dormir, deixando a gata do lado de fora do quintal e mesmo mais calma, olhei dentro do guarda-roupa e abaixo das duas camas se não tinha mais nada para assustar-me.

Não consegui dormi no que sobrou daquela noite procurando os olhos amarelados de algum ser.
Amanheceu, eu estava enfadada, cansada e caindo de sono. Na mesinha de cabeceira, estava o livro "O livro dos espíritos", enruguei o nariz para ele decidida a ler apenas e só se as paranóias saíssem de minha cabeça.

Até hoje eu odeio gatos, e os negros então? Nem se fala!