Eu estive te esperando

oh, ai está você.

"O amor existe, mas não pra mim"

Era a frase que Kevin repetia após mais um relacionamento fracassado. Não era como se ele tivesse alguma dúvida de que aquilo fosse realmente acontecer, afinal, parecia que todos os seus relacionamentos estavam fadados ao fracasso.

Nada dava certo. Nunca. Com ninguém.

Ele tinha uma lista muito extensa, repleta de namoros que acabaram rápido demais para ele sequer se sentir triste. Ele apenas sentia indiferença, porque no fundo, ele sabia que sempre daria errado.

Ele não se culpava, também não culpava seus diversos ex namorados. Gostava de culpar o mundo, o destino talvez. Ele era bem idiota. Talvez odiasse-o demais e não achasse que o Moon fosse merecedor de amor algum. E aquilo era triste. Mas não triste o suficiente para fazê-lo se incomodar com o fato de que, provavelmente, viveria mais alguns relacionamentos sem futuro algum até desistir daquela idéia e aceitar o fato de que estava destinado a viver sozinho. Para sempre.

Era o que ele dizia para aquele rapaz estranho que havia sentado ao seu lado no banco daquela praça, naquela madrugada fria de outono. Ele não sabia como, mas eles haviam começado a conversar em algum momento, e ali estava Kevin, falando sobre como ele era um fracassado quando se tratava de sua vida amorosa. Ele nem ao menos estava bêbado pra se abrir daquela forma.

- Você não acha que para sempre é muito tempo? - o loiro perguntou.

Seu nome era Jacob. Ele estava ali porque havia ficado trancado pro lado de fora do apartamento que dividia com o amigo. Sem saber onde estavam suas chaves, só restou sentar ali e esperar que o outro morador do apartamento voltasse pra casa, o que só aconteceria pela manhã. Ele também não conhecia muita gente ali, havia se mudado há poucas semanas, estava tão perdido que dava pena.

- Na verdade, eu acho ele bem relativo.

- Como assim?

- Pra mim, é relativo, assim como o tempo em geral. Para sempre pode variar de acordo com as pessoas, sabe? O meu para sempre pode ser diferente do seu. O que dura para sempre? O quanto dura o para sempre? Às vezes dizemos que algo vai durar para sempre, mas não necessariamente seja aquilo em si, mas o que te causou, as marcas que deixou em você. - disse enquanto gesticulava com as mãos.

- Você tem um ponto de vista bem complexo, até filosófico, eu diria. Mas, seguindo a sua lógica, a qual para sempre você se refere quando diz que vai ficar sozinho para sempre?

- Talvez eu não fique sozinho para sempre. Talvez apenas demore para eu conhecer alguém que finalmente vai fazer dar certo. Mas e se eu estiver cansado? E se eu simplesmente não quiser mais por conta de toda a bagagem e inúmeros fracassos que eu carrego? Sei lá, soa até engraçado ponderar isso, não é como se fosse realmente acontecer. - deu de ombros.

- Você é realmente muito complexo, Kevin Moon. - Jacob riu, sendo acompanhado pelo ruivo. - Para sempre é muito tempo, mesmo que seja relativo. A vida é muito longa, e o mundo é cheio de pessoas. Como pode reduzir algo tão grande quanto o amor em relacionamentos que não deram certo? Mesmo que você tenha um pensamento invejável e uma linha de raciocínio muito boa, não parece ter um olhar muito amplo. O mundo é muito grande, quem garante que a sua pessoa não está por aí? Ela pode estar agora mesmo acordando em algum país da América do Sul e você não faz idéia. Porque, como eu te disse, o mundo é muito grande. E cheio de pessoas também. Sei lá, talvez o teu alguém pode nem ter nascido ainda, já pensou nisso? - disse e viu Kevin fazer uma careta.

- Ew! Não, nunca! Aí já é demais até pra mim. - negou com a cabeça, o que fez o Bae rir. - Sabe, isso até que faz sentido, mas é meio deprimente. Quer dizer, e se a pessoa certa pra mim realmente existir e estiver lá fora pelo o mundo, como eu vou saber? Além disso, quais as chances de eu conseguir conhecê-la?

- Você simplesmente sabe. - deu de ombros.

- Simples assim?

- Simples assim. Quando é a pessoa certa, as coisas são simples, não se tem motivos para complicar. Você sente que é a pessoa certa, é como se a sua alma dissesse "Oh, ai está você. Eu estive te esperando".

- Você já encontrou teu alguém? Sei lá, você fala disso como se já tivesse vivido algo assim.

- Não. - Jacob riu e negou com a cabeça. - Eu só sou um romântico incurável. Eu acho que o amor é belo demais, muito grande. E acredito que muitas vezes acabamos por diminuí-lo a simples experiências mal sucedidas, como se isso anulasse sua grandeza. O amor existe para todos, desde que estejamos dispostos a amar. Às vezes a gente não percebe, mas nos limitamos, nos prendemos e não deixamos o amor entrar, e é isso que causa essa noção distorcida que a gente tem. Cara, o amor é lindo, a gente que estraga ele.

Kevin nunca imaginou que aquilo aconteceria algum dia. Ele estava sentado numa praça, quase congelando, contando para um estranho qualquer sobre toda a sua vida e ouvindo aquele garoto que tinha os óculos quase escorregando do nariz falar sobre sua visão de como o amor era. Quais eram as chances daquilo acontecer?

- Mas você também não acha que se entregar de peito aberto pro amor é um tanto quanto arriscado? - questionou.

- Sim, com certeza. É bem mais fácil de se machucar, na verdade, as chances de um coração partido são enormes. Mas essa é a vida. Coração quebrado não dura pra sempre. Depois do primeiro, a gente sempre vai procurar outras pessoas na tentativa de curá-lo, o que nem sempre dá certo. Mas a gente se acostuma e segue em frente até encontrar alguém que faz a gente se sentir tão bem que o coração não dói mais. Você simplesmente encontra ela, e na maioria das vezes é quando você já desistiu de procurar.

O Moon tombou a cabeça para trás e passou a fitar o céu escuro.

- Essa foi a conversa mais profunda que já tive com alguém. A gente realmente conversou sobre o quanto dura um para sempre e como a definição de amor está deturpada, inclusive por mim mesmo. Eu não imaginava que isso iria acontecer hoje.

- É, eu também não, mas foi até que interessante. Você tem uma mente incrível e pontos de vista realmente interessantes, Kevin Moon.

- Você também, Jacob Bae.

Jacob havia gostado de toda aquela conversa. Estava até mesmo agradecido por ter perdido as chaves e ter ficado trancado para fora do apartamento. Aquela havia sido uma conversa e tanto.

E ali naquele banco, observando o ruivo que encarava o céu e aleatóriamente começava a falar sobre como o Universo era grande e o quanto éramos insignificantes diante de sua grandiosidade, era quase como se, lá no fundinho, conseguisse ouvir algo dentro de si falar "Oh, ai está você. Eu estive te esperando".