Entre Nuvens

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       De repente, acordo. Encontro-me em um pequeno quarto azul e bem arejado.
"Onde estou? O que faço?" Foram os primeiros pensamentos que tive ao despertar. Levanto-me e vou em direção à porta e, ao tocá-la, minha mente é turbinada por imagens e sons, tudo ao mesmo tempo, mas não consigo distinguir mais nada. Sinto minha vista escurecer e vou ficando cada vez mais zonza, mas me seguro antes de cair.
       Estou assustada, mas não desisto de tentar sair do quarto. Encosto novamente na porta, porém aquelas imagens e aqueles sons não me vêm mais. Desço as escadas e vejo que alguém está ali, desespero-me para pedir ajuda e na rápida avançada que dou para chamar-lhe atenção, caio junto de uma pequena mesa que havia ali.
        Levanto-me e quando começo a recolher os cacos...
        - Eu conheço esse vaso... Eu...
        - Não acredito! Você chegou mais cedo do que eu esperava!
        Aquela voz... Eu a conhecia. Mas não pode ser ele, não! Viro-me para ver seu rosto.
        - Meu irmão? Como? Meu irmão! É você?
        Ele sorri e nós nos abraçamos.
        - Tenho tantas perguntas! Tantas! - digo admirada segurando suas mãos.
        - Vem, vamos comer algo.
        Sigo-o até a cozinha. Tenho a impressão de conhecer essa casa, mas não sei de onde, parece-me familiar. Conversamos um pouco, mas ele sempre mudava de assunto ou distraía-se quando eu começava a falar como cheguei aqui.
          - Tudo isso não passa de um sonho! - digo para mim mesma.
           Subo de volta para aquele quarto e tento dormir, na expectativa de que quando acordar, tudo já tenha passado e isso seja apenas um delírio.
           Estou quase dormindo quando alguém bate na porta. "É real" digo em voz alta.
           - Pode entrar.
           - Venha, vamos dar um passeio.
           Saímos rua afora. Ao passar pelas casas, tenho a estranha sensação de conhecê-las de algum lugar. Continuamos caminhando, até que acústica um bosque e, perto da entrada, um senhor caminha em nossa direção.
            - É incrível como tudo aqui parece comum para mim. Não só as casas, mas também as pessoas.
            - Era assim comigo também quando cheguei.
            Fico em silêncio quando ele diz isso, faz lembrar-me de tudo, como cheguei aqui, o porquê de eu estar aqui e onde é aqui. Eu estava perdida, mas parecia que isso não importava. Continuamos andando e o senhor que vi continua em nossa direção, até que ele se aproxima e diz:
            - Julia, minha sobrinha! Como você chegou cedo!
            - O que...
            Antes que pudesse respondê-lo, vejo uma luz dentro do bosque e resolvo segui-la. Ela vai passando entre as árvores em alta velocidade e vou junto dela. Corro, quando paro para ver onde estou, encontro-me perdida. Não vejo mais a entrada do bosque.
             Ouço um barulho entre as árvores, noto a presença de uma linda garotinha.
             - Olá! Está tudo bem?
             Ela sorri para mim e se esconde atrás de uma das árvores. Chamo-a novamente, ela continua na brincadeira. Vamos brincando de árvore em árvore até que vejo a saída do bosque. Fico parada observando, até que percebo que aquela garotinha não está mais lá. Vejo meu irmão na saída e corro para seus braços em meio a lágrimas.
                - Você a viu? Hein? Você viu aquela garotinha?
                - Sim, eu a vi, ela vem sempre aqui.
                - E que lugar é esse que estamos? - falo em meio a lágrimas.
                - Julia, nós estamos no céu.
            
                             • • •
             
      Acordo com Liz me chamando. É cedo, há dias que não consigo pregar os olhos a noite toda.
     - Papai, papai! Eu a vi! Eu vi a mamãe! Ela estava num bosque com flores e árvores enormes! Ela brincou comigo! - ela chegou falando entusiasmada.

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