[f(2) = 4x - 6] Belinda versus Pandora

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Horas antes do acidente, 21/10/2018, 06:33

— Jungkook, acorde. — A primeira coisa que escuto, infelizmente, não é Holiday in Cambodia dos Dead Kennedys, que segue invicta como a melhor seleção sonora para o alarme do meu celular.

O que alcança meus ouvidos é a voz de minha mãe, o que torna o processo de retorno à consciência muito mais desagradável.

Quer dizer, acordar é sempre uma merda. Eu sei.

Mas não é tão ruim quando eu acordo ouvindo a voz do Jello Biafra. Já não posso dizer o mesmo de quando a primeira coisa que escuto é a voz de Jeon Ga-eul.

— Sem gracinhas, Jeon — Ela puxa o travesseiro quando o uso para cobrir minha cabeça. Quando resisto, recebo um tapa na bunda. — Levante! Você vai levar seu irmão na escola antes de ir para a sua aula.

Como é?

Eu nem pretendia ir à aula hoje.

A universidade me garante vinte e cinco por cento de faltas sem que isso interfira em minha aplicabilidade para aprovação nas disciplinas, e eu pretendo usufruir até a última gota do direito que me foi dado.

— Manda o moleque ir andando. — Eu resmungo, então.

Mais um tapa na bunda, e ela vai longe demais quando arranca o lençol de meu corpo.

— A escola é longe. Ande logo se quiser tomar um banho antes de sair, ou eu te jogo um balde de água gelada e sento sua bunda seca naquela moto velha sem me preocupar se você vai estar com futum nos sovacos, ou não!

— Mas você é chata, hein?!

— Fiz mestrado, doutorado e pós em chatice depois que virei mãe. E olhe como fala comigo!

— Minha boca vai ficar calada como um túmulo se eu voltar a dormir, então me deixa quieto e leva você o Junghee na escola!

Agora, um tapa na cabeça. E, de quebra, ela me puxa pelo braço.

— Você vai levantar dessa cama agora e se arrumar rápido o suficiente para levar seu irmão para a aula, ou eu vou usar seu computador para quebrar sua moto enferrujada. — Ela avisou com o tom contido, interrompendo os tapas para caminhar até a porta, onde parou e me olhou: — E você sabe que eu não estou blefando, porque se tem uma coisa que eu sou além de chata, é doida! Então levanta e lava esse sovaco, seu fedido!

— Que saco do inferno! Insuportável! — Praguejo, ainda mais irritado porque ela saiu batendo a porta.

Agora vou eu bater uma porta dentro dessa casa para ver se não recebo logo uma panelada na cabeça!

Aliás, se existe uma terceira verdade sobre minha mãe, é que ela não mente. Então é verdade mesmo, a maluca é capaz de destroçar minha moto e meu notebook num surto só.

Por isso, eu amasso o lençol numa bola malfeita e o jogo para longe antes de levantar movido unicamente pelo ódio (e medo).

Ainda reproduzindo uma sequência lascada de palavrão, eu quase arranco a porta de meu armário quando o abro para pegar uma roupa e acabo me deparando com o espelho embutido na parte de dentro, mas não me atento aos meus cabelos completamente de pé, à cara de sono, nem às tatuagens de meu corpo expostas por estar vestindo somente uma cueca samba-canção.

Impaciente, eu pego uma calça, blusa e minha jaqueta de couro, tudo preto, e saio pisando fundo em direção ao único banheiro da casa.

Primeiro eu esvazio a bexiga, mas meu sangue ferve ainda mais quando dou a descarga e o mijo não desce.

CEM CHANCES • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora