Capítulo 35 - ADEUS, PASSADO!

356 75 58
                                    


Fico surpreso comigo mesmo por me lembrar tão bem do caminho até a casa dos pais de Júlia.

Paro em frente ao portão e preciso respirar fundo antes de apertar o botão do interfone. É difícil falar o que é preciso ser dito, mesmo quando se tem certeza das palavras.

Aperto. É a voz de Júlia quem pergunta quem é. É Antônio quem aparece abrindo o portão.

Estou tenso. Na verdade estou tenso desde que saí de casa, e de repente começo a pensar se realmente deveria fazer isso. Seria tão mais fácil apenas deixar passar.

Júlia está na sala de estar, esperando por nós dois.

— Eu sabia que você iria querer conversar com a gente!

Não, ela não sabia. Percebo de repente que não foi apenas os dois que mudaram durante todo esse tempo, eu mudei também. Talvez até mais do que eles. E embora as mudanças corporais estejam no pacote, a maior delas está na minha cabeça.

— Ei cara, desculpa se a gente... — Antônio começa a falar, mas eu o interrompo.

— Vocês se lembram que quando a gente ia para a lanchonete da escola, sempre conversávamos alto e adorávamos que as pessoas ficassem nos olhando e comentando sobre como estávamos sempre grudados? — Os dois balançam a cabeça positivamente. — Eu odeio isso hoje em dia, na verdade a possibilidade de que um monte de gente desconhecida possa estar me encarando me deixa aterrorizado.

— O que você está tentando dizer, José? — Júlia pergunta, ela sempre foi a mais curiosa, a mais ansiosa para que chegássemos aonde deveríamos chegar (isso quando não era ela que estava fazendo drama, é claro).

— Eu estou dizendo que eu mudei. Em um dia eu fui dormir, e quando acordei era uma pessoa totalmente diferente. E a pessoa que eu sou hoje não tem motivos para ficar com raiva de vocês dois por qualquer motivo que seja, eu não deveria cobrar a presença de vocês. Eu não deveria cobrar que parassem a vida de vocês por causa da minha, e eu não estou cobrando isso. Não mais.

— Eu pensei que nos culpasse pelo que aconteceu. — Antônio diz, ele fica tão estranho quando fica todo cauteloso ao usar as palavras.

— Não! Sinceramente eu nunca pensei nisso! Acho que eu estava sentindo raiva pelo que aconteceu antes do acidente. Sejamos sinceros, éramos jovens demais para entender o que um romance a três significa.

— Nós éramos ingênuos. — Júlia diz, e parece estar envergonhada.

— Eu deveria ter percebido que vocês dois se encaixam, e mesmo assim ainda estava lá insistindo. Mas quero que saiba que eu não os culpo por nada, a pessoa que eu era antes poderia sentir raiva por terem se afastado, mas eu não respondo mais por ela. Eu sou alguém novo e quero pedir desculpas por ter tratado vocês tão mal quando foram em minha casa.

— A gente também te deve desculpas. — Júlia fala, ela dá um passo à frente e segura minha mão.

— Nós queremos estar aqui por você cara, vamos tentar ser amigos melhores dessa vez. — Antônio diz.

Paro sorrindo para eles antes de dizer qualquer coisa. Nesse momento só consigo me lembrar das coisas boas que vivemos juntos.

O modo como nos conhecemos. A caminhada sem rumo durante o sábado que terminou em uma lanchonete. O meu primeiro beijo com um cara. O primeiro beijo em trio. A primeira vez que fiz sexo. O gato que Júlia me deu.

Meu Deus, aconteceu tanta coisa boa com a gente, eu realmente devo superar todos os sentimentos ruins. Eu estou vivo, eu tenho uma vida, o que adianta ter uma vida nova, uma nova chance para viver, se eu ficar puxando as coisas do passado comigo?

— Além de ser alguém diferente agora, eu tenho uma vida diferente. Vocês dois estão no mesmo momento, eu estou no momento que vocês viveram a mais de dois anos atrás. E sinceramente eu estou me encaixando muito bem.

Uma lágrima corre pelo rosto de Júlia. Solto sua mão e passo os dedos sobre sua bochecha.

— Vocês foram tão importantes para minha primeira vida, muito obrigado por tudo! Mas a principal coisa que vim falar com vocês hoje é "adeus". — Sorrio, e fico feliz porque não sinto vontade de chorar. Esse é um sorriso sincero. — Adeus, Júlia. Adeus, Antônio!

Júlia me puxa para um abraço e logo somos cobertos pelos braços de Antônio.

Minutos depois estou no Uber voltando para casa e fico pensando que todas as histórias deveriam terminar com uma oportunidade para se dizer adeus!

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora