.

15 0 0
                                    

Dois homens trabalhavam na mesma empresa e tinham salas próximas uma da outra. Jonas nunca fora com a cara de Rogério e só raramente ambos se cumprimentavam.
Jonas, certo dia, resolveu fazer uma brincadeira com o colega de trabalho. Fez com que os dois se encontrassem no corredor da empresa e começou a falar com o outro, com a cara mais limpa do mundo:
– Ontem fui e tinha. Encontrei ninguém que podia ser que não era.
Era apenas uma brincadeira das mais bobas. Jonas acordara aquele dia querendo curtir com a cara de alguém tão sério quanto Rogério. O colega olhou para Jonas com expressão de ponto de interrogação. O piadista já estava pronto para o ataque de raiva.
– Não me diga o que isso quer dizer. Tenho que descobrir sozinho.
– Mas, Rogério...
– Não adianta, sou capaz.
O homem sério se afastou rapidamente, decidido, deixando Jonas boquiaberto.
No dia seguinte, o piadista viu Rogério levar um esporro por ter chegado muito atrasado no trabalho. O submisso estava muito pálido e com grandes olheiras. Acabado o sermão, ele foi na direção de Jonas, frouxo. Parou em sua frente e falou:
– Eu sou um incapaz mesmo! Por favor, me diga o significado!
Jonas se espantou muito. O homem ainda estava pensando nisso! Mas ele achou que era a situação perfeita.
– Te dizer? Claro que não! Falei aquilo pra todo mundo da empresa e só você não vai entender? Me poupe, né?
E Jonas se retirou, triunfante.
Durante os dias posteriores, Rogério não apareceu em sua sala, nem na empresa tampouco. Jonas não dava a menor importância; o outro não lhe fazia falta. Mas o tempo foi passando e o outro não dava nenhum sinal, ninguém sabia dele.
Até que um dia a notícia se espalhou pela empresa: Rogério estava em casa, em estado terminal. Jonas correu para lá, mesmo não entendendo nada, movido pela curiosidade. Rogério estava rodeado por poucos familiares, com a aparência terrível, deitado em sua cama. Jonas se aproximou, mas foi Rogério que se adiantou, falando debilmente:
– Jonas... estou às portas da morte... Antes que eu vá, preciso que você me explique seus dizeres... Por favor...
Jonas não acreditava em seus ouvidos. Tudo por causa de uma brincadeira. Ele precisava remediar tudo.
– Rogério, você entendeu tudo errado. Meus dizeres não tinham nem pé nem cabeça mesmo. Era só uma brincadeira com você.
– Não, não, Jonas... Eu sei que você quis dizer alguma coisa... Se você não revelar, vou piorar... E você sabe o que acontecerá...
Jonas não tinha escolha. Só havia uma saída: inventar.
– Rogério, eu só quis dizer que tinha ido para a Bienal e, como tinha muita gente, não encontrei ninguém conhecido.
Rogério sorriu, finalmente de posse do conhecimento. Fechou os olhos e, com o sorriso ainda no rosto, morreu serenamente.

O homem sérioWhere stories live. Discover now