Capítulo 15 - UMA LIÇÃO SOBRE STAR TREK

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A história dos NERDS com o vovô Geraldo era bem simples, mas cheia de sentimentos, e os garotos me explicaram tudo rapidamente naquela quinta-feira depois que a gente leu e comentou sobre os quadrinhos: Geraldo é o bisavô de Samuel e ele estava sempre faltando os encontros de domingo - que antes era o dia que eles assistiam aos filmes com nota baixa no Metacritic, seja lá o que isso for - para ir visitá-lo. Foi então que eles decidiram acompanhar Samuel em uma das visitas e os NERDS gostaram tanto do Senhor que decidiram colocar a visita no cronograma - e tirar o cinema dos filmes com nota baixa, aparentemente eles estavam concordando com todas as notas.

Acabou que para a visita a gente precisou organizar algumas coisas como quem ficaria responsável por cada prato que a gente levaria para o almoço na casa de acolhimento.

Eu acabei ficando responsável por fazer um salpicão, mas eu logo liguei para minha mãe e perguntei se tudo bem para ela porque eu não sei cozinhar e eu não jogaria essa responsabilidade em seu colo sem consultá-la antes.

Minha mãe adorou a ideia, primeiro ela disse que eu deveria tê-la avisado antes, mas a bronca não durou cinco segundos porque ela ficou imaginando como seria essa visita com todas as famílias dos NERDS indo juntas.

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É domingo de manhã e está todo mundo se reunindo na casa de Eduardo - e tipo todo mundo mesmo: o pai de Eduardo, a mãe e a irmã de Rafaela, os pais de Samuel, os pais de Nicolas e Pedro (que também está aqui) e as mães de Denis. Eu to sentado em uma das mesas tomando um pouco de suco de laranja e Rafaela está sentada de um lado e Nicolas de outro. Fico olhando em como todos os pais conversam animados entre si e em como minha mãe e meu tio logo se enturmaram com todos, e isso me deixa realmente feliz.

- José, prepare-se para ter uma verdadeira aula sobre Star Trek! - Samuel diz aparecendo e se sentando na última cadeira da mesa. - Essa é tipo a coisa favorita do meu avô em todo o mundo!

- A gente não curte muito, mas adoramos quando o vovô Geraldo nos conta as histórias. - Rafaela explica.

- Ele conta de uma forma encantadora. - Nicolas diz sorrindo.

Bebo o último gole do suco e sinto meu corpo gelar um pouquinho, o que é bom mesmo estando fazendo um friozinho.

- O vovô é uma das melhores pessoas do mundo, foi ele que me puxou para fora do armário! - Samuel diz animado, e isso me faz sorrir.

Então Eduardo e Denis aparecem e dizem que está tudo pronto, e todo mundo sai junto carregando as vasilhas com o nosso almoço. Quando os carros saem da frente da casa de Eduardo, até parece que somos uma caravana.

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O lugar onde vovô Geraldo mora se chama Casa de Acolhimento das Irmãs Severinas, e assim que passamos pelo portão eu fico encantando olhando para todos os lados. O espaço entre os muros é tão grande que eu diria que é o quádruplo do tamanho da nossa escola. Do lado esquerdo tem uma quadra de futsal coberta que me faz lembrar do tempo do time da escola e me dá vontade de jogar bola; do lado direito tem uma área redonda como um coreto, só que bem maior e na altura do chão.

Minha mãe, meu tio e eu seguimos atrás do grupo porque não queremos nos perder e eu quase tomo uma queda porque o caminho passa por uma pequena ladeira e eu deixei a muleta escorregar no caminho.

Aparentemente os quartos na casa de acolhimento são divididos e nós seguimos para o lado direito, onde ficam os homens. Há muitas outras pessoas aqui além de nós, o que me faz pensar que muita gente deve se organizar para vir visitar seus familiares.

O senhor branco, magro e alto com o cabelo todo grisalho está nos esperando com um sorriso enorme. Ele usa uma blusa amarela de manga longa e eu logo penso que já vi uma roupa assim em algum lugar.

- Já tava começando a pensar que vocês não vinham mais! - Ele disse ainda sorrindo.

- O senhor sabe como os homens demoram para se arrumarem, vovô! - Rafaela diz e todo mundo ri. Ela se apressa e dá um abraço nele.

Logo começa um sessão de abraços e minha família e eu ficamos apenas parados porque nunca viemos aqui e não sabemos muito bem o que deveríamos fazer. Mas então, depois que todo mundo cumprimenta o vovô Geraldo, Samuel o segura pela mão e vem até a gente.

- Vovô esse é o José, ele é o novo integrante dos NERDS. - Diz animado. - E esses são a mãe e o tio dele!

- Parece que eu não sou mais o único com uma terceira perna! - Vovô Geraldo diz levantando sua bengala e balançado no ar.

- Os melhores homens sempre andam com espadas! - Digo sorrindo e também levanto minha muleta e a balanço no ar.

- Gostei de você, rapaz! - Ele se estica até mim e me dá um abraço apertado.

Logo depois ele cumprimenta minha mãe e meu tio e nos convida para entrar em seu quarto.

O quarto é um espaço grande com azulejo branco no chão e as paredes pintadas de azul-claro. Vovô Geraldo caminha até uma cadeira de balanço e se senta. Os garotos se sentam no chão em sua frente e Pedro puxa um banco e me dá porque percebe que não vou conseguir me sentar com os outros. O restante do pessoal se aconchega pelo quarto.

- Então, o que vamos fazer hoje? - Vovô Geraldo pergunta, ele parece estar completamente animado por todas aquelas pessoas estarem ali.

- Vovô, você tem que falar um pouco sobre Star Trek, o José nunca esteve aqui! - Samuel.

- Tudo bem! Mas acho que é bom fazer algumas explicações primeiro. - Ele diz. - Você precisa entender, antes de tudo, que Star Trek foi um programa a frente do seu tempo! E não somente por causa da história sobre viagens pelo universo afora, mas porque falava de muitos temas que até hoje são um pouco problemáticos...

Ele então conta que apesar de ser uma série antiga - no caso a série original, já que aparentemente Star Trek é o programa com maior número de Spin-offs - eles se preocupavam em falar sobre assuntos necessários como o machismo. Ele diz também que a série apresentava tecnologias que ninguém pensava ser possível existirem e que hoje fazem parte da nossa vida, como um comunicador por voz e um tradutor de línguas.

Entendo então o que os garotos disseram; a forma como vovô Geraldo fala sobre essa série me faz ter vontade de sair correndo dali e procurar um meio de assisti-la, de ver as aventuras de James Kirk e Spock, e de sentir por essa história a mesma coisa que ele sente e que lhe deixa tão animado em poder contar.

Depois de um tempo chega a hora do almoço e nos distribuímos para nos servir. Nesse tempo eu e vovô Geraldo ficamos a sós e ele me conta que no ano anterior os NERDS haviam dado aquela camiseta amarela do Star Trek para ele, o que era sem duvidas o melhor presente que ele já recebera, mas que eu não deveria contar para a mãe do Samuel porque ela deu para ele uma TV de plasma e ficara muito animada quando lhe entregara o presente.

Quando vamos embora já é quase 16hrs e todo mundo combina de ir preparar o jantar na casa de Eduardo. Eu fico todo animado falando sobre Star Trek e os garotos decidem colocar o filme para que eu assista e eu não gosto muito.

Não que eu ache um filme ruim, na verdade parece ser muito bom, só que pela forma como o vovô falou, me pareceu quase como se fosse realmente a melhor coisa que existisse.

- É por isso que a gente se recusa a assistir a série original. - Rafaela diz, quando eu conto sobre o que achei. - A gente tem medo de perder o encanto que o vovô Geraldo colocou encima.

No fim da noite enquanto estamos todos sentados juntos para o jantar conversando sobre a visita a casa de acolhimento, eu fico pensando que as coisas na vida são especiais no ponto em que a deixamos especiais; se não dermos importância para elas, essas coisas apenas passam sem nos deixar marcas.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora