Encontro

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Visão de Gael Andrade

  Eu esperava ansiosamente em minha sala, embora ainda faltassem 20 minutos para o horário combinado. Talvez o futuro da Bella Ltda. fosse decidido naquela manhã, e isso, estaria nas mãos da sra. Legrand, que eu, até então não conhecia.

    Ótimo... Eu estava depositando minhas esperanças na merda de uma mulher desconhecida, que provavelmente seria uma velha chata. A situação parece ser ainda pior para mim, pois admito, detesto precisar de alguém, detesto estar errado e detesto o fato de que é justamente isso que está acontecendo.

    Eu já batia compulsivamente uma caneta na mesa, quando recebi a ligação de minha secretária informando a chegada da sra. Claire Legrand. Autorizei a entrada e observei a porta se abrir, revelando algo surpreendente pra mim...

    Ela definitivamente não era uma velha... Muito pelo contrário, era bem jovem e - Deus me perdoe, não era o momento pra pensar nisso, mas - gostosa.

    Apressei-me em levantar da cadeira, estendendo uma mão e apresentando-me.

_ Prazer, Gael Andrade.
_ Eu sei quem o senhor é. - disse a mulher, simplesmente, ignorando minha mão estendida. - Tratemos logo do que importa, negócios.

   Foi uma grosseria, deveras. Mas sra. Legrand oferecia uma importante oportunidade para a empresa. Por isso, disfarcei o choque negativo, ou ao menos tentei...

_ Hm, então você é objetiva... Suponho que a sra. tenha lido a proposta que lhe enviei por e-mail.
_ Chama aquilo de proposta, sr. Andrade? - Legrand demonstrava desprezo em sua voz. Desprezo este, que era reforçado por sua sobrancelha esquerda arrogantemente arqueada.
_Perdão? - Falei automaticamente, piscando artudido. - Pode dizer o que lhe desagrada na proposta, sra. Legrand?
_A resposta não é óbvia? - Falou como se estivesse se dirigindo a uma criança de seis anos. Quando percebeu que eu estava aguardando esclarecimentos, bufou e explicou, claramente a contragosto. - Ninguém vai investir essa quantia por apenas 20% da empresa! Não entro neste negócio por menos de 40% das ações.
_A sra. perdeu o juízo!? - As palavras simplesmente escaparam de minha boca.

    Ela revirou os olhos. Dá pra acreditar? REVIROU OS OLHOS. Mal acreditei que estava vendo isso numa reunião de negócios.

_Eu perdi o juízo? - Perguntou com desdém. - Só um acéfalo para oferecer míseros 20% pelo investimento.

    Mas que mulherzinha prepotente... Quem ela pensa que é pra falar assim comigo?

_Se continuar me tratando dessa forma, vou pedir para que se retire!
_Ai como o sr. é sensível. - Disse Legrand, rindo com deboche.

    Creio que meus punhos cerrados e meu olhar fervendo em direção a ela deixavam bem claro o quanto eu estava me controlando para não explodir. E apesar de perceber isso, ela não se intimidava. Nem um pouco.

_Minha proposta é essa. - Concluiu a megera, colocando alguns papéis sobre a mesa.

    Sequer olhei os papéis.

_Grato, vou analisar e lhe dou retorno. - Disse lhe lançando um sorriso claramente forçado.

_Se apresse, não tenho tempo a perder. - Legrand pegava sua bolsa e se levantava. - Espero sua ligação até o fim do dia. - Disse andando em direção à porta.

   Essa é a mulher mais arrogante e mandona que eu já tive o desprazer de conhecer!

    E apesar disso, não pude deixar de notar o jeito como ela anda pela sala... Passos decididos, porém, carregados de elegância. A face é determinada, e seus olhos - Ah, que belos olhos! - trazem mistério. Parece até... Uma felina.

    Antes de sair, ela se volta em minha direção, dá uma piscadinha juntamenre a um sorriso prepotente, e fecha a porta. Qual era o objetivo dela? Testar meu limite de estresse? Como ela conseguira me deixar com tanta raiva em uma conversa tão curta?

    Eu realmente não queria nada vindo daquela mulher. Ou melhor... Nada com relação aos negócios. Por que em outras questões, acho que ela não deixaria a desejar...

    Apesar de meu orgulho unido a arrogância daquela mulher me fazerem nem querer olhar a proposta, seria imprudente da minha parte deixar de avaliar aqueles papéis que podiam trazer a salvação da empresa por conta de uma opinião pessoal. Assim, chamei novamente o contador para que avaliasse comigo a viabilidade da proposta.

    Vez ou outra, enquanto lia, os olhos dela me vieram a mente. Aquilo despertava uma chama dentro de mim, de raiva e alguma coisa mais... Porém, logo espantava o pensamento e voltava à análise.

    No fim do dia, Carlos, o contador, estava decidido que aquela era uma boa proposta, além de afirmar que uma acionista mulher traria mais credibilidade para uma empresa de cosméticos e maquiagem.

    Bufei. Eu queria discordar, queria buscar qualquer coisa para me desvencilhar de uma associação com aquela mulher. Mas Carlos estava certo ao dizer que precisávamos daquele investimento.

    Então, tive uns dos momentos mais humilhantes da minha vida. Fui forçado a abrir mão de meu orgulho. Liguei para ela.

FelinaOnde histórias criam vida. Descubra agora