3.

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3.

I

Carolina foi introduzida no escritório do padrasto e sentiu seu estômago revirar de medo ao notar o plástico que recobria todo o piso. Se não a tinham deixado morrer mais cedo, à beira do rio, era porque cabia ao padrasto a "honra" de matá-la.

Ainda estava entorpecida pelos analgésicos que o Dr. Pontes lhe deu ao tratar de seu ferimento. Com um sorriso satisfeito, ele lhe contara com orgulho, que fizera um trabalho tão bom ao costurar o buraco que a bala deixou ao macular seu corpo, que a cicatriz quase não seria notada.

"Um desperdício de tempo", ela pensou. Afinal, não demoraria muito para que outra bala encontrasse abrigo em seu corpo.

Santiago a forçou a se ajoelhar sobre o plástico com evidente prazer e ela lhe enviou um olhar desafiador, embora não sentisse toda a coragem que tentava demonstrar. De fato, estava morrendo de medo e não queria que aquele homem desprezível se divertisse com seu temor.

— Onde está o dinheiro? — Marcos perguntou por trás de uma cortina de fumaça do charuto que tinha nas mãos.

— Não sei — respondeu com esforço, um sabor amargo em sua boca.

Santiago desferiu um tapa violento em seu rosto e ela tombou para trás.

— Onde está o dinheiro? — ele perguntou com sua voz grave e anasalada, incomodando seus ouvidos.

— Eu não sei! — ela repetiu, colocando-se de joelhos outra vez para voltar ao chão logo em seguida, após receber um soco dele.

Sangue morno jorrava de seu nariz, enquanto ela se dava conta da presença de sua captora. Carla estava recostada na porta com os braços cruzados. Ainda usava as mesmas roupas com as quais a encontrou no rio. Grãos de areia fina e branca estavam grudados nela, alguns tingidos de vermelho, o vermelho do seu próprio sangue de quando ela a levou para o carro após matar Miguel.

Seu olhar ainda era tão frio e inexpressivo quanto treze anos antes, quando a viu pela primeira vez, caminhando para uma morte semelhante a que teria dali a poucos instantes.

Santiago a puxou pelos cabelos, fazendo com que retornasse à posição inicial.

— O que fez com o dinheiro?

Ela cuspiu um pouco de sangue na camisa branca dele e deixou um sorriso vermelho à mostra. Se o fim estava próximo, não havia motivos para não sorrir diante dele.

— Estava com Bento quando ele caiu no rio — respondeu, evocando a lembrança do rapaz que, naquela manhã, havia lhe sorrido, enquanto lhe falava do futuro que os esperava longe daquele lugar amaldiçoado.

— Sendo assim, você não tem mais nenhuma serventia — Santiago falou com desdém.

Ela voltou a cuspir um pouco de sangue e, junto com ele, um de seus molares.

— O dinheiro era uma ninharia, serviria apenas para dar início a uma nova vida — dirigiu o olhar para o padrasto. — Você ganha isso em uma volta até a esquina.

Irritado, Santiago a chutou e ela sentiu a dor tomar conta de seu corpo, arrancando o ar de seus pulmões. Ainda se recuperava, curvada sobre o próprio ventre, quando Marcos falou:

— Como você disse, é uma quantia insignificante. Mas, a verdadeira questão aqui não é o dinheiro e, sim, a traição.

Havia chegado a hora. Encontraria Bento na morte e estariam livres, finalmente. Marcos se ergueu e deu a volta na mesa, nas mãos uma pistola 9mm.

Crimes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora