Na última aula de matemática, estávamos todos ansiosos pela saída. A professora já passara todo conteúdo e nos liberou para conversar enquanto restavam alguns minutos para o sinal tocar. Resolvi não conversar com meus amigos, pois estava cansado por ter acordado cedo, e ainda teria que enfrentar novos problemas — não que a minha vida fosse problemática. Olhei ao redor e avistei meus colegas de sala rindo, fazendo bagunça, e aquilo me deixou agoniado por dentro. Queria ir para casa. Verifiquei o relógio. Faltavam poucos minutos para acabar a aula, mas foram minutos incessantes que pareciam eternos. Para mim, a escola é um ambiente que não tem fim enquanto se está no lado de dentro.
Após tanta espera, o som do sinal nos permitiu a liberdade de ir embora por algumas horas.
Fui em direção à frente da escola para entrar no ônibus escolar e finalmente ir para casa.
— Chendy... espera! — disse uma voz, pouco distante.
Provavelmente, a voz era de Jeny, minha colega de sala que pega o ônibus comigo todos os dias de aula. Assim que voltei os olhos para a pessoa que estava me chamando, consegui confirmar minha intuição.
— Oi. Você quer falar algo? — indaguei, curioso.
— Não. É que você estava tão quieto nessa última aula, posso saber o que houve? — disse ela, preocupada.
Respirei fundo. Caminhei até o ônibus e entramos juntos. Fiquei sem responder sua pergunta até nos sentarmos. Senti um constrangimento de minha parte por não respondê-la anteriormente. Desviei o olhar para a janela.
— Não aconteceu nada — justifiquei, meio atrasado.
Sua expressão de desconfiança me deixou preocupado. Ela sentou-se ao meu lado sem persistir no assunto. Aproveitei o momento para refletir sobre meu dia. Lembrei do tempo que restava para a formatura. Isso sim me deixava nervoso. Não deveria me preocupar com isso, afinal de contas, ainda estou no primeiro ano do ensino médio, mas sempre procuro me adiantar em tudo — literalmente. Acredito ser estranho ter mudado de um dia para o outro, apesar de nunca ter sido assim tão quieto e pensativo como recentemente. Talvez minha mudança repentina tenha causado um certo impacto em meus colegas, mas o importante é que me sinto bem desse jeito — ou não.
⛰️🚗🏖
Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi deitar no sofá da sala para descansar, e percebi que estava sozinho. Meus pais estavam trabalhando e minha irmã procurando emprego. Liguei a televisão para tentar desviar os pensamentos indevidos de minha cabeça. Decidi assistir ao noticiário. Apesar de não gostar muito deste tipo de programação, tive que me contentar com algo. Inesperadamente, Marcely — minha irmã — chegou em casa.
— Olá! Tem alguém em casa? — indagou ela. Marcely me avistou na sala e veio em minha direção demonstrando entusiasmo. — Oi. Como foi na escola?
Fiquei surpreso com seu questionamento sobre minha manhã.
— Foi legal... mas parecia que não ia acabar nunca... então...
Ela fitou meu cenho desajeitado. Ocorreu um breve silêncio e, de modo espontâneo, seu entusiasmo contagiou o ambiente.
— Vou preparar algo para comer — disse ela. — Você quer?
Demonstrei seriedade.
— O que você acha? — questionei, de modo sarcástico.
Marcely esbanjou um sorriso esplêndido de orelha a orelha e seguiu para a cozinha. Me encostei sobre o sofá, aliviado. Fechei os olhos e senti uma energia boa perante o momento presenciado.
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Toques Invisíveis
RomansaChendy é um adolescente que mora no Rio de Janeiro com os pais e a irmã. Certa noite, seus pais chegam em casa do trabalho com uma novidade não muito agradável. Eles conseguiram uma transferência no emprego e estão prestes a voltar a morar em Floria...