De la Cruz Gonzaga.

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Depois de tomar banho e fazer as outras coisas, desci e me sentei no único lugar que estaria sempre livre.

"Bom dia." – Disse.

"Bom dia." – Todos responderam.

"Precisamos conversar..." – Disse Yuri que estava sentado no lugar em que Manuel estava sentado no dia anterior. Simplesmente acenei com a cabeça.

Silenciosamente, me servi e comecei a comer. Depois da cena que fiz, ninguém conseguia sequer olhar para cima.

De novo, minha mãe fez aquilo do "me passa o sal" e eu entreguei sem dizer coisa alguma. Dessa vez tive muito cuidado para não deixar cair na partir nada.

Quando terminámos de comer, Yuri me puxou para os estábulos.

"Você está bem?" – Perguntei e ele olhou para o lado e depois para mim.

"O que você está fazendo se envolvendo com o pessoal da Interpol?"

"O quê?! O que está insinuando?"

"Você não tem nada a ver com a Interpol?"

"Como eu haveria de ter alguma coisa com a Interpol? Tá louco?"

"Malu..."

"Yuri! Gah!"

"Venha comigo..."

O segui para dentro dos estábulos e me sentei num dos bancos enquanto ele foi até dentro de uma das células.

"Yuri?"– Eu disse depois de algum tempo – "O que está fazendo aí?"

Me levantei e pensei em ir até à célula mas ao invés disso espreitei por baixo enquanto ia em direcção da saída.

"Yuri?"

Senti o meu corpo embater contra uma parede mas rapidamente me apercebi de que não é uma parede pela presença de roupa áspera.

"Para onde vai assim?" – Disse a "parede". Me virei e dei de cara com Travis – "Devia olhar para onde vai."

"O quê que...?" – Mordi a língua ao lembrar que Yuri estava por perto – "Quem é você?"

Ele sorriu e Yuri saiu da célula.

"Pensei que fosse falhar..." – Disse Travis.

"O que quer dizer com isso?" – Eu disse.

"Ele diz que pensou que fosse agir como se conhecesse comigo por perto." – Disse Yuri e eu me virei para ele– "Agora não precisa mais fingir."

Fiquei um tanto pasma mas não muito. Era de se esperar que Yuri tivesse alguma coisa a ver com essa operação.

"Me diga.." – Eu disse – "O quê disse para eles?"

"Não foi preciso dizer nada." – Disse Yuri.

"E você?" – Perguntei virando para Travis – "Quem será você nessa história?"

"Vai saber." – Disse Travis – "Agora precisa se preocupar com o facto de que mesmo que faça parte da família, eles podem desconfiar de você."

"O que fez esse tempo todo?" – Perguntei para Yuri, que simplesmente olhou para mim – "Não vai dizer..."

"Hoje eu vou dar as caras." – Travis disse na tentativa de quebrar o gelo.

"Isso não é perigoso?" – Perguntei.

"Muito... Mas mais ninguém se atreve a atravessar esses portões." – Disse Travis.

"Talvez eu deva voltar..." – Disse Yuri – "Há um..."

"Um?" – Perguntei.

"Um carregamento." – Disse Yuri.

"Ah... Eu tenho uma pergunta..." – Eu disse – "Como é que têm tanta certeza de que ninguém consegue nos ver ou ouvir?"

"Às vezes..." – Disse Travis, olhando directamente para os meus olhos – "...há que se confiar... Além disso, há coisas confidenciais que nos mantém vivos."

Yuri se retirou e Travis continuou olhando para os meus olhos.

"E-eu... Eu acho que também devo ir..." – Eu disse, não conseguindo desviar o olhar dos olhos dele.

"Claro..."

"Então..."

De repente, ouvi um barulho parecido com um tiro mas que de certeza não era. Travis não se mexeu nem sequer um centímetro e eu, por estar distraída no seu olhar, também não.

"Devia me afligir?" – Perguntei.

"Não..."

"Ah..."

"Estava indo embora, certo?" – Disse depois de sacudir a cabeça.

"Ah, sim..." – Eu disse sacudindo a minha cabeça e andei até à porta – "A-adeus... Eu... Sim... Isso... Tchau."

Saí dali praticamente correndo até a entrada de casa, onde me encontrei com meu pai.

"Senhor Gonzaga?" – Disse Teresa – "Ah, eu volto depois..."

Teresa saiu dali correndo de verdade. Acho que ela sabia o que ele estava guardando para mim.

"Lúcia." – Ele disse – "Sabe que não está aqui simplesmente porque tenho assuntos lá fora que envolvem você mas sim porque você é minha filha."

"Claro, acredito."

"E por ser minha filha..."

"Não..."

"...terá que fazer a tatuagem."

"Eu não quero fazer a tatuagem."

"Terá que tatuar o nome da família..." – Comecei a abanar a cabeça – "...para continuar a fazer parte da família."

"O quê?" – Parei de abanar a cabeça.

"Ouviu bem. Terá de tatuar "De La Cruz Gonzaga" em si ou deixará de fazer parte da família."

"Eu sempre quis deixar de fazer parte da família. O que acha que mudou para isso me-"

"Protecção." – Engoli à seco – "Eu tenho muitos inimigos Malu, sabe bem disso. Mesmo que eu diga que já não é uma Gonzaga, isso não importará para eles. Será morta assim que tirar os pés dessa fazenda."

Queria acreditar que ele não era capaz disso mas era mentira, ele era bem capaz.

"Eu..."

"Eu não tenho muito tempo para você decidir." – Olhei para os meus pés – "Quando saiu daqui era muito nova, quase desconhecida. Agora que veio para cá, não há como negar que tem relações com essa família."

"Você é um monstro."

"Agradeço o elogio mas não é isso que quero que diga."

"Eu... Eu aceito."

"Óptimo."

GONZAGA (Não editado)Onde histórias criam vida. Descubra agora