Liberdade

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 Neji costumava se sentar no alto de um desfiladeiro todos os dias ao pôr do sol. A brisa da tarde passava por seu rosto enquanto emaranhava seus cabelos e o mesmo contemplava os últimos raios de sol se esvaindo no céu , com uma mistura de tons que variavam do laranja ao rosa e embelezavam ainda mais aquela vista que ele tanto admirava.

 Pássaros...

 O garoto de orbes peroladas observava atentamente. E lá estavam eles, voando pelo céu, tão graciosos, tão... livres. Será que um dia ele seria tão livre quanto aqueles pássaros? O Hyuga esboçou um leve sorriso, que passou despercebido pelo mesmo, ao imaginar tamanha façanha. Instintivamente levou sua mão à bandana, que escondia o selo, e seu sorriso se desfez.

 Ele era apenas um pássaro, sim, um pássaro preso em uma gaiola, ansiando sentir o gosto da liberdade e assim passaria o resto de sua vida. O que ele poderia fazer? Era seu destino, teria que aceitar, afinal, não se pode lutar contra o próprio destino, pode?

 Suspirou, recordando-se de seu pai. Hizashi havia tomado uma decisão, sua própria decisão. Havia conquistado a liberdade e fez o que precisava fazer, acima de tudo, fez o que havia decidido fazer. Era isso que Neji almejava, poder trilhar seu próprio caminho, tomar suas próprias decisões, fazer suas escolhas, ser livre... Como os pássaros que acabara de ver.

 Era frustrante olhar para a família principal e constatar que ele nunca poderia ter nem metade daquilo, afinal, quem ele pensava que era? Ele era apenas um reles membro da família secundária, não passava de um escravo do seu destino, do destino que lhe foi imposto. Se sentia impotente. Fraco.

 Olhava para as pessoas e pensava o quão cegas eram, pois tinham tudo em suas mãos e não davam valor à isso, agiam como se a liberdade de tomar suas próprias decisões não fosse grande coisa, como se qualquer um tivesse essa dádiva. E era verdade, qualquer um podia fazer isso, exceto ele e o restante da família secundária. Isso o enfurecia. Por que ele não poderia ser como os outros? Por que tinha que ser assim? Até quando a família principal pisaria neles dessa forma, usando o temor e a violência para mantê-los sob controle?

 Suspirou olhando mais uma vez para o horizonte. Apesar de tudo, ele tinha pessoas ao seu lado, pessoas que ele amava e que lhe amavam. Quando estava com elas se esquecia de sua triste prisão, era como se elas o fizessem olhar por entre as grades de sua gaiola, até por um momento não enxergá-la mais. Essas eram pessoas que ele daria tudo para proteger.

 A brisa mais uma vez soprou contra o Hyuga que fechou os olhos saboreando a sensação.

 Paz.

 Aquele era, sem dúvidas, seu lugar preferido. Onde podia ficar sozinho e refletir, sem ninguém para lhe importunar. Foi ali, naquele dia que decidiu. Ele seria livre, não sabia como, apenas sentiu que poderia ser como os pássaros que tanto admirava, e por um instante se permitiu esquecer todos os seus problemas e sorrir. Apenas sorrir. Isso era tão raro...

 E agora lá estava ele, fazendo sua escolha e protegendo aqueles que lhe eram importantes. Nunca imaginou que o que ele desejou à tanto tempo de fato aconteceria.

 Essa é a tão sonhada liberdade? Então deve ter sido assim que seu pai se sentiu? A sensação de seu selo se esvaindo... Era tudo tão diferente. Sim, ele estava morrendo, mas estava feliz, estava livre, porque agora ele era como um pássaro. Não um pássaro acorrentado, preso em uma gaiola, mas um pássaro como os que tanto admirava - e até invejava -, voando para onde queria, fazendo seu próprio caminho, livre.

 Sorriu e fechou os olhos...

 Ele venceu o destino.

 Ele venceu o destino

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Como um PássaroOnde histórias criam vida. Descubra agora