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Meu pé bate no chão freneticamente, é um tique nervoso de ansiedade enquanto encaro o número vermelho no visor subindo, subindo, subindo. Ninguém anunciou, mas eu sei que é Pedro, simplesmente posso sentir a sua presença se aproximando, como as nuvens de chuva escurecendo o céu de Los Angeles no fim da tarde.

O elevador é lento como uma tortura. Quando a porta de aço finalmente abre, eu desejo que estivesse errada, mas não estou.

— E daí, tiete? — O apelido sai com o tom de uma provocação proposital.

Ele se debruça no balcão e tira os óculos escuros para piscar pra mim. Meu coração dá uma pirueta no peito. Fica tão bonito olhando desse ângulo, que chega a causar ódio. Ele quer falar sobre "jogo sujo" em suas canções? Pois esse sorriso de dentes brancos é o que é jogo sujo.

— Oi, Pedro. — Forçando descaso, foco os olhos no descanso de tela do computador. Por acaso (ou não) uma foto da banda dele, o que não ajuda muito.

— Você parece cansada... não dormiu bem?

Um belo elogio, hein, senhor galanteador? Devo dizer obrigada?

— Maravilhosamente. — Esboço um sorriso irritadiço.

— Não parece. De repente faltou uma companhia — provoca.

HÁ! Enquanto eu me mordo de ansiedade, preocupada com a bagunça que as nossas fotos causaram, ele dormiu com a cabeça tranquila no travesseiro, e nem lembrou que ele prometeu resolver o problema.

— Sabe o que eu realmente gosto?  — O encaro, sem dar tempo para resposta. — De ter o espaço da minha cama todinho pra mim.

— Isso é porque você deve ter dividido a cama com todas as pessoas erradas.

Viro os olhos. Tá legal, não é porque a gente ficou uma vez que eu sou obrigada a tolerar esse ego inflado e sua síndrome de superioridade. Ele nem vai tentar se justificar pela promessa quebrada?

— Diz isso com toda sua experiência em ter falsas namoradas e falsas noites na cama com elas?

— Não. — Ele revira os olhos. — Digo isso com toda a minha experiência em saber que quando você diz uma coisa é porque quer dizer justamente o contrário. Como quando disse que me odiava, ainda lembra disso?

Sinto o rubor tomar o meu rosto. Ele está insinuando que eu queria dizer que o amava? Porque não é assim que eu me sinto. Esse batimento acelerado e o fogo se espalhando na pele é atração sexual, isso eu não posso negar, mas amá-lo? Esse erro eu não cometeria uma segunda vez.

— De qualquer jeito... — Pedro retoma. — Se estiver a fim de testar, já aviso que eu não ronco, não sou muito espaçoso e eu costumo dormir pelado. Quero dizer, de cueca, não totalmente pelado... a menos que você faça muita questão.

A imagem de Pedro Lucas gloriosamente sem roupa, com cada uma de suas tatuagens expostas para o meu bel deleite arromba as portas da minha mente, e eu preciso sacudir a cabeça para espantá-la.

— Por que a gente não testa uma coisa diferente, tipo eu voltar pro meu trabalho e você entrar logo na sua reunião com o Ian.

Ele faz uma careta.

— As encrencas em que você me mete.

— Eu?! — digo num sobressalto. Toda maconha que fumou na vida deve ter afetado a memória. — O que aconteceu com o "relaxa, eu vou dar um jeito de encobrir os rastros", senhor promessas quebradas?

— Do que tá falando? Eu encobri muito bem— garante. — Inclusive, paguei alguns milhares de dólares pelas fotos que mostravam seu rosto. Exceto pelo Ian, ninguém mais sabe que você estava lá então... você tá de boa, a mídia não vai te caçar como uma gazela. Eu, por outro lado, continuo bem encrencado.

Ninguém mais que nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora