19.

5.6K 356 54
                                    


I

— Não chorava desde a infância — Carla revelou.

Estava sentada na poltrona diante da janela, observando a noite fria. Carolina estava parada ao lado dela fitando-a com curiosidade. Sentou em seu colo e foi recebida com um beijo estalado no rosto.

— Por que isso não me surpreende? — perguntou em tom de brincadeira, escondendo seu rosto entre os cabelos dela para que não visse seu desconforto ao recordar seu pranto. Definitivamente, aquele momento jamais sumiria de sua memória.

Carla riu, mas se deixou cair em pensamentos sombrios por alguns instantes.

Dividir aquele momento sublime com Carolina, a mulher com quem sonhou por tanto tempo, foi o estopim para liberar todas as lágrimas que havia guardado por tantos anos. Foi tudo tão intenso que seu emocional desmoronou. Em parte, se sentia incomodada com isso, mas por outro lado apreciava tê-lo feito. Era a primeira vez em anos que se sentia realmente humana.

A maior parte do seu choro foi de alegria, mas houveram lágrimas de tristeza e raiva também. Tristeza pelos entes perdidos na infância e na adolescência, pela vida que poderia ter tido se a tragédia que a privou do seio de sua família não tivesse acontecido. Raiva por se sentir tão vazia e tantas outras coisas.

— Quantos anos exatamente? — Carolina questionou, curiosa.

— Vinte.

— É muito tempo para não chorar.

— Havia me esquecido como era...

Carla deslizou as mãos por suas madeixas negras, sentindo a maciez dos fios. Aquele momento era um sonho lindo e permaneceram na simplicidade daquele abraço por algum tempo.

— Maria me ameaçou com uma faca mais cedo — Carolina revelou, recordando o ocorrido e se afastou para fita-la.

Carla sorriu, incrédula.

— Maria?!

— Ela estava assustadora — continuou Carolina, enquanto desenhava os lábios dela com a ponta dos dedos. — Aparentemente, ela pensa que sou capaz de magoar você.

Carla acariciou sua mão, pensativa, então fixou o olhar no dela.

— Você é — revelou em um sussurro e a beijou suavemente.

Carolina se ergueu apressada para fugir da intensidade dos sentimentos que ela trazia à tona sempre que a beijava. Mesmo tendo decidido se entregar àqueles sentimentos, a dúvida ainda lhe assaltava como havia confessado a Maria mais cedo. Como a índia havia dito, o coração de Carla era negro e Carolina temia encontrar a costumeira frieza no azul dos olhos dela quando o dia raiasse e saíssem daquele quarto.

— Você deveria comer algo, não se alimentou o dia inteiro — recomendou, afastando tais pensamentos. — Coma algum dos sanduíches que Maria fez.

Carla a puxou de volta, carinhosa. Havia tanto a lhe dizer, mas as vezes sentia que as palavras nunca seriam suficientes. Havia, também, a dúvida sobre os sentimentos de Carolina. Não tinha receios quanto ao desejo que a moça lhe dedicava, mas seu coração apaixonado ansiava que fosse mais que aquilo. Mesmo assim, a felicidade que sentia era muito maior do que imaginou e decidiu aproveitar aqueles momentos, tirar deles o máximo, enquanto durassem.

— Tenho fome, — afirmou — mas não é de comida.

Percorreu seu pescoço com beijos lânguidos, insinuando as mãos por baixo da camiseta dela até alcançar o fecho do sutiã e Carolina liberou um suspiro satisfeito, sentindo a pele arder com o contato dos lábios dela.

Crimes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora