Simplesmente Sua

Prólogo

A peruca mudaria sua vida.
    Mal contendo a alegria, Michelina tirava a tiara e cobria o cabelo preto com a peruca castanha. Limpará do rosto a maquiagem e trocara seu elegante vestido por simples saia e blusa surrupiadas há alguns meses de sua nova cunhada, Tara York Dumont. 
    Todos haviam comentado as mudanças que Michelina introduzira no guarda- roupa e no estilo de Tara. Não imaginaram, porém, que, enquanto fazia isso, Michelina aprendia com a cunhada e observava as vantagens de ser uma pessoa comum. Mulheres belas e produzidas são sempre notadas. As simples, no entanto, desapareciam, e era isso exatamente o que Michelina pretendia. Claro que Tara não era simples. Só se vestia da forma mais banal era só para atrapalhar as tentativas de seu pai no sentindo de lhe arranjar marido. Nicholas, o irmão de Michelina, vira além dos estratagemas de Tara, e os dois se descobriram almas gêmeas.
    Lindo, Michelina pensou, pestanejando. Mas ainda queria aproveitar muito a vida antes que sua mãe, a rainha da ilha de Marceau, a casasse com o conde Ferrar, da Itália.
     Ao som da música da festa, diante do espelho, na casa da prima, em Páris, Michelina colocou as lentes de contato coloridas que, tal como passaporte falso, foram comparados pela internet. Outro fruto da observação de Tara. Inacreditável o que se pode comprar pela internet para alterar a cor dos olhos; os seu, singularmente cinzentos, estavam castanhos, e seu coração acelerava ao ver sua imagem refletida. Quase não se reconhecia !
    Ao jogar o passaporte e o resto de seus pertences na bolsa, Michelina respirou fundo; em seguida saiu do banheiro e atravessou a multidão de convidados. Seus guarda- costas estavam perto da porta principal. Além de protegê- la, estavam prontos para evitar que fugisse, no último mês, Michelina se contivera diversas vezes, com o único objetivo de persuadir sua mãe a deixá- la ir á festa da prima.
     Aproximando- se dá entrada principal, ela se voltou para a governanta e justificou em tom de voz previsto para não ser ouvido ao redor: - Preciso de um pouco de ar.
- Pois não, senhorita.
- Merci beaucoup. - Michelina cruzou a soleira da porta e se afastou, o coração disparado; atravessou o saguão e desceu as escadas. A sorte estando a seu favor. Logo o porteiro lhe conseguiu um táxi. Com os músculos tensionados, Michelina sabia não estar livre ainda. No aeroporto Charles de Gaulle, o percurso lhe pareceu infinito e as palmas de suas mãos suavam. O que aconteceria se descobrissem que o passaporte era falso ? E se lhe arrancassem a peruca ?
   Seus medos, porém, se mostraram infundados: embarcou, enfim, pela primeira vez, na classe econômica. Pensou em Nicholas, em Tara, no irmão mais velho Michael, e na outra Cunhada, Megan; Ficariam preocupados. Sentiu culpa, mas imediatamente lembrou- se do segredo que lhe haviam escondido, e, então, raiva e determinação a dominaram por inteiro.
   Tinham pensado que ela não saberia lidar com a notícia: o irmão que, por tanto tempo, a família acreditava estar morto, de fato estava vivo e morando nos Estados Unidos. Mostraria a todos que estavam equivocados. Faria melhor: ela o encontraria e o traria de volta. Provaria que não era uma princesa inútil.
   O avião deslocava- se rapidamente, os motores a ensurdeciam, e o impulso da decolagem a mantinha presa á poltrona. A euforia percorria o corpo da princesa Michelina Dumont. Escapara.
      Seu pensamento já estava na América. Primeira parada: Wyoming.