A escuridão envolveu Kristoff e Nessie assim que ele deixou a porta se fechar atrás deles. O cheiro de queimado permanecia impregnado no galpão, ainda que não desse para eles enxergarem absolutamente nada.
A advogada se ajeitou, remexendo na bolsa e tirou o celular que logo emitiu uma luz incandescente por todo o galpão. Kristoff piscou os olhos azuis, tentando se acostumar com a repentina luminosidade que vinha pela lanterna de Yverness e observou toda a extensão do galpão.
Havia prateleiras altas por toda a extensão do local, de ferro que agora tinha uma aparência enferrujada e disforme. As caixas de arquivo que antes estavam sobre elas estavam escurecidas pelas chamas ou simplesmente haviam sido completamente destruídas. As cinzas do papel estavam espalhadas pelo chão, virando somente poeira todas as vezes que ela dava um passo e o seus movimentos os esfarelavam.
— Meu Deus... — Kristoff sussurrou a seguindo com passos cautelosos. O incêndio provavelmente havia iniciado na outra extremidade, onde parecia não existir mais nada.
Ness olhou para as primeiras prateleiras. Apesar de amareladas, caixas pareciam inteiras e nem tão prejudicadas. Ela enfiou a mão dentro da bolsa e tirou um par de luvas de vinil que calçou e seguiu até ali.
As folhas estavam escurecidas e firmes por conta da temperatura do fogo, tão próxima havia chego antes de serem apagadas, deixando um rastro de destruição atrás de si.
Ness remexeu na caixa, vendo os documentos que estavam ali. Era recibos de 2009, antigos o suficiente para não serem mais úteis. Havia históricos de compras, composições químicas da matéria prima, contratos, recibos, infinidade de papéis que devido à data lhe eram inúteis.
Ela voltou-se para o restante do galpão, analisando caixa por caixa conforme ia se aproximando do fim.
— O que causou o incêndio? — Ness questionou de repente. Kristoff quase se assustou com a pergunta, já que o sussurro da sua voz ecoou fantasmagórico ali dentro. Ele deu os ombros.
— Ainda não se sabe exatamente, mas o que foi dito foi que houve um curto em dos fios.
— Entendi. — Ness jogou o facho de luz para cima, onde as lâmpadas estavam pendendo sobre os cabos, no alto da sua cabeça. Os fios que as seguravam estavam corroídos pelo fogo, mas firme o suficiente para segurar uma lâmpada industrial de quase três quilos.
Ela continuou andando, indo de ponta a ponta. As caixas de documentos eram inúteis, pouquíssimos arquivos queriam dizer alguma coisa realmente relevante e que não havia sido completamente destruído.
— Você tem inimigos, Kristoff? — Virou-se para ele. Com aquele terno preto, seus olhos pareciam brilhar ainda mais na penumbra do galpão.
— O que? Não. — Falou de pronto e ela o encarou mais uma vez. Seus ombros foram murchando de repente, seu rosto confuso. — Talvez. Eu tive algumas inimizades ao longo da vida, mas não acho que poderia ser alguém capaz de fazer algo assim. Não faz sentido!
— O que não faz sentido? A avalanche de processos que está caindo em cima da Acier onde todas as provas da inocência da empresa foram completamente destruídas? — Estalou os lábios. — É, pra mim não faz sentido algum.
— Por que alguém faria isso? — Para ele parecia óbvio que ninguém iria prejudicar sua empresa daquela forma. Todos que trabalhavam com ele gostavam do que faziam e eram bem remunerados.
— A Acier é uma siderúrgica multinacional que tem um capital de quase 27 bilhões de euros. — Subiu uma das sobrancelhas. — Você é o panaca de 29 anos que está à frente da empresa do avô que não tem experiência ou sabedoria nenhuma. — Recitou e ele se remexeu incomodado. Ness virou-se para ele, erguendo a lanterna do celular a ponto de conseguir ver seu rosto transtornado e ele pudesse ver o teu. — Todos na sua empresa querem o teu lugar, Kristoff. Acorda.
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Fogo e Aço (Desgutação | Em breve)
RomansaYverness Ross não é uma pessoa fácil. Escocesa, advogada e cheia de ódio percorrendo suas veias europeias, ela se muda para França em busca de sossego e arte, sendo totalmente o oposto de Kristoff Dolohov, inglês, charmoso, cafajeste e com uma pitad...