Olhei o relógio que ficava na parede do caixa pela centésima vez e certa de que não ia mais me atrasar, eu já estava atrasada. Já eram mais de cinco e meia da tarde.
Aquele dia na Sabor&Cia estava mais do que atípico, primeiro a manhã foi calma demais e eu imaginei que a calmaria fosse se estender pelo resto do dia, mas como me enganei. Após o almoço, a frequência de clientes começou a aumentar até que já passava das cinco da tarde – meu horário de saída – e eu ainda estava lá, servindo as mesas que estavam lotadas. Liz com certeza já estava liberada na ONG, mas eu simplesmente não conseguia largar, o pequeno espaço estava entupido e eu não poderia simplesmente ir embora, tendo em vista toda a gratidão que tinha para com dona Cecília e Regina. Precisava ajudar, porém também precisava pegar Liz. Então, eu estava em uma sinuca de bico.
- Três sanduíches, dois pasteis e cinco sucos de morango. – conferi o pedido da mesa dos adolescentes. – Algo mais?
- Por enquanto é só isso. – um deles usou da educação para me responder, tendo em vista que os outros conversavam de maneira barulhenta como se eu não estivesse ali ao lado.
Assenti e me virei. O choque foi imediato quando vi Liz sorrindo, com sua mochila cor de rosa nas costas de mãos dadas com Heitor, que estava me olhando meio sem graça ou contrariado, eu não sabia dizer exatamente.
- Princesa Mari! – minha irmã se soltou e correu em minha direção. Eu a abracei por puro impulso.
Estava na realidade com uma raiva crescendo em meu interior. Tudo bem que ele gostava muito da minha irmãzinha, tudo bem que ele era cuidador no período em que ela estava na ONG, mas com que direito ele a tirou de lá, sem minha autorização? Quem ele pensava que era?
Eu o fuzilei com o olhar.
- O que fazem aqui? – perguntei.
- Trouxe Liz para você. – ele respondeu.
- Quem te deu o direito de tirá-la de dentro de um local seguro e a trazer com você? – cuspi a pergunta de maneira ácida. Ele se achava demais pelo visto e não fazia ideia do quanto eu detestava gente assim. Heitor passou a mão pela nuca. –Vá para a cozinha com a dona Cecília, Elizabeth. – mandei. – Eu preciso conversar com o Heitor. – disse por fim e ela assentiu.
- Não briga com ele. – pediu.
Mas dessa vez não dava para atendê-la, eu realmente estava chateada.
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Na luz do seu olhar
ChickLitHeitor Stein Müller é o herdeiro da SM Interprise Ltda, empresa multimilionária que sua família comanda há décadas. Só que Heitor não gosta de pertencer ao mundo em que nasceu e vive. Heitor é simples e não gosta do glamour que encobre até a alma de...