Let's Be Friends

Não me deixa

Eu não dormi naquela noite.

Vi o dia amanhecendo enquanto sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto até encharcar meu cabelo e, depois, meu travesseiro. Meu despertador tocou e eu o desliguei e continuei deitado.

Eu não queria ir pra escola. Não queria ver Hyukjae. Eu não queria ter que fugir dele pra que ele não visse o estado deplorável em que eu estava.

Não queria ter que sair com Kibum depois.

Eu só queria me afundar na cama e esperar uma morte lenta e dolorosa, que viria com o tempo.

Mas, então, comecei a ouvir barulhos vindo da cozinha e sabia que, logo, minha mãe estaria batendo na porta pra me acordar, achando que eu perdi a hora.

Olhei pro teto e respirei fundo, tentando criar coragem pra me levantar, quando ouvi um barulho de notificação.

Peguei meu celular e vi o nome de Hyukjae na tela.

E lá estava eu chorando de novo.

Sequer abri a mensagem e me forcei a levantar, mesmo que todo o meu corpo doesse após uma noite não dormida e por eu ter ficado chorando durante 90% do tempo.

Me arrastei pro banheiro e sentei no chão do box, deixando que a água caísse sobre as minhas costas enquanto eu chorava mais um pouco.

Quando desci pra tomar café, eu já estava atrasado e sabia que chegaria depois do horário.

- Poxa, Donghae, eu pedi pra você dormir cedo mesmo com os seus amigos aqui, não pedi? Agora você vai se atrasar por bobeira!

Minha mãe dava seu sermão e eu mal a ouvia enquanto descascava uma banana apenas pra fingir que estava comendo alguma coisa. Ela, pra variar, estava muito ocupada me dando as costas pra notar meu rosto totalmente inchado e minhas olheiras gigantescas.

- Vai comendo no caminho! - me empurrou pra fora da cozinha e me deu um beijo na cabeça pra se despedir e voltou ao que estava fazendo.

Eu olhei pra ela de costas, lavando a louça, uma última vez antes de rumar pra porta.

Queria tanto poder contar com os meus pais pra isso. Mas eram eles mesmos que estavam sendo usados pra me chantagear.

Caminhei até o ponto e peguei o ônibus, ainda meio aéreo, até saltar na pracinha em frente a escola e minha ficha cair.

Meu queixo tremeu, mas eu me segurei pra não voltar a chorar e caminhei até o portão.

O sinal já tinha batido, então não havia ninguém no corredor. Agradeci mentalmente e corri pro banheiro do segundo andar, perto do estúdio de fotografia, e me tranquei lá.

Sentei sobre a tampa de um dos vasos dos reservados e desabei de novo.

- Hyukjae... - eu sussurrava seu nome como se ele pudesse me ouvir - Hyukjae, eu sinto muito... - soluçava enquanto sentia minha cabeça doer tanto que parecia que ia explodir - Eu queria que as coisas não fossem assim... se, ao menos, eu tivesse vindo pra cá ao invés de ter ido pra escola que eu conheci Kibum, as coisas poderiam ter sido diferentes... poderíamos estar comemorando aniversário de namoro. Ou eu seria de outro grupo de pessoas e nós dois nos odiaríamos até sermos forçados a fazer algum trabalho em dupla e acabarmos nos apaixonando - ri sozinho, lembrando que foi, praticamente, assim que tudo começou.

Me assustei quando meu celular vibrou e vi que era outra mensagem de Hyukjae.

Ele devia estar preocupado, já que não avisei que tinha chegado em casa ontem e não o respondi até agora. Mas eu não tinha coragem de abrir nossa conversa.