Máfias.

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"Nos deixe ir!" – Eu disse – "Seu problema não é connosco."

"Vocês são filhos dele, ou seja, o problema também é vosso." – Disse tio António – "Mas eu não tenho nada contra vocês. Não, não... Pelo contrário..." – Ele me agarrou pelo pescoço – "Eu até gosto bastante de vocês..."

"Tio, não faça isso..." – Disse Manuel.

"Cale a boca seu merdinha!" – Disse tio António – "Devia ter ganhado a coragem de seus irmãos e ter ido embora assim que pensou que sua irmã morreu ao invés de se manter ao lado da bosta de pai que tem."

Manuel olhou para o chão e depois fechou os olhos.

"Vocês..." – Continuou meu tio – "Vocês deviam nunca ter voltado para aqui. Deviam nunca ter olhado para trás nem tentar destruir o negócio da família."

Olhei para Yuri, que estava olhando para o nosso tio sem algum tipo de expressão e Manuel olhou para nós e ficou boquiaberto.

"Isso mesmo. Eu sei." – Disse tio António – "Fui eu quem alvejou aquele vosso amiguinho que já deve estar morto."

"Isso é verdade?" – Perguntou Manuel.

"Agora não, Manuel." – Disse Yuri.

"Me responda seu-" – Manuel disse enquanto se aproximava de Yuri e Yuri o cortou.

"Cale a boca!" – Disse gritando. Yuri nunca gritava – "Não é hora para dar uma de valentão. Não está vendo que por causa do seu pai que tanto admira nós vamos morrer? O mínimo que pode fazer é se calar, por favor."

Todos olhamos para Yuri sem conseguir dizer uma palavra sequer.

"E você..." – Continuou se virando para tio António e andando para ele – "...você se acha muito assustador, não é? Bom, saiba que eu não sinto medo de você. Eu não me importo que tenha me torturado com brasas durante anos..." – Me engasguei – "...nem que tenha morto Paloma à minha frente. Você não é nada comparado comigo, entendeu?"

Nas últimas palavras, Yuri estava cara a cara com tio António e tinha se transformado em alguém completamente diferente. Yuri era conhecido por falar pouco, se mexer pouco e quase nunca sentir. Não sentia dor e raramente sorria de alegria. Quando se irritava, se afastava de tudo e todos durante um bom tempo e, quando voltasse, voltava mais fechado que já era.

Eu era a única pessoa a quem ele confiava mas mesmo assim não sabia nada sobre as brasas nem sobre a tal Paloma.

E, tal como eu, Manuel e Tio António estavam mortificados por vê-lo assim. Havia raiva em seus olhos. Raiva pura e sangrenta...

"Paloma...?" – Sussurrei.

"Agora, saia da frente." – Disse Yuri e Tio António se afastou – "Sabe que não pode nos seguir."

Tio António simplesmente desviou o olhar e olhou de volta para Yuri com fogo nos olhos. Mesmo assim, o fogo de seus olhos não se comparava ao fogo dos olhos de Yuri.

Yuri virou para mim e eu me assustei e olhei para baixo.

"Quem é você...?" – Sussurrei. Ele se virou e começou a andar.

Manuel segurou a minha mão e começou a andar também. Levantei a cabeça e avistei um carro que parecia estar esperando por nós. Yuri entrou no lado do passageiro enquanto eu e Manuel nos sentamos atrás. Olhei para o motorista e vi Travis.

"Meu..." – Eu disse – "Como é possível?"

Yuri olhou para mim e, outra vez, me assustei, apertando a mão de Manuel.

"Ainda faltam 4 vidas para eu morrer." – Disse Travis sorrindo.

"Você está bem?" – Sussurrou Manuel na minha orelha.

"Sim. Claro..." – Eu disse e larguei a mão dele – "Simplesmente não estou entendendo algumas coisas..."

Ouvindo isso, Travis parou o carro e Yuri disse "Manuel, venha conduzir.".

Manuel sem protestar se levantou e foi conduzir enquanto Travis se sentou ao meu lado.

"O que quer saber?" – Travis perguntou calmamente.

"Quem é Paloma? E como saiu dali vivo? E... quem... quem é ele?" – Eu disse, me virando para Yuri no fim da frase.

Travis colocou a mão no meu queixo e virou minha cabeça para ele.

"Paloma foi esposa de seu irmão." – Disse Travis enquanto segurou minhas mãos.

"Yuri foi casado?!"

"Sim, foi."

"E meu tio a matou..."

"Exactamente."

"Quando foi isso?"

"Há três anos." – Respondeu Yuri.

"O que aconteceu?" – Perguntei e Manuel olhou para mim pelo espelho como quem diz "não faça isso".

"Ele descobriu sobre o que faço e tentou me parar."

"E o que você faz?"

"Não é o melhor momento Malu..." – Disse Travis.

"Então não vou saber quem ele é." – Eu disse.

"Você sabe quem eu sou." – Disse Yuri.

"Não. Eu não sei quem você é. Eu nunca sentiria medo do meu irmão. Nunca."

"Malu." – Disse Travis.

"O que foi?!" – Perguntei e senti o carro parar.

"Desça." – Disse Yuri. Concentrei meu olhar nele e depois olhei para o carro que estava na distância.

Yuri olhou também e disse para nos baixarmos. Assim o fiz e vários tiros foram disparados. Quando parei de ouvir tiros, a porta do meu lado se abriu e alguém me puxou. Senti a mão de Travis em meus tornozelos mas ele não conseguiu me agarrar.

De um momento para outro, estava no chão, coberta de areia. Olhei para cima e vi um homem com máscara de esqui preta segurando uma M16 . Olhei de lado e vi vários outros com máscaras de cores diferentes, alguns segurando AK-47 e outros M16 também.

Eles falavam italiano e eu não consegui entender nada que disseram. Me colocaram dentro de um carro preto e conduziram para Este. Com Yuri, estava indo para Sul. Enquanto no carro, ninguém falou comigo nem me tocou. Eu também não tive coragem de perguntar o que estava se passando, simplesmente fiquei chorando em silêncio.

Quando o carro parou, eles me tiraram de lá e me atiraram para o chão, indo embora logo em seguida.

Levantei a minha cabeça e dei um pulo gigantesco para trás ao ver quem era.

GONZAGA (Não editado)Onde histórias criam vida. Descubra agora