Por favor, Deus, por favor.
Respirou fundo e fechou os olhos para se concentrar em outra coisa que não fosse o barulho das máquinas apitando e as vozes dos médicos.
Sabia que tinha algo errado com ela, sabia desde que começou a sangrar no apartamento, pouco antes de apagar. Tinha deixado o medo tomar conta de todo o seu ser até poucos minutos atrás.
Mas não mais.
Dizem que quando nasce um filho, nasce também uma mãe. E ela tinha acabado de renascer, no mesmo instante em que Olívia deu seu primeiro respirar. Tinha sido tomada por uma coragem que ela nunca imaginava possuir, uma coragem que só sua filha poderia lhe trazer.
O medo deu lugar a certeza de que conseguiria passar por tudo aquilo. Pela filha, por ele, pela vida inteira que tinha pela frente.
Se apegou em cada sopro de fé que tinha em seu corpo. Lembrou das palavras que Rodrigo lhe disse na noite em que colocou em seu pescoço o colar que dizia Amor e Fé. Queria ter a jóia ali para se agarrar com todas as forças.
Uma promessa de que temos uma infinidade de coisas pra viver.
E por Deus, eles tinham. Desde que se apaixonou por ele sua vida era uma eterna descoberta. Tinha aprendido tanto, tinha conhecido tanto, tinha sido imensamente feliz. E continuaria sendo.
Agora tinham a aventura de suas vidas pela frente. Tinham que descobrir como ser pais, da garotinha de cabelos escuros e olhos verdes que há tempos povoava seus pensamentos. E agora ela era real. E ela e Rodrigo fariam isso juntos.
Sentiu-se apagar lentamente enquanto imaginava um futuro tão lindo quanto a filha que acabara de dar à luz.
—
Sentia o corpo todo doer. Estava exausta e por um momento pensou em não abrir os olhos e deixar o sono lhe tomar novamente. Desistiu quando lembrou de tudo que tinha passado nas últimas horas. Horas? Ou seriam dias? Não sabia quanto tempo tinha ficado desacordada e, sinceramente, não importava.
Estava viva.
Abriu os olhos lentamente. Pouco enxergou na escuridão do lugar em que estava. Percebeu que era noite e que ainda estava em uma cama no hospital. A claridade de um abajur em um canto do quarto lhe chamou atenção.
A cena que se apresentava diante dela lhe arrancou o maior dos sorrisos, e lhe deu a certeza de que tudo pelo que tinha passado valeu a pena.
Rodrigo estava recostado em uma poltrona. Parecia dormir profundamente, e mesmo de longe e no escuro ela conseguia perceber que ele estava exausto. Talvez mais emocionalmente do que fisicamente.
Deitada em seu peito tinha um pacotinho que parecia dormir tão profundamente quanto o pai. Estava embrulhada em uma manta branca e Rodrigo a segurava tão perto de si quanto podia.
Se ela tivesse forças teria gritado aos céus em gratidão pela vida e pela pequena família que tinha formado.
Os olhos dele se abriram calmamente, como se estivesse sentindo os olhos dela sobre ele. Renasceu pela segunda vez naquele dia quando os olhos verdes encontrarm os castanhos na meia luz daquele quarto.
Ficaram se olhando por uma eternidade como se fosse a primeira vez que se viam. Não precisavam dizer nada. A quietude daquele momento o tornava muito maior do que já era.
Os olhos disseram todos os "obrigados", "graças a Deus", e "eu te amo" que eles queriam dizer. Depois de tantas lágrimas, sorrisos.
A morena tentou se ajeitar e sentar melhor na cama, ignorando a dor da cirurgia, enquanto Rodrigo levantou-se com todo cuidado possível para não acordar a bebê que dormia em seu colo e se dirigiu a ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Momentos de nós dois
RomanceUma série de capítulos sobre momentos importantes do relacionamento dos benzinhos.