Capítulo 14

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Começar pelas coisas mais simples era a primeira regra para alguém que queria descobrir mais sobre a vida dos outros. Nisso, Jack era excelente, não só pelos olheiros que tinha por toda Londres, mas pela facilidade que era pagar às pessoas pela troca de informações. Às vezes, algo que parecia ínfimo, se tornava tudo o que ele precisava saber, como era o caso.

A velha mexeriqueira com os cabelos desgrenhados relatara que, ao passear com a montaria, tinha visto toda a criadagem do Sr. Burmingham sair da casa de campo, seguindo o coche da família. Seguir a estrada até sua bifurcação tinha sido bem simples, os problemas começavam dali.

Comera mais do que conseguia suportar confortavelmente, como sempre fazia, e cavalgara por seis horas e meia sem parar até chegar ali. Desmontou da montaria para analisar a terra, mas ele sabia que era impossível conseguir muita coisa. O homem da estalagem que também cuidava de cavalos quando se era necessário fazer as trocas não soube dizer para qual lado da estrada o casal tinha ido, alegando que não era de sua conta e preferia não se meter na vida de cavalheiros como os clientes pareciam ser. Jack agradeceu, e seguiu pela estrada da direita.

Algumas horas incessantes de cavalgada se passaram, até ele perceber que não encontraria nada por ali — que tinha tomado o lado errado da estrada.

A madrugada estava gelada quando ele deu meia volta no cavalo e guiou-o até a bifurcação.

O homem da estalagem que recusara-se a ajudar mais cedo, após ser pago, ofereceu feno ao cavalo e um quarto, com duas refeições incluídas, por algumas moedas de ouro. Adormeceu, acordou mais tarde, mais atrasado do que de costume, comeu e montou novamente, indo pelo lado correto desta vez.

Não havia muita coisa para ver: apenas a grama que crescia, uma linha de árvores que seguiam meio torta até uma mansão na divisa da província. Jack não fazia idéia se eles tinham passado a fronteira, mas decidiu cavalgar até lá. Passou pelo portão fechado — o murro da frente servia apenas como fachada mostrando o nome do local, não havia guardas —, seguiu até o estábulo, onde um garoto franzino se assustou ao vê-lo.

— Poderia me dizer onde estou, por favor? Viajei de muito longe e o cavalo está cansado. Pode ver com os seus patrões se poderia me ceder um pouco de feno e água para o cavalo, e uma refeição para um viajante solitário que nem eu?

— Sim, senhor, com licença. Senhor. — o menino levantou-se da palha, pegou a rédea do cavalo e amarrou-a do lado de fora em que havia sombra, evitando contato com as baias onde estavam os cavalos dos patrões. Jack observou o menino desaparecer por um longo corredor ao passar pela porta de madeira maciça que mantinha a divisão metódica e extremamente organizar que tudo ali parecia ter.

Alguns minutos se passaram, ele constatou, olhando o relógio de bolso. Reclamou consigo mesmo por não ter observado o horário que havia posto os pés ali; tudo o que podia fazer era esperar.

— Mas é isso que estou dizendo, senhora. Pelo que esse senhor falou, ele não faz idéia de onde está e apenas pediu comida para si e o animal. — era a voz do menino que se assustara com a sua chegada, Jack tinha certeza absoluta, nunca se enganava com uma voz desde o primeiro momento que a ouvia. Guardou o relógio no bolso novamente, posicionando-se de uma forma em que acreditava que as pessoas que estivessem vindo de dentro da residência não conseguissem vê-lo, mas enganara-se. A ama a quem o garoto dava o recado girou apenas um pouco a cabeça para olhá-lo e seu sorriso desapareceu instantaneamente, mas ordenou que o menino desse ao visitante, ela disse a palavra num tom mais seco do que de costume, tudo o que ele precisava.

Jack não teve oportunidade para observar o rosto da senhora que deu ordens ao moleque, ele voltou correndo, deixou o cavalo em frente aos bebedouros e comedouros de modo que ele conseguisse circular por aquela área, apenas. Uma criada apareceu pouco depois dele agradecer ao menino, só para fazer Jack notar que a ama havia desaparecido logo que o menino voltara correndo para cumprir as ordens que havia recebido. A criada fez uma mesura e colocou um prato de comida embalado com um pano de prato em suas mãos, entregou-lhe talheres e se desculpou por não poder dar-lhe melhor atenção, mas que se precisasse de algo era só pedir ao garoto dos estábulos que ele lhe arrumaria. Jack agradeceu e se pôs a comer.

It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora