Capítulo 20 - TODO MUNDO SABE SOBRE EDUARDO

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Nunca achei que Eduardo pudesse ser mais distante comigo do que já era desde o dia em que Rafaela decidiu me chamar para ir ao Café da Neide.

Na segunda-feira ele chega todo calado e se ele simplesmente olhou para mim por um segundo, eu não fui capaz de perceber. De vez em quando eu viro a cabeça e olho para ele, que fica todo concentrado em seu caderno. Ele está usando uma bota imobilizadora escura, como os garotos haviam falado, e sua perna fica para fora da mesa, o que me parece um pouco desconfortável. Tenho vontade de virar e pedir desculpa pelo ocorrido, mas fico com vergonha de fazer isso na frente de todo mundo.

De noite, quando nos reunimos na Toca para o Clube do Livro (finalmente terminei O Ladrão de Raios) ele fala sobre o livro que leu nessa última semana (A Missão, da Stefani P. Paludo) e novamente nem olha para mim. É como se eu nem existisse — talvez eu até pensasse isso se não tivesse um clima realmente ruim rondando entre o grupo todo.

No fim Samuel sugere que todos leiam o mesmo livro para discutirmos juntos sobre ele.

— E qual seria o livro? — Rafaela pergunta.

— Eu tava pesquisando livros sobre bullying, por causa do ocorrido... — Ele diz e me olha sorrindo meio envergonhado. — E eu encontrei esse livro chamado Yaqui Delgado Quer Quebrar A Sua Cara.

— Eu já li sobre esse livro. — Nicolas fala. — Parece ser bom, por mim pode ser esse.

Aí todo mundo vota e é unanime. Logo todo o grupo se separa: Eduardo vai para o computador jogar, Denis vai para a cozinha, Samuel pega o telefone e começa a assistir a uns vídeos de músicas, e Nicolas e Rafaela me ensinam a comprar o e-book do livro que vamos ler e qual aplicativo devo instalar para lê-lo.

[+]

É terça-feira e por mais que eu não seja um cara otimista, realmente pensei que as coisas pudessem estar melhores em relação a Eduardo. Mas tudo o que constato é que ele é ótimo em me ignorar e talvez até tenha começado a acreditar com fidelidade que eu não existo — se continuar assim, até o fim da semana eu vou ter certeza que não existo mesmo e sou apenas criação da mente de algum maluco qualquer.

De tarde, no café, fico pensando sobre o clima ruim que estava pairando na toca na noite anterior, e que isso é tudo culpa minha. Fico me sentindo horrível por estar fazendo isso com eles.

— Problemas no paraíso, de novo? — Pedro diz se aproximando do caixa enquanto seca as mãos em um guardanapo.

Respiro fundo e o encaro.

— O Eduardo está com raiva de mim por causa do que aconteceu com ele no campo.

— E é só por isso?

Balanço a cabeça.

— Não, na verdade desde que eu entrei para o grupo ele tem se mostrado ser bastante distante. Só que as coisas estão piores agora. Bem piores!

— Eu meio que imaginei isso. — Ele diz e eu fico confuso, o que deve transparecer em minha expressão já que ele logo se explica. — O Edu é famoso por ter dificuldade em aceitar mudanças. Meu irmão não me disse nada sobre como ele recebeu sua entrada no grupo, mas eu imaginei que não seria tão fácil.

— E o que eu faço agora? Tá rolando um clima superestranho entre os NERDS e a culpa é toda minha!

— A culpa não é toda sua, não é como se você tivesse invadido o grupo. Mas acho que você vai precisar esperar, em algum momento ele vai se acostumar com sua presença.

Ele diz abrindo um sorriso, mas sei que ele pensa que esse tempo pode demorar mais do que podemos calcular.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora