O Salvo

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 kαηησρυs
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-- Ela não te contou então? -- Ele sorriu espremendo os olhos. Continuei parada esperando a resposta dele, então em súbito ele soltou uma risadinha nervosa -- Stella vai se mudar pra casa aqui da frente.

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Confesso que acabei por demorar a entender o significado daquelas palavras, ou meu cérebro simplesmente bloqueou todas as possibilidades de Stella morar em frente a minha casa. Por ora eu só conseguia olhá-lo esperando que ele dissesse que era brincadeira, mas ele simplesmente continuou:

-- Bem, você sabe... Mamãe sempre controlou a nós dois e ela já não aguentava mais isso. --Fez uma pausa e respirou fundo. -- Foi tão de repente que a gente nem acreditou, ela não avisou a ninguém. Simplesmente PUFF "Comprei uma casa, vou embora".

Por algum motivo eu sentia um pouco de mágoa na voz do rapaz, como se aquilo não fosse exatamente a sua vontade. Acredito que até hoje Kevin ainda sente a necessidade da irmã por perto.

-- E eu to aqui ajudando com a mudança. -- continuou, e riu, mas sem humor.

Dizer que eu me surpreendi seria mentira, Stella provavelmente só escondeu da família que tinha comprado uma casa por motivos que vão além da compreensão deles. Desde que a conheci, havia um fardo em cima da menina, um peso sobrecarregando as suas costas e esse peso tinha não só um nome, como dois: Kevin e Bella.

Se eu me lembro bem, há doze anos já havia uma dependência enorme da família para com a garota. Bella pedia para sua doce e obediente filha para fazer tarefas e essa não a questionava de jeito algum. E Kevin só era beneficiado por ser o mais novo.

Então, algumas coisas o tempo não mudou de certa forma. Concluí que obviamente nem Kevin e muito menos Bella gostaram muito da decisão de Stella. Bastava olhar pra cara do irmão dela pra ter certeza disso.

-- Entendo... -- Sorri sem mostrar os dentes e me pus a olhar para a casa atrás do rapaz. -- É uma casa muito bonita afinal.

-- Eu concordo. -- olhou para trás. -- Bom, eu tenho que voltar para lá. Foi bom te ver Nate.

-- Bom te ver também Kevin. -- Sorri.

Nos despedimos ali, vi as costas do rapaz correndo para o outro lado da rua e logo depois sumindo ao entrar na casa. Eu suspirei por fim e voltei a minha atenção para o meu Radar.

Não era um erro meu querer parar de pensar em tudo o que estava acontecendo. Era muito surpreendente, tanto que eu acho que vou levar um tempo pra processar que Stella tá morando em frente de casa agora. Era muita coincidência em questão de pouco tempo.

Sinceramente isso já estava começando a me irritar, aparentemente depois que ela reapareceu na minha vida eu comecei a ter problemas pra me concentrar nas coisas. Eu me sentia irritada porque não conseguia tirar ela da minha cabeça, irritada comigo mesmo e irritada com ela por ter me provocado no mercado e depois ter vindo morar na frente da minha casa.

-- Syfos, faça o diagnóstico do radar. -- ordenei.

-- Sim senhora. -- Ele respondeu simples. E logo após uma luz saiu do meu bracelete dando início ao diagnóstico.

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Maçuna era uma cidade não muito grande e por consequência disso, não havia uma base de entretenimento para jovens. Havia o comum, bares, boates, Pubs... Nada muito intrigante, mas serviria, caso você precise sair do mundo (eu já saí, mas não é desse jeito que eu to falando). Distrair um pouco a cabeça. E foi dessa forma que eu parei num lugar chamado O Salvo.

Antes da terceira Guerra, o Salvo era só uma fabrica de carrinhos para crianças, e infelizmente quando o conflito começou, a fábrica acabou sendo atingida por uma bomba, o teto do lugar e parte das caldeiras onde produziam os carrinhos foram destroçados. Mas magicamente os carrinhos ficaram intactos.

Por isso que hoje se chama Salvo. Mas não há nenhuma explicação pra ser um bar.

Indo direto ao ponto. Eu estava sozinha e chateada porque meu shot de tequila havia caído no balcão e o barman não queria me dar outro de graça. Eu fiquei um tempo só sentada lá sozinha até que por fim eu acabei percebendo que alguém me olhava ao longe. No meio das luzes. Era uma mulher.

Um vestidinho azul-turquesa sexy, Um corpo bronzeado artificialmente, loira quase platinada. Eu e ela nos olhamos e depois que eu ofereci aquela tequila eu só me lembro de acordar na casa dela no outro dia.

Agradeci mentalmente o meu despertador biológico por ter me acordado antes da moça que se eu me lembre bem o seu nome era Giulia. Pus minha roupa sem fazer barulho, digamos que eu tenha um leve problema com nudismo perto das pessoas. Peguei meus saltos e minhas chaves do carro e dei uma última olhada antes de deixar um recado no seu bracelete.

Por fim saí de lá com uma ressaca desgraçada. Só queria chegar em casa logo e tomar um banho, minha jaqueta fedia a bebida, além de que parecia que tinha morrido algum bicho dentro da minha boca e ficado lá por dias. Procurei os meus óculos escuros no chão do carro e assim que eu os coloquei dei a partida.

Era por volta de dez da manhã de sábado, minha mãe provavelmente havia ido a sua pequena conferência com as senhoras do bairro que também fazem crochê e coisas de senhora. E depois de vinte minutos na rua com o carro finalmente consegui chegar em casa mais ou menos sã, mas salva.

No meio do caminho da garagem para a porta de casa meus olhos desviaram-se sem querer para a casa da frente. E lá estava ela, sentada numa cadeira de balanço com um livro em sua mão, a garrafa de café na mesa redonda ao lado e uma torta. Aquilo não podia combinar mais com ela, todo aquele visual rústico e madeira sintética implantado em sua casa. Os pés descalços tocando o chão frio pela manhã, ela usava um shorts de pijama que destacava suas coxas pálidas e torneadas e uma camiseta branca fina que contrastava suas auréolas rosadas por trás do pano.

Ah Stella... Você amadureceu, e muito.

Senti meu corpo se agitar com a cena e logo que isso aconteceu parti para o meu destino sem mais interrupções.

...
Continua

2222 - O CÉU NÃO É O LIMITEOnde histórias criam vida. Descubra agora