Calafrio

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Henry é um jovem branco de 16 anos, tem poucos amigos e gosta de pedalar pela madrugada, já que sofre de insônia e é depressivo por saber que tem uma séria doença, um tumor cerebral em estado avançado. 

Coincidentemente madrugada de 31 de outubro, 2 horas da manhã.

Henry, como de costume, pedala nas ruas tranquilas próximas ao condomínio onde mora. Ao passar por uma praça, bem cuidada, por sinal, resolve dar uma parada e sentar-se no banco. Ficou minutos parado observando a praça pensando – Madrugada... Como a calmaria de um oceano a céu estrelado... Uma suave brisa desgrenhava seus cabelos e tocava seu rosto. Ele então fechou os olhos e relaxou aproveitando o silêncio que só a madrugada pode trazer... Uma coisa que ele ama é a paz que a madrugada traz. Alguns minutos depois, ele abre os olhos e ao suspirar observa um gato próximo sentado em cima da mesa, uma daquelas para jogos de damas e xadrez tradicionais em praças públicas. Ele olha para o gato achando engraçada a maneira como o gato olhava fixamente em sua direção mexendo a cauda de um lado para o outro... Ele então chama o gato mas o animal continuava a olhar em sua direção ignorando-o. Então se levanta e vai até a mesa e se senta no banquinho debruçando-se sobre a mesa, o gato vira a cabeça vagarosamente para ele e fica o encarando... Henry estende a mão devagar e alisa o gato que por sua vez fez um grunhido e começou a ronronar permitindo que ele o alisasse. Um barulho alto vindo da rua atrás fez com que ele olhasse procurando o que fizera tamanho estrondo, era um caminhão passando próximo. Quando olha para frente o gato ele não está mais na mesa. Ele se levanta e quando olha em direção a sua bicicleta vê uma pessoa sentada no lugar onde estava anteriormente, fica tenso, mas vai em direção a sua bicicleta. Era um homem de pele branca de cabelos brancos na altura dos ombros, tinha olhos azuis e um bigode branco e vestido completamente de preto. Ele passa pelo homem e percebe que é um idoso e o cumprimenta em voz baixa mas sem o encarar - Boa noite. – Disse Henry.
- Boa noite, jovem amante da madrugada! Não devia passar a mão em animais de rua... –Como? Era só um gatinho querendo um pouco de carinho. Interrompeu Henry. - Seja mais cauteloso da próxima vez. Nem tudo é o que parece...
– Do que o Senhor está falando?
Henry achando que o homem era louco começa a caminhar deixando-o para trás pensando "que velho doido, o que ele quis dizer, vai pegar alguma doença? Velho doido". Mas ele fica intrigado e volta pra falar com homem. Ao se aproximar o senhor diz
– Sente-se aqui, jovem. Vamos conversar um pouco. Eu assim como você sou amante da madrugada. Ela passa uma paz, feito o oceano em céu de noite estrelado. Essa brisa... que delícia... Mas, pergunte-me, jovem dos cabelos bonitos...
Henry vendo que ele não apresentava risco algum, senta ao seu lado e pergunta: 
– O senhor, como o senhor sabe que gosto da noite?
- Ora meu jovem, eu o vejo passar todos os dias pedalando por aqui nesse mesmo horário, ou melhor, todas as noites...
– Mas eu sempre passo por aqui e nunca vi o senhor e sempre sento num dos bancos da praça. Nunca vi o senhor aqui...- Respondeu Henry confuso.
-É porque eu não fico na praça, sempre passo caminhando. Apesar de meus 78 anos, tenho uma saúde de ferro! Tenho os ossos de um garotão de 60 anos... – brincou o senhor
- Como o senhor se chama? - Perguntou Henry
- Túlio. Mas pode me chamar de seu Terra...
– prazer, seu terra. Eu sou Henry.
- Eu sei... - Afirma com ênfase.
Durante a conversa, Henry observou que o seu Terra vestia roupas pretas sem nenhum tipo de estampa, ao lado dele um casaco também preto dobrado. Ele estava gostando de conversar com seu Terra. De repente seu Terra vira para Henry e diz:
- minha nossa! Já ia perdendo a hora...
– O senhor já vai? – Perguntou Henry surpreso e triste.
– Desculpe-me jovem. Preciso ir. Tenho que trabalhar...
- Nossa! O senhor ainda trabalha!? Imaginei que fosse aposentado... Já sei... O senhor é padre! Pergunta surpreso e tristonho ao mesmo tempo.
– Jamais me aposentarei, trabalharei eternamente, meu jovem Henry. Já de pé responde com ênfase. - Nem tudo é o que parece... Tenha mais cuidado. Agora preciso ir. O carro está chegando... - completa.
- Quando o senhor vai aparecer de novo?
- Seu Terra andando responde:
- Infelizmente em logo, logo... -diz em tom de desapontamento e então dobra a esquina.
Henry fica pensando: Que estranho? Por que infelizmente? Sou tão chato assim? E uma pessoa nessa idade ainda trabalhar? Pelo menos tem bom gosto para roupas, apesar de ser meio assustador... E aquele sobretudo? Nossa! Eu penei que fosse um casaco...
 Ao se virar pra ir embora, Henry vê um papel no banco escrito: Procure seu Neurologista.

No dia seguinte durante o café ele escuta sua mãe falando com sua irmã: Você soube do atropelamento na avenida? Dois adolescentes morreram bem ali na pista principal, atrás da praça. Foi horrível! Foram atropelados por um carro. Disseram que o carro vinha em alta velocidade e desviou de um idoso que atravessava a rua e acabou atropelando os meninos na calçada.

CalafrioWhere stories live. Discover now