Assim que chegamos à fazenda, avistei minha mãe na porta. Ela continuava igualzinha: frívola e elegante.
Ao sair do carro, Yuri, meu outro irmão, anda até mim.
"Malu."
"Yuri."
"Bem-vinda."
"Agradeço mas me quero ir embora."
"Sabe que isso não acontecerá tão cedo."
"Você também quis ir embora. O que aconteceu com você?"
Antes que me pudesse responder, minha mãe disse meu nome e Yuri recuou.
"Mãe."
"Vejo que não mudou." – Disse reparando em mim da cabeça aos pés.
"Igualmente."
Ela se virou de costas para mim e andou até a porta.
"Sabe tudo sobre essa casa. Divirta-se." – Disse e entrou.
Yuri olhou para mim e imediatamente desviou o olhar e andou até ao carro que me trouxe. Eu o segui e segurei seu braço.
"O que eles te fizeram para te convencer a ficar?" – Sussurrei.
"O que te faz pensar que eles fizeram algo a mim?"
"O facto de que você mudou." – Ele olhou para mim e puxou o seu braço.
"Quem mudou foi você, Malu." – Disse, abrindo a porta de trás do carro – "Pegue suas coisas e entre logo."
Peguei minhas coisas e ele me escoltou até ao meu quarto. Lá, tudo estava conforme deixei, excepto uma coisa em particular...
"O meu caderno...?"
"Foi queimado no dia que se foi."
"Como assim?" – Ele não me respondeu – "Yuri...?"
"Continha demasiada informação."
Me sentei na cama e respirei fundo.
"Era a minha única lembrança da-"
"Não se atreva."
Me levantei e me aproximei dele.
"Era a minha única lembrança da Carina." – Disse calmamente – "Era a minha única lembrança da minha irmã morta pelos meus pais."
"Não foi isso o que aconteceu."
"Foi isso que disseram para você?" – Voltei a me sentar na cama e cruzei os braços – "A ingenuidade não assenta em você, Yuri. Mas não faz mal. Eu entendo..."
Ele simplesmente olhou para mim.
"Sem reacção sequer?"
"Estaremos esperando por você lá embaixo."
Ele se retirou e eu me deitei na cama. Pouco depois, meu celular vibra e eu checo a mensagem. Não havia remetente mas já se sabia quem era.
"Cuidado com o Yuri."
"Ah. Por favor. Ele é meu irmão."
"Mesmo assim. Tenha cuidado."
"Está exagerando."
Depois de alguns segundos, Raul bateu à porta.
"Sim?" – Eu disse enquanto a abria.
"As mensagens acabaram a partir de agora." – Ele sussurrou e me entregou um celular – "O seu celular senhorita."
"Obrigada."
Fechei a porta e olhei para o celular. Estava escrito "olhe para a janela" nele e então olhei para a janela. Havia um pombo lá. Um pombo-correio. Fui ter com o pombo e recebi a mensagem. Lá dizia:
"Está se tornando perigoso trocar mensagens electrónicas. Assim é melhor. Não vai querer gastar papel com bobagens, pois não?"
"Hm..."
Segurei na caneta e pensei no que escrever e acabei escrevendo simplesmente "Entendo... E eu vou ter cuidado..." e enviei pelo pombo.
Não esperei por uma resposta. Não havia tempo suficiente. Eu tinha de descer para enfrentar o resto da família...
Coloquei um vestido porque fazia imenso calor na fazenda e desci.
Na sala de jantar havia uma mesa com cerca de 20 lugares e ela estava posta. Imensa comida. 19 dos vinte lugares estavam ocupados por irmãos, primos e tios meus e o único que sobrou era ao lado de minha mãe. Lentamente andei até ao lugar e me sentei.
"Me passe o sal." – Disse minha mãe e eu quase que dei um pulo quando ela esticou sua mão.
Peguei o sal e a entreguei. Depois disso ficou um silêncio tremendo até eu deixar cair um copo.
"Lindo, Maria Lúcia." – Disse minha mãe – "Bravo."
"Muito obrigada." – Eu disse com o queixo levantado.
Todos olharam para mim com muita surpresa. Aquilo era um sério sinal de desrespeito.
"Malu!" – Disse minha mãe.
"Mãe." – Ela simplesmente olhou para mim – "Sabe que mais? Acho que perdi a fome."
Me levantei e Manuel, que estava do meu lado, me segurou pelo braço.
"Me solte."
"Malu..." – Ele sussurrou – "...pare."
"Não." – Eu disse e recolhi meu braço – "Sabe que estou aqui simplesmente ela minha segurança. Não preciso obedecer."
Saí andando e Yuri me seguiu até ao jardim da frente da casa.
"O que está fazendo?" – Disse – "Está louca?"
"O que você está fazendo? Hein?" – O empurrei – "Você quase morreu seu merda."
"Cuidado Malu..."
"Cale a boca." – Coloquei a mão na testa e fechei os olhos – "Simplesmente se cale..."
Ele se calou. E se aproximou de mim.
"Eu ainda sou o seu irmão Malu..."
"Não acredito em você, Yuri." – Ele tirou a minha mão da minha testa.
"Acredite."
Por mais estranho que pareça, eu acreditei instantaneamente. Havia algo no seu olhar que parecia sincero.
"Me desculpe..." – Eu disse.
"Não faz mal..."
"Acho que me vou deitar... Já não estou habituada a esse clima.
"Até amanhã então..."
"Até."
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GONZAGA (Não editado)
MaceraMalu se vê numa posição complicada quando descobre vários segredos de sua família e tem de entrega-la às autoridades.