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Mais um bilhete.

"Por favor, preste atenção na aula, ou suas notas vão ladeira abaixo, e você fica superfofo quando está concentrado. (Fica uma graça quando está distraído também, mas isso não vem ao caso...)"

Robert, mal notando o som dos outros alunos entrando na sala, franziu a testa. "É sério isso?"

"O quê?" Perguntou seu melhor amigo Michael, inclinando-se para olhar por cima de seu ombro, visto que como em todos os dias, sentara-se na carteira logo atrás de Robert.

"Esses bilhetes. Já faz uma semana. Se alguém está perdendo tempo todos os dias digitando, imprimindo e recortando isso só pra zoar com a minha cara, deve ser alguém bem desocupado mesmo." Fez sua voz soar o mais rude possível. Não queria que o outro percebesse o quão sem graça havia ficado.

"Em uma coisa esse desocupado tem razão." Michael deu de ombros antes de voltar a sentar-se corretamente.

"O quê?" Robert virou-se, fazendo uma careta.

"Preste atenção na aula, otário." Ele sugeriu, apontando para o quadro com a caneta já em suas mãos. O diálogo parou ali, pois o professor já estava entrando em classe.

Aquilo não era justo. As notas de Robert não chegavam a ser ruins, ele só não era um aluno dos mais focados. Era difícil prestar atenção em uma pessoa falando sem parar em frente à dezenas de adolescentes. De qualquer forma, quem eram seu melhor amigo e aquele anônimo esquisito para julgá-lo?

Durante a última semana, todos os dias havia um bilhete preso com fita embaixo de sua carteira. Só o havia descoberto porque gostava de balançar os pés para trás, chutando de leve a parte de baixo da cadeira. Quando seu tênis esbarrou em algo diferente, foi verificar e descobriu o papel ali. Nele havia algumas frases digitadas, e o recado sem assinatura dizia-lhe para ter um bom dia e não se chatear com nada, pois ficava muito bonito quando estava feliz. A primeira coisa em que pensou foi um engano. Quando mostrou a Michael, ele riu, então concluiu que deveria ser um engano mesmo. Com certeza seu amigo não estava rindo por causa da cor de seu rosto ao ler aquilo.

Todavia no dia seguinte havia outro bilhete, comentando como seus olhos azuis eram bonitos. Dessa vez havia tampado o rosto com as mãos, mas era tarde demais, Michael havia se inclinado por cima de seu ombro para ler e Robert pôde ouvir seu riso. Concluiu que tratava-se de algum tipo de trote, só não entendia porque o maldito que escrevia aquilo dava-se ao trabalho de digitar ao invés de escrever com um garrancho qualquer.  Ninguém se empenharia tanto em uma pegadinha besta.

No dia seguinte mais um. E então outro. Toda manhã havia algo ali.

Nem sempre o papel estava embaixo de sua carteira já na primeira aula. No quarto e no sexto dia apareceram após o primeiro intervalo.

Já era o oitavo recado que recebia dessa forma, e isso estava deixando-o doido. Se o anônimo queria mesmo que ele se concentrasse, não estava ajudando. Por que alguém acharia-o fofo, para início de conversa? Ele ficava de cara amarrada praticamente o tempo todo. Ok, talvez não tanto. Era difícil fingir irritação quando estava com Michael, e os dois passavam praticamente o tempo todo juntos.

Ficava com raiva quando seu melhor amigo apenas ria de seu constrangimento ao ler mensagens carinhosas, ao invés de tentar ajudá-lo a desvendar aquela situação. Ou seja, ficava com raiva em todas as vezes. Mas não conseguia destratar Michael de forma alguma, apenas ficava mais sem graça do que antes ao ouvi-lo rindo de si.

Não que ele fizesse isso de forma cruel, longe disso. Michael era uma pessoa extremamente amável e gentil, e se ria era porque Robert deveria parecer realmente engraçado quando envergonhado.

Unknown [WayWood]Onde histórias criam vida. Descubra agora