I
Carolina observou Tito e Maria conversarem por alguns minutos, junto ao portão. Ela estava sentada em um dos três degraus que antecediam a entrada da casa. Tinha uma xícara de café nas mãos e bebericava o líquido distraída. Em sua mente, um sem número de conjecturas giravam em meio as lembranças da noite de prazeres que havia compartilhado com Carla.
Ainda sentia os beijos dela queimando sua pele, o cheiro do seu corpo inebriando seus sentidos, o calor que ela emanava. Sentia tudo isso e mais um pouco e estas lembranças acabaram por inflamar o seu desejo de tê-la e ser dela outra vez.
Carla havia dito e repetido que a amava, seus olhos demonstravam isso, seus beijos reafirmavam suas palavras, mas Carolina ainda se questionava se era verdade. Mesmo reconhecendo que a queria, que as palavras e beijos dela a jogaram em um mar de êxtase e felicidade, não podia esquecer quem ela era.
Havia decidido, no dia anterior, se entregar àquele sentimento que a consumia sempre que suas safiras a encontravam, mas agora que o dia havia chegado e estavam distantes, conseguia pensar com mais clareza. Apesar do carinho, da chama em seu olhar, dos beijos e palavras, Carla ainda era uma criminosa e isso, como ela mesma havia lhe dito, jamais iria mudar.
Seu coração apaixonado ansiava por seu retorno para que tivessem a conversa sobre a qual lhe falou e que pudesse, finalmente, expor seus sentimentos, pensamentos e condições para prosseguirem com aquele romance.
O vento bagunçou seus cabelos lhe trazendo o aroma das rosas no jardim e lembranças do passado, dos momentos vividos ao lado de Bento, do carinho de sua mãe, dos sonhos que tinha de viver longe dali e ter uma vida pacata em um fim de mundo qualquer.
Agora se perguntava se Carla gostaria de dividir uma vida assim com ela.
II
— Não pode mais ignorar as evidências.
Marcos passeou o olhar pelos três rostos à sua frente se demorando mais que o necessário em cada um. O último era Santiago que mal conseguia disfarçar o sorriso de satisfação.
— O nome dela está nas ruas — Álvaro afirmou.
Ele se encontrava ao lado de Santiago e, ao contrário deste, era baixo e atarracado. Usava óculos escuros a fim de ocultar a cegueira de um dos olhos que era acentuada por uma feia cicatriz. A barba malfeita, dava-lhe um ar brutal e, pelo que sabia, ele realmente era.
Em outra época, havia sido um pistoleiro, um dos melhores que o dinheiro poderia comprar. Era um homem cruel e vingativo que foi muito bem recebido por seus associados na Colômbia e comandava o tráfico na fronteira com violência.
Junto à porta, Juliana Bedoya concordou com um inclinar de cabeça e enfiou as mãos no bolso do sobretudo que usava, apesar do calor que fazia naquele fim de tarde. Não tinha mais que um metro e sessenta de altura, os cabelos longos e negros estavam presos no alto de sua cabeça em um coque do qual não havia nenhum fio fora do lugar. Ela pousou seu olhar castanho e gélido em Marcos, enquanto falava com um sotaque peruano carregado, atropelando algumas palavras.
— Você é o chefe, Marcos. Mas, achamos que seu apreço por Carla o está cegando.
Marcos liberou a fumaça de seu charuto lentamente. Havia alguns dias, comentários lhe chegavam aos ouvidos sobre as drogas roubadas dele e de Joaquim, sobre Carla as estar distribuindo. A polícia desmontou duas de suas operações e apreendeu uma grande quantidade de sua droga, um duro golpe.
Os comentários eram apenas sussurros, que começaram a ganhar força e se repetiam como uma notícia concreta naquele momento.
Quando ele interpelou Carla a respeito, em seu encontro no alto daquele penhasco, ela lhe falou sobre isso e muito mais. Lhe falou que haveriam evidências físicas de sua traição e que, em breve, ele seria forçado a agir contra ela.
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Crimes do Amor
RomanceCarolina via em Carla Maciel apenas uma assassina, uma mulher linda e cruel a quem devia temer e aprendeu a odiar. No entanto, jamais seria capaz de imaginar a verdade que se escondia por trás de seus gestos e olhares frios, até que ela a "aprisiono...