Introdução

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   Era uma manhã fria e gélida, o clima parecia cooperar com o luto e a perda que enfrentávamos ali. O cemitério era tão lindo, uma grande área verde e florida, por fora havia montanhas, serras elevadas. Eu tinha viajado mais de uma hora só para estar ali e prestar minhas condolências, mas para minha surpresa eu chorei por trás daqueles óculos escuros e da maquiagem leve. Estava usando meu vestido preto, longo, fora presente dele e eu o vesti porque sabia que era seu preferido.

  Levantei os olhos do caixão que agora descia a terra e me deparei com a viúva, a namorada dele, aquela por quem ele havia me trocado. Diferente do que as pessoas achavam, eu não tinha raiva dela, ou dele, havia uma pequena parcela em mim que me fazia se sentir culpada, pois eu sabia o real motivo do porque ele me deixara.

  Mas agora nada disso importava, pois ele morrera e deixara nós duas tão quebradas quanto se era possível. Olivia parecia inconsolável, ela gritava e soluçava apoiada em seu irmão, tão perdida, senti pena dela e raiva dele. Raiva por ele ter morrido da forma que eu mais temia.

  Paulo era o típico rico aventureiro, adorava um rapel, caiaque e vários tipos de esportes radicais, ele se irritava comigo quando eu não queria participar das brincadeiras dele e quando eu falava:

- Isso pode te matar, um dia.

  Ah meu Deus, como eu desejava agora ter engolido essas malditas palavras, parece que minha "profecia" se cumprira. Por isso entedia a dor de Olivia, afinal ela vira o namorado despencar 10 metros em direção a morte e não houve nada que ela pudesse fazer para ajudá-lo. Segundo a perícia, a corda partira por desgaste e anos de uso, era difícil acreditar que ele fora tão descuidado.

  Levantei os olhos do caixão agora coberto por placas de concreto e nossos olhos se encontraram, os meus e os de Olivia. Ela institivamente levou as mãos a barriga ainda esguia e magra. Foi como ser atingida por uma onda. Ser levada ao fundo para depois submergir e ser arremessada a praia atordoada.

"Ela está grávida" Pensei.

Naquele momento agradeci aos céus por não ser eu a viúva e mãe de uma criança órfã de pai.

"Eu sinto muito" Sussurrei sem emitir som algum.

Ela deu-me um sorriso triste e desesperançado e apenas acenou levemente com a cabeça, demonstrando um certo agradecimento.

Dei as costas a todos e sai sem falar com ninguém, caminhei em direção ao meu carro, e ali na segurança de algo familiar chorei copiosamente.

Um novo recomeçoWhere stories live. Discover now